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ToggleO titular do Kremlin, Vladimir Putin, na última sexta-feira (7) voltou a enfatizar o risco que correm os países da Europa que não apenas fornecem seus armamentos, mas também autorizam a Ucrânia a usá-los contra alvos no interior da Rússia – o que obrigaria Moscou a usar suas armas nucleares táticas.
Ao participar na sessão plenária do Fórum Econômico de São Petersburgo, transmitida ao vivo pelo canal de televisão Rossiya-24, o presidente da Rússia afirmou: “Se chegarmos, que Deus não permita, a trocar golpes nucleares, todos devem entender que a Rússia tem um sistema de alerta precoce de ataques atômicos. Os Estados Unidos também têm. Ninguém mais no mundo tem um sistema tão desenvolvido. A Europa não tem e, nesse sentido, é mais vulnerável”. O Fórum Econômico de São Petersburgo foi realizado de 5 a 8 de junho.
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O presidente russo disse que suas armas nucleares táticas são três ou quatro vezes mais devastadoras que as bombas lançadas pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki. Lembrou que, também em termos quantitativos, a Rússia tem um arsenal muito superior aos que existem na Europa (na Grã-Bretanha e na França).
Por isso, agregou: “mesmo se os Estados Unidos transferirem (para o Velho Continente) parte de seu armamento, os europeus teriam muito sobre o que refletir. Mesmo se aqueles com quem trocamos golpes nucleares deixarem de existir, os americanos se arriscariam a se envolver em uma troca de golpes já com armamento estratégico? Eu duvido muito”.
Uso de armas nucleares só em casos excepcionais
Putin sublinhou que Moscou nunca iniciou uma escalada da retórica nuclear, em alusão à ex-ministra britânica, Liz Truss, que disse em 2022 que não hesitaria em usar armas nucleares em caso de necessidade.
“Nós nunca dissemos isso nem estamos brandindo as armas nucleares. Temos uma doutrina que estabelece que o uso desse tipo de arma só é possível em casos excepcionais quando houver uma ameaça à soberania e integridade territorial do país. Considero que ainda não chegamos a esse extremo”, acrescentou.
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“Nós usaremos em casos excepcionais quando existir uma ameaça à soberania e integridade territorial do país. Considero que não chegou nesse extremo”, agregou. O mandatário russo também respondeu a uma pergunta sobre se a Rússia estaria disposta a usar suas armas nucleares táticas na Ucrânia. “Utilizar esse tipo de armamento poderia acelerar a solução das tarefas da operação militar especial (denominação oficial da campanha bélica no país vizinho eslavo), mas seria diretamente proporcional às perdas. Eu parto das recomendações do estado-maior e do Ministério da Defesa, que sustentam que a rapidez é importante, mas a vida e a saúde dos militares russos são mais.”
Insistiu: “Estou convencido de que não teremos que chegar a isso (o uso das armas nucleares táticas na Ucrânia), não há necessidade, nosso exército adquire cada vez mais experiência e a indústria militar demonstra seu eficiente funcionamento.”
“Nem pensamos nessa possibilidade”
Por isso, Putin pediu ao moderador, Serguei Karaganov (politólogo que publicamente pediu o uso de armas nucleares táticas de modo preventivo): “Nós nem sequer pensamos nessa possibilidade, por favor, eu agradeceria a todos se parassem de mencionar a todo momento esse tema.”
O chefe do Kremlin da mesma forma precisou que, por ora, a Rússia não tem nenhum plano concreto para proporcionar seu armamento de longo alcance a “países ou estruturas legais” que sofrem pressões, incluindo de tipo militar, de países europeus da aliança norte-atlântica que armam a Ucrânia e propõem lançar ataques contra o território russo, ideia que mencionou pela primeira vez no recente encontro que teve com executivos de agências de notícias. “Dissemos que nos reservamos o direito de fazer isso como medida de resposta simétrica. Mas não estamos fornecendo essas armas, por enquanto. Também não indiquei que faríamos isso amanhã, porque esse tipo de entrega envolve muitos fatores que podem incidir em regiões inteiras e, naturalmente, temos que levar isso em conta”, sublinhou Putin.
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O chefe do Executivo russo também enviou uma mensagem tranquilizadora à sociedade ao afirmar que não pretende lançar uma campanha de recrutamento obrigatório para reforçar as tropas que combatem na Ucrânia, uma das maiores preocupações das famílias deste país com homens em idade de fazer o serviço militar. “Na realidade, não há necessidade de realizar uma mobilização, não temos a intenção de fazê-lo”, indicou.
Segundo o mandatário, no ano passado, atraídos pelo salário e mediante contrato com o Ministério da Defesa, mais de 300 mil cidadãos russos se alistaram nas tropas para ir ao front de combate e, no que vai deste ano, mais de 160 mil. Para Putin, o contingente militar que há na Ucrânia não é suficiente para conseguir uma vitória rápida, mas “optamos por seguir outra tática: expulsar o inimigo dos territórios que devem ficar sob nosso controle” e, nesse sentido, asseverou que no primeiro semestre deste ano a Rússia “liberou cerca de 880 quilômetros quadrados, (bem como) 47 localidades do Donbass”.
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