Como pode ser nova uma coisa tão velha e ultrapassada como a UDN? É a realidade de um retrocesso cultural – só possível numa sociedade iletrada. Sequelas do escravagismo cultural, ou seja, da servidão intelectual voluntária.
Isso só é possível numa sociedade que teima em retroceder nos seus próprios trilhos. Trilhos que poderiam levá-la a ser uma grande nação, industrializada e próspera, uma sociedade de pleno emprego.
À marcha à ré é evidenciada nos gritantes índices registrados nas últimas décadas. Todos os indicadores são negativos, com exceção do Produto Interno Bruto (PIB) da agroindústria predadora, o que também significa retrocesso. Tudo o mais que se meça foi pra pior.
Somos um país exportador de produtos primários como nos tempos de D. João VI, em que se proibia fabricar o que quer que fosse e obrigava a importar tudo da Inglaterra, dona dos bancos de então, o grande império que se jactava de que o sol não se punha em seu território. Território conquistado pela força das armas, transformando nações livres em colônias, com povos escravizados para fazer a riqueza de uns poucos e financiar a revolução industrial.
Vale perguntar: o que é a poderosa Inglaterra hoje? Uma colônia decadente de sua outrora colônia, incapaz de se defender de um Brexit manipulado pela Cambridge Analytica para gerar o caos!
O que é a Roma dos Césares hoje?
Não será esse o destino do império estadunidense?
O que esperar de uma nação (EUA) que se permite ser governada pelo produto de uma fraude [Trump] arquitetada pela mesma Cambridge Analytica para implantar o caos?
Submeter-se a um império decadente – sob todos os pontos de vistas – como pretende o ministro das Relações Exteriores do Brasil, é mais do que desinformação, burrice ou o que seja. Negar-se a admitir isso ultrapassa os limites da insanidade.
A Nação, que é este nosso povo brasileiro, precisa acordar e parar essa marcha à ré e colocar esse trem poderoso que é o Brasil a andar pra frente.
Boletim da Liberdade
Cogitada pelos Bolsonaro, antiga UDN pregava privilégios ao funcionalismo
O clã Bolsonaro agora quer refundar a UDN.
A União Democrática Nacional nasceu em 1945 de uma elite que havia sido despojada do poder, tal como nasceu o PSDB nos anos 1980. Ambos nunca chegaram a ser partido de massas.
Vale fazer um paralelo entre a UDN e o PSDB, este, caricatura daquela, bem caracterizada por FHC que ganhou a honraria de Príncipe da Privataria.
A UDN tinha intelectuais de respeito como um Adauto Lúcio Cardoso ou um Afonso Arinos de Mello Franco, ou mesmo um Israel Dias Novaes, o maior especialista em Camilo Castelo Branco, um apaixonado pela literatura luso-brasileira.
A UDN garantiu o voto que em 1954 criou a Petrobras e deu-lhe o monopólio sobre todas as fases da exploração do petróleo. FHC, o reverso, desfez o monopólio.
E tinha um Carlos Lacerda, indiscutivelmente um cara culto e um tribuno de uma verve como poucos. Uma verdadeira fera no legislativo e como jornalista, dono da Tribuna da Imprensa, feroz opositor ao varguismo. Perdeu-se ao deixar-se levar pelo canto da sereia e colocar-se a serviço do império, tudo levado pela ânsia de poder.
Quando acordou e percebeu do que fora cúmplice, propôs uma Frente Ampla com seus adversários de outrora. Mas já era tarde demais. Tanto Lacerda, Juscelino e João Goulart, os líderes da Frente Ampla, não conseguiram articular-se, morreram em circunstâncias até hoje não esclarecidas.
Ver a UDN ressurgir das cinzas, não como uma Fênix, mas como uma ave de mau agouro, com a ralé da bandidagem do Rio de Janeiro, é outro sintoma de que esse trem chamado Brasil continua sua marcha para trás.
Eles sonham com fazer da nova (nova?) UDN o maior partido da direita brasileira. E sobram condições. De um lado, a debacle dos partidos de centro e direita nas eleições de outubro de 2018, e também a profusão de pequenos partidos sem futuro constituem um cenário favorável para organizar um partido que junte essa nova direita e os oportunistas de sempre.
De outro lado, a abundância de recursos. Steve Bannon conta com o partido do clã Bolsonaro (seja velho ou novo) para reforçar o “Moviment”, com o qual pretende fazer uma internacional do neofascismo com o dinheiro de Robert Mercer.
“A continuidade é fundamental”, dizia o professor Santiago Dantas, que foi ministro da Fazenda e das Relações Exteriores e, junto com Celso Furtado, elaborou o Plano Trienal para o governo de João Goulart. Um projeto nacional que manteve o país com as mais altas taxas de desenvolvimento em todo o mundo por décadas seguidas. O PIB industrial, motor da economia, evoluía entre 10% e 14%.
Santiago com sua frase se referia tanto à política externa como ao projeto de desenvolvimento. Sem continuidade não vai… o trem não vai pra frente. O que temos visto nas últimas décadas de hegemonia do capital financeiro é descontinuidade em tudo.
E, o que promete o superministro da Economia-Planejamento-Fazenda-Comércio Exterior e outros que tais, Paulo Guedes?
O que revela o poderoso ministro é não ser capaz de fazer nada fora da cartilha da escola austríaca de Von Mises. Não falou nada além da questão fiscal, não propôs outra coisa além de sacrificar toda a Nação para garantir o lucro dos financistas. O aprofundamento dos erros em política econômica que nos levou a situação de crise. Crise sistêmica.
Não enxergam o país que existe além de seus mesquinhos interesses. Não lhes importa um pito os 40, 50 milhões ao desamparo.
Um dos piores danos à Nação, com a ocupação do Estado em 1964, foi o ataque às universidades e institutos de pesquisas. Foram expulsos, perseguidos os melhores professores e pesquisadores. Custou muito para o país ter universidades de excelência, centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico nas área de petróleo, aeronáutica, energia nuclear, engenharia, principalmente.
Agora, de novo, o Estado ocupado, atacam a cultura, a ciência, com as barbaridades que estão fazendo no sistema educacional – a escola como um todo, em todos os graus.
Qual a intenção da escola militarizada?
O que esperar de uma “escola sem partido”, que na realidade esconde uma escola sem Paulo Freire, dirigida por coronéis da Polícia Militar, os PM? Formar sargentões e robôs. É isso que queremos para nossa juventude? Ser treinado para ingressar no PCC ou ser matador dos povos marginalizados?
Nas últimas décadas, consequência das políticas econômicas adotadas, o país virou exportador de cérebros e equilibra sua balança de pagamento com as remessas dos emigrados às suas famílias. Somos uma “Banana Republic”, exportadores de produtos primários governado por títeres do império.
Onde está a juventude para lutar pelo ensino universal (nenhuma criança fora da escola), escola pública, laica e capacitada a formar espíritos críticos e criativos?