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Poder Público negligencia moradias em áreas de risco e ignora dados científicos

O professor Pedro Luiz Côrtes relembra que ninguém ocupa essas regiões porque gosta ou porque quer, mas sim por falta de opção
Redação Jornal da USP
Jornal da USP
São Paulo (SP)

Tradução:

Nos últimos dias, a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, sofreu com chuvas intensas e desmoronamentos. A tragédia representa mais um caso em que as mudanças climáticas afetam drasticamente uma parte do Brasil. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, analisa os impactos  do desastre. 

Na visão do professor, a tragédia que acometeu Petrópolis foi uma tragédia anunciada: “Em 2017 foi divulgado o plano anual de redução de riscos, onde apontava que 18% da área do município, cerca de 15 mil casas na região central, estava situada em região de risco. Havia a sugestão para a realização de uma série de obras, como a contenção de encostas, desassoreamento de rios, reflorestamento de encostas, remoção das populações em área de risco e absolutamente nada foi feito nos últimos cinco anos”. 

A situação poderia ter sido evitada se as autoridades tivessem utilizado os dados que tinham à disposição. Mas nem mesmo de forma emergencial atitudes foram tomadas. “Isso poderia ter sido resolvido, principalmente em relação à remoção das populações carentes que moram em área de risco.

O professor Pedro Luiz Côrtes relembra que ninguém ocupa essas regiões porque gosta ou porque quer, mas sim por falta de opção

Foto: Flickr
A situação poderia ter sido evitada se as autoridades tivessem utilizado os dados que tinham à disposição

Ninguém vai para uma área de risco porque gosta

O que eu costumo dizer é que ninguém vai para uma área de risco porque gosta ou porque quer, vai por falta de opção, então isso tem que estar atrelado a uma política habitacional. Se o município não tem condições de fazer isso, ele tem que correr atrás de verbas para fazer, houve tempo para isso, e absolutamente nada foi feito. As populações continuaram morando em áreas de risco e o município simplesmente não criou condições para que essas pessoas saíssem de lá”, atesta Côrtes.

Segundo Côrtes, ninguém vai para uma área de risco porque gosta ou porque quer, vai por falta de opção de moradia – Foto: Flickr 

Os impactos são enormes, ainda mais quando atitudes preventivas não são tomadas. De acordo com o professor: “A cultura da prevenção não é disseminada. Nós temos muito a cultura da reação aos eventos, ou seja, uma vez a tragédia acontecendo, vamos tentar salvar as pessoas e liberar as áreas.”

As cenas vistas na última semana preocupam. “Verificando as imagens que são apresentadas, eu concluo que é uma situação pior do que um terremoto, porque num terremoto ainda é possível encontrar pessoas vivas nos escombros alguns dias depois, nessa situação é praticamente impossível, porque a pessoa não tem espaço para respirar”, comenta Côrtes.

Um novo contexto climático se impõe e necessita de mais atenção. Para o professor, “as autoridades precisam acordar para isso. A mudança climática não é uma suposição,  já é uma realidade. Nós estamos lidando com as consequências; ao contrário do que dizem os negacionistas – que isso é um complô internacional.

Na verdade, os primeiros estudos científicos publicados sobre mudanças climáticas relacionados ao aumento dos gases de efeito estufa remontam ao início dos anos 70, ou seja, há mais de 50 anos se pesquisa esse tema e o volume de trabalhos só vem crescendo, demonstrando efetivamente que essa é uma realidade que se impõe de uma maneira muito grande”.

Para conhecer mais sobre o trabalho do professor Pedro Luiz Côrtes, confira o seu canal no YouTube: O ambiente é o nosso meio.

RÁDIO USP


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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