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Pesquisas, rejeição e crise econômica: as razões que tiraram Macri da corrida presidencial

Ex-presidente renunciou à candidatura para eleições de outubro de 2023. Fato mexe no tabuleiro político à direita e à esquerda na Argentina
Werner Perto
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

O ex-presidente argentino Mauricio Macri anunciou que não será candidato. Tecnicamente, nunca se candidatou, mas o ex-presidente mantinha o suspense sobre o que faria este ano. 

Finalmente, no domingo (26), gravou um vídeo de seis minutos para fazer sua própria renúncia histórica. Na verdade, as pesquisas o davam como perdedor e nunca teve chance de competir.

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Mas o ex-presidente procurou apresentar sua decisão como um gesto magnânimo e o resto de seus adversários internos comemorou por dentro, enquanto para fora destacavam seu altruísmo e desinteresse. Tudo fachada. 

Na prática, excluído Macri, a disputa interna entre Horacio Rodríguez Larreta e Patricia Bullrich será intensificada, com María Eugenia Vidal tentando intervir. 

Os radicais também comemoraram e agora esperam que ele se cale e não complique a campanha. Coisa que Macri não fará: o ex-presidente buscará continuar interferindo em todas as decisões, incluindo a sucessão portenha, onde tenta que nos próximos dias Jorge Macri [seu primo e ministro da Cidade de Buenos Aires] seja o único candidato do PRO. No oficialismo, a decisão teve seu impacto e todos os setores argumentaram que o outro deveria tomá-la como exemplo.

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Há muito tempo que Macri vinha esperando que as pesquisas se revertessem para ver se era possível lançar sua candidatura. Por isso, seguia se movendo como um candidato, embora não o fosse. 

O certo é que foi como esperar por Godot. Não havia um cenário onde a imagem negativa não pesasse em uma disputa e seus oponentes internos sabiam disso. Por isso, a maioria dos opositores descartava que ele fosse candidato.

Ex-presidente renunciou à candidatura para eleições de outubro de 2023. Fato mexe no tabuleiro político à direita e à esquerda na Argentina

Flickr
Decisão de Macri reorganiza vários tabuleiros ao mesmo tempo

Além disso, como o jornal Página/12 noticiou, foram se acumulando sinais nesse sentido: seu círculo mais próximo, em vez de trabalhar em sua candidatura, já estava trabalhando para outras pré-candidatas do PRO, dirigentes próximos como Néstor Grindetti já haviam anunciado sua adesão a outra candidata.

O certo é que a decisão de Macri reorganiza vários tabuleiros ao mesmo tempo: no Juntos pelo Cambio [Mudança], dá certeza a duas das candidatas do PRO (Bullrich e Vidal) de que não terão que retirar suas candidaturas e dá clareza aos radicais sobre qual é o adversário a vencer nas PASO [prévias, Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias]. 

No [partido governista] Frente de Todos, a decisão também teve impacto: no albertismo já sugeriram que Cristina Fernández de Kirchner deveria seguir o mesmo caminho que Macri, enquanto no kirchnerismo opinaram… que Alberto Fernández poderia imitá-lo.


A mensagem

Não está claro se foi de propósito ou não, mas a mensagem de Macri parecia imitar a de CFK em 2019, quando anunciou que renunciava à sua candidatura e que ia ser vice de Alberto Fernández.

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Nesse caso, no entanto, só foi divulgada a renúncia, sem apoio explícito a nenhum dos dirigentes do PRO. “Quero ratificar a decisão de que não serei candidato na próxima eleição. Faço isso convencido de que há que ampliar o espaço político da mudança. Vou continuar defendendo a liberdade”, afirmou Macri, que depois atirou um dardo no atual mandatário: “Nunca mais teremos uma marionete como presidente”.

Segundo dizem em seu entorno, Macri quis dizer com isso que não exercerá pressões nem condicionará o próximo governo “como fez CFK com o atual”. Não é certo que isso coincida com a vontade que o ex-presidente continua a mostrar de interferir em cada decisão, até mesmo em uma disputa interna em Salta, no noroeste do país.

“Este tempo escuro já começou a terminar. Sinto isso no coração. Sei que milhões de pessoas têm o desejo de que voltemos a trabalhar juntos. Uma direção que foi interrompida tristemente em 2019”, voltou sobre sua ferida não resolvida de ter perdido as PASO de 2019. Até mencionou as marchas do “Sí, se puede”.

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Macri atacou os líderes messiânicos e até fez uma comparação com a Copa do Mundo: “Não ganhou o líder, ganhou a equipe”. “Me ouviram mil vezes falar do valor da competição”, disse sobre as PASO. E houve uma mensagem que parecia destinada a evitar a fuga de votos para Javier Milei: “Em situações difíceis, saímos logo à procura de uma personalidade messiânica, que nos dê segurança”.

Essa fuga é uma das que mais preocupavam os dirigentes do Juntos por el Cambio, e pela qual Macri vinha tendo uma pressão crescente para definir de uma vez sua candidatura. Ele o fez, inclusive, antes do que pretendia: Macri tinha pensado em estender a decisão até abril ou maio. 

Na aceleração do momento do anúncio, segundo contam no PRO, pesou um argumento: com a economia em chamas e um governo que se mostra desorganizado, era conveniente que a oposição comece a mostrar certezas. A parte que preferem ignorar: nem este mês, nem em abril nem em maio as pesquisas mudariam para Macri. Perderia em todos os casos.

Werner Pertot | Página/12
Tradução: Vanessa Martina Silva


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Werner Perto

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