Segundo o Ministério da Saúde, apenas 34% dos profissionais da área serão vacinados. Há ainda uma disputa acerca do número total de profissionais que o Brasil possui, uma vez que o governo utiliza o cálculo mais conservador. Ainda assim, de acordo com diferentes bases de dados, faltarão vacinas (IBGE, PNAD, RAIS e CNE).
Ao mesmo tempo, o país é recordista em mortes entre trabalhadores da saúde, sendo também os negros os mais assolados pela Covid. Enquanto Doria faz propaganda ao lado de uma técnica de enfermagem negra, serão os negros e negras, que são majoritariamente técnicos de enfermagem, trabalhadores da faxina e estão nos postos mais precários se expondo na linha de frente nos hospitais e postos de saúde os que tendem a ser deixados de fora nesta fase da imunização. Se os trabalhadores da saúde estão enfrentando essa crise e se expondo há meses, adoecendo, morrendo e expondo suas famílias, enquanto os capitalistas que vieram precarizando os hospitais e cortando salários não garantem nem EPIs e os chamam de heróis, neste momento nossos heróis majoritariamente ainda não contarão com imunização.
Segundo documento do Ministério da Saúde, a ordem de priorização desse estrato profissional é a seguinte: “Assim, recomenda-se a seguinte ordem para vacinação dos trabalhadores da saúde conforme disponibilidade de doses, sendo facultado a Estados e Municípios a possibilidade de adequar a priorização conforme a realidade local: equipes de vacinação que estiverem inicialmente envolvidas na vacinação dos grupos elencados para as seis milhões de doses; trabalhadores das instituições de longa permanência de idosos e de residências inclusivas (serviço de acolhimento institucional em residência inclusiva para jovens e adultos com deficiência); trabalhadores dos serviços de saúde públicos e privados, tanto da urgência quanto da atenção básica, envolvidos diretamente na atenção/referência para os casos suspeitos e confirmados de covid-19; demais trabalhadores de saúde”.
Divulgação / Facebook Coren-DF
Enfermeiros e técnicos de enfermagem em protesto na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Além disso, a falta de um plano eficiente de imunização coloca uma disputa entre estados e municípios. Apenas a região Sudeste concentra 51% dos trabalhadores da saúde, enquanto estados como o Rio de Janeiro tendem a deixar uma boa parte de seus profissionais sem vacinação.
A professora da UFRJ sanitarista, Lígia Bahia, afirma que “há vacinas somente para exibição política, mas não para proteger a população de fato”.
No caso dos idosos, os governos estão escolhendo vacinar aqueles que vivem em instituições de longa permanência. São 156,8 mil, de um total de 29 milhões de idosos brasileiros, o que equivale a 0,5% desse universo. Levando em conta a necessidade de garantia da segunda dose e também uma margem para perdas e danos, o primeiro lote entregue pelo Butantan imunizará somente 2,8 milhões de brasileiros.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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