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ToggleNa última quinta-feira (23), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante fala no Fórum de Davos, ameaçou reduzir o preço do petróleo para pôr fim à guerra na Ucrânia. Ao mesmo tempo, anunciou que o mandatário russo, Vladimir Putin, está pronto para conversar com o inquilino da Casa Branca e só espera um “sinal” ou, em outras palavras, que o estadunidense seja quem o chame por telefone para marcar a data de um encontro.
Na sexta-feira (24), Putin, por sua vez, reagiu com indiferença ao pronunciamento: “Duvido que (Donald Trump) tome decisões que prejudiquem a economia estadunidense. Ele não só é uma pessoa inteligente, mas também pragmático”, comentou Putin, em uma breve entrevista à televisão pública russa, sugerindo que Trump não aplicaria mais sanções e tarifas caso não haja um acordo para o fim da guerra na Ucrânia.
Assim como a Ucrânia, a Rússia tenta convencer Trump de que o outro lado não quer negociar ou deseja fazê-lo sem levar em consideração suas demandas, ultimatos que tanto Moscou quanto Kiev não estão dispostos a aceitar.
Nesse contexto, o líder russo recorreu a Pavel Zarubin, apresentador do programa “Moscou. Kremlin. Putin”, transmitido pela televisão pública aos fins de semana, e declarou: “seria bom que nos reuníssemos (com Trump), levando em conta a realidade atual, e conversássemos com calma sobre todos os temas que interessam tanto aos Estados Unidos quanto à Rússia”.
Inteligência e pragmatismo
O governante russo continuou: “em geral, é claro que podemos ter muitos pontos em comum com a atual administração estadunidense, na busca de soluções para questões-chave da atualidade, tanto no âmbito da estabilidade estratégica quanto da economia”.
E, após reiterar que está pronto para dialogar com seu colega estadunidense também sobre o problema da Ucrânia, Putin o elogiou: “Não posso discordar dele: se ele tivesse sido eleito presidente, se não tivessem roubado sua vitória em 2020, talvez a crise que explodiu na Ucrânia em 2022 não tivesse ocorrido”.
Putin responsabilizou seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, por se recusar a negociar sob as condições exigidas pela Rússia: “Como podem ser iniciadas conversações se elas estão proibidas? Se começassem com a base normativa atual, em sentido estrito, não teriam legitimidade, e seus resultados poderiam carecer de validade”.
E acrescentou: “Enquanto esse decreto (de Zelensky, que proíbe negociar diretamente com o presidente Vladimir Putin) não for anulado, não se pode falar em iniciar negociações, muito menos que elas possam terminar com sucesso”.
Petróleo versus segurança nacional
Anteriormente, Dmitry Peskov, porta-voz da presidência russa, já havia se referido às declarações de Trump em Davos: “Este conflito não depende do preço do petróleo. Deve-se à ameaça à segurança nacional da Rússia, à perseguição da população de origem russa no Donbass e à falta de vontade dos estadunidenses e europeus, assim como à sua recusa em atender às preocupações da Rússia. Repito: nada tem a ver com o preço do petróleo”.
Analistas independentes, como Mikhail Krutikhin, consideram que a ameaça de Trump não teria efeitos imediatos, mas começaria a ser sentida em um prazo de dois a cinco anos, caso envolva apenas o setor petrolífero dos Estados Unidos.
Outra coisa, argumenta o especialista, seria se Trump conseguisse convencer a Arábia Saudita e, por sua vez, os outros Estados petrolíferos do Golfo Pérsico a renunciarem imediatamente aos acordos da OPEP+ e aumentarem a extração sem cotas. Isso poderia inundar o mercado com o chamado ouro negro pela metade do preço atual, não antes do próximo verão, e deixar a Rússia sem sua principal fonte de financiamento para sua campanha na Ucrânia.
Mas isso está no campo das especulações e depende de fatores que ninguém pode controlar antecipadamente. Pode acontecer ou não, agora ou nunca, e não seria fácil equilibrar a queda do preço, que teria que ser compensada pelo volume de extração, conclui Krutikhin.
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