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Protestos na França: movimento sindical ganha cada vez mais força, prestígio e seguidores

Manifestações na última segunda-feira (1) levaram mais de 2,3 milhões de franceses às ruas, a maior marca do século 21 no país
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

A França viveu nesta segunda-feira (1) uma jornada de mobilização e “cólera social” como uma comemoração histórica do Primeiro de Maio, na qual houve mais de dois milhões e trezentas mil pessoas, segundo os sindicatos, e 782 mil, segundo o ministério do Interior, manifestando-se nas ruas de todo o país contra a política neoliberal de Emmanuel Macron e seu plano de reforma do sistema público de aposentadoria.

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Não havia registro de um protesto tão massivo no Dia do Trabalho desde o ano de 2002, que foi similar. Como sucede desde 16 de março, quando Macron decidiu adotar por decreto sua reforma que atrasa a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030, as marchas registraram choques entre a polícia e manifestantes radicais em Paris e outras cidades, informaram meios de imprensa.

O descontentamento e o mal-estar social também se expressaram de forma massiva e contundente em outros países europeus, como Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha, onde se escutou um mesmo clamor: que a inflação não continue afogando a classe trabalhadora pela perda de poder aquisitivo constante e sem trégua desde o ano passado.

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Os sindicatos franceses e centenas de milhares de jovens e cidadãos indignados tomaram de novo as ruas das principais cidades da França. Tratou-se da 13ª convocatória de greve geral e paralizações trabalhistas massivas no país desde janeiro passado, quando foram conhecidos os planos do governo de Macron para reformar o sistema de aposentadoria e aumentar em dois anos a idade para aposentadoria, e incrementar um ano de cotização para converter-se em pensionados, de 42 para 43.

Os agrupamentos sindicais converteram este Primeiro de Maio em um novo dia da “cólera social”, com mais de 300 atos de protesto nas principais cidades, como Paris, onde houve mais de 550 mil, segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), e 117 mil, segundo a prefeitura de polícia da capital francesa. As mobilizações se repetiram em Lyon, Nantes, Rennes, Marselha, Burdeos, Montpelier, Toulouse, Lille e Dijon, entre outras.

Manifestações na última segunda-feira (1) levaram mais de 2,3 milhões de franceses às ruas, a maior marca do século 21 no país

Reprodução @tamilatapayeva/Twitter
Os líderes sindicais franceses coincidiram que a mobilização supunha “uma das mais importantes da história”

Os protestos desta jornada mostraram a força do movimento sindical francês, que ganhou prestígio e seguidores. No ano passado, quando ainda não eram conhecidos os planos de Macron, nas manifestações do Dia do Trabalho unicamente saíram para as ruas aproximadamente 116 mil pessoas, frente às mais de dois milhões e 300 mil neste ano. Portanto, este é o protesto mais multitudinário do século 21 na França. Em 2002, mais de um milhão de cidadãos rechaçaram o discurso ultradireitista de Jean Marie Le Pen, que poucos dias antes havia se convertido em uma das aspirantes à presidência do país, em 2002.

Assim como nas jornadas de luta precedentes, a polícia reprimiu. O ministério do Interior dispôs até 12 mil agentes no território, dos quais cinco mil em Paris. E de novo houve numerosas cenas de enfrentamentos e lutas nas ruas, com os agentes franceses usando gás lacrimogêneo e força física.

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Os líderes sindicais franceses coincidiram que a mobilização supunha “uma das mais importantes da história”, segundo palavras da secretária-geral da CGT, Sophie Binet, a qual além disso advertiu: “não baixaremos os braços e seguiremos na luta”. 

O líder da plataforma sindical Confederação Francesa Democrático do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, coincidiu na valorização, ao asseverar que “é um grande 1º de maio. Não é o final da luta, é o protesto do mundo do trabalho contra esta reforma. Tomamos nota da promulgação da reforma, mas não a aceitamos. Ainda dispomos de mecanismos para nos opor”.

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Com gritos de “Macron, demissão” e de repúdio à reforma trabalhista, a maioria dos manifestantes expressaram seu rechaço de forma pacífica nas ruas, mas também houve alguns coletivos que atacaram a polícia com coquetéis molotov e arremeteram com pedras e tinta contra alguns edifícios e lojas de luxo, sobretudo em Paris. Na Praça da Nação, houve um incêndio perto de um edifício em obras, que rapidamente foi apagado. Além disso, um manifestante sofreu feridas graves em uma mão em Nantes e aproximadamente 2 mil pessoas ocuparam durante algumas horas um hotel de luxo em Marselha.

Os dados provisórios das detenções eram de 292 aproximadamente às 10h da noite.

 

Medida regressiva na Itália

No meio das reivindicações da classe trabalhadora na Europa e no mundo, o governo da Itália, da ultradireitista Giorgio Meloni, anunciou um plano com o qual pretende aprovar por decreto uma reforma trabalhista parcial sem o consenso das partes implicadas e liquidar a renda cidadã que foi instaurada pelo Governo do Movimento 5 Estrelas. 

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O plano contempla reformas relacionadas ao mercado de trabalho e aos tipos de contrato. A iniciativa ativou ainda mais os alertas dos sindicatos italianos que aproveitaram para mobilizar-se de forma massiva em Roma e nas cidades principais. 

No norte de Turim, os manifestantes antigovernamentais desfilaram com um boneco de Meloni levantando o braço em sinal de saudação fascista, enquanto em Roma se efetuou um concerto ao ar livre organizado pelos sindicatos, uma tradição do Dia do Trabalho italiano. 

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A Alemanha também foi cenário de protestos, nas quais quase 300 mil pessoas, segundo os sindicatos, reclamaram nas principais cidades do país que se compense à classe trabalhadora com um aumento salarial de acordo com a espiral inflacionária. Por isso, fizeram um apelo à classe patronal para que se sente para negociar os contratos coletivos de forma justa e de acordo com a situação atual. 

“Há que lutar pelo progresso social. Por si só e de maneira claramente racional, no mundo laboral ou contra a mudança climática”, assegurou Yasmin Fahimi, presidenta da Federação Alemã de Sindicatos (DGB). 

Na Espanha os sindicatos também se mobilizaram, com uma resposta mais discreta por parte dos filiados. Calcula-se que saíram às ruas pelo menos 10 mil pessoas em todo o país, segundo o governo espanhol, e o fizeram também para reclamar às agrupações patronais um novo contrato coletivo que mitigue a perda de poder aquisitivo.

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No Reino Unido, seguiram as mobilizações dos trabalhadores do setor público, entre eles os do setor de saúde e os enfermeiros, que também reclamaram o ajuste de seus salários em função do aumento do custo de vida. 

Na Suíça, um desfile por Zurique se desenvolveu sem incidentes graves, segundo informou a polícia, informou a Reuters.

Como em anos anteriores, a polícia na Turquia impediu que um grupo de manifestantes chegassem à praça principal de Istambul, Taksim, e deteve uma dúzia de manifestantes, segundo a televisão independente Sozcu, informou a AP.

Armando G. Tejeda | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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