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Quando a cultura também é desenvolvimento

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Constanza Vieira*

cultura IPS
O camponês Omar Caicedo mostra ao presidente do Fida, Kanayo Nwanze, os frutos de sua terra, a megabiodiversa costa pacífica da Colômbia. Foto: Juan Manuel Barrero/IPS

“Fui caçador. Matei muitos animais”, reconheceu Rosalino Ortiz, representante da Mashiramo, uma organização camponesa para o monitoramento da biodiversidade do Maciço Colombiano, onde a Cordilheira dos Andes se ramifica, no departamento de Huila, sul do país.

Depois dos painéis de “sensibilização” do programa Oportunidades Rurais do Ministério de Agricultura e Desenvolvimento Rural, financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), “a pessoa muda essa mentalidade. E projetei um negócio com meus companheiros”, 24 sócios no total.

Agora, Ortiz fala de turismo ecológico. E reconhece que “há mais dinheiro”. Capacitado pelo programa, já é tecnólogo e pretende ser engenheiro florestal, “para dar capacitação à organização”. “É um dos melhores programas. Nos entregam o dinheiro direto na conta. Confiam na gente, nas comunidades de base”, contou Cielo Báez, da Associação de Produtores Agroecológicos da Bacia do Rio Anaime (Apacra), um setor do também montanhoso município de Cajamarca, no departamento de Tolima, centro do país.

“Nós decidimos o que realmente precisamos, por isso o sucesso do programa. Às vezes, muitos o fazem do escritório” e decidem, sem consultar as comunidades, quais ferramentas enviar-lhes, elementos que depois “são arrumados”, acrescentou Báez. As famílias desta associação, que se alternam para trabalhar coletivamente nas fazendas dos associados, tal com contaram à IPS em Anaime, em setembro de 2012, já não se preocupam em receber um empréstimo de US$ 15 mil porque “temos acompanhamento de contador e auditor”, afirmou.

“O Fida, por meio do Oportunidades Rurais, permite que nossas famílias tenham melhor qualidade de vida, porque se trabalha de maneira integral, então nos fortalecemos integralmente”, destacou Báez à IPS. “Com eles, nos capacitamos. Somos 15 famílias com mais ou menos dois jovens em cada uma: uns 30 jovens que já têm acesso à educação. Agora são camponeses, mas com estudo. E envolvemos toda a família: velhos, crianças”, detalhou.

A chave para obter o apoio do Oportunidades Rurais-Fida é a palavra “negócio”. Por isso o programa conseguiu que produtores dispersos se associassem nos mais diversos pontos do país. Andrés Silva, diretor do Oportunidades Rurais, conversou com estes dois camponeses na frente de Kanayo Nwanze, presidente do Fida, que chegou à Colômbia após visitar no Peru as iniciativas apoiadas por esta agência da Organização das Nações Unidas (ONU), criada para dar suporte a projetos de vida e desenvolvimento dos mais pobres do setor rural do mundo.

“Esta é a banana, este o cacau, este o feijão, e temos o tamarindo”, indicava a Nwanze o camponês Omar Caicedo da Cooperativa Agropecuária de Usuários Camponeses do Patía, no departamento do Cauca. Nwanze, natural da Nigéria, especialista em ciências agrícolas e entomologista, conhecia a maioria dos frutos. Até que Caicedo lhe mostrou o “hacepuede”, um fruto exótico. É doce, pode-se comer ou beber seu suco. Também é medicinal. Deixa no sereno e bebe em jejum. Serve para as amebas”, explicou.

O presidente do Fida disse que, “há alguns anos, em minha campanha para que governos e comunidade do desenvolvimento reconhecessem que a pequena agricultura era um negócio e devia ser atraente para os jovens”, não sabia que “tudo isso já se fazia na Colômbia”. Nwanze se mostrou “muito impressionado ao ver gente jovem trabalhando em agricultura e atividades relacionadas com um negócio que gera renda”.

A IPS encontrou outros projetos comunitários apoiados pelo Oportunidades Rurais-Fida, como o Ecopollo, das chefes de família da Associação Municipal de Mulheres Camponesas de Lebrija (Ammucale), no departamento de Santander. Graças aos seus galpões com 1.800 aves, que vendem em mercados e lojas próximas ou aos vizinhos, algumas inclusive já podem mandar seus filhos para a universidade. Elas ressaltam que educam seus filhos no amor ao campo e que o estudo universitário serve para os jovens retornarem a Lebrija mais capacitados.

Há, também, a Corporação de Recuperação Comunitária do Tecido no município de Charalá, também em Santander, onde 70 famílias formaram uma cadeia produtiva que começa com o cultivo de algodão orgânico e termina no Museu do Lenço, uma grande casa de esquina do povoado, passando por técnicas ancestrais de fiação, tingimento e tecelagem do extinto povo guane dessa região, famoso por seus tecidos.

O Oportunidades Rurais-Fida começou em 2007 e acaba formalmente este ano, após ter financiado mais de 1.700 iniciativas. Agora, deve se reinventar. “Não se investirá nas mesmas famílias”, confirmou seu diretor Silva à IPS. Espera-se que estas associações que se converteram em pequenas empresas do campo transmitam a mais grupos familiares suas boas práticas e possam, também, mostrar seus próprios erros, para que a experiência se multiplique. Um dos objetivos centrais é desestimular a migração para as cidades e dar alternativas rurais.

Na verdade, os camponeses de Mashiramo estão se preparando para serem uma rede local que articule outras organizações, “sermos nós os empresários e poder compartilhar nossos conhecimentos”, explicou Ortiz. O que fica é conhecimento organizado para que possa ser replicado. Mas, aprendizagem não apenas para e entre as comunidades. Também ficam para o Ministério e para o Fida as teses do programa: “temos que apoiar as pessoas, buscar o conhecimento, propor encontrar esses tesouros que há nas culturas locais, propiciar que o talento local se replique além das famílias”, em todo o município, ressaltou Silva.

*IPS de Bogotá, Colombia, para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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