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Regime fascista de Boluarte coloca em risco não só peruanos, mas toda América Latina

Com surpresa, por não dizer que com assombro, os peruanos podemos ver, agora, o que ocorria na Alemanha Nazista nos anos 30 do século passado
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

A algo mais de dois meses de instaurado pela força o regime vigente, bem se pode assegurar que assomam nitidamente os dentes do lobo que lhe marcam o rosto. 

Com surpresa, por não dizer que com assombro, os peruanos podemos ver, agora, o que ocorria na Alemanha Nazista nos anos 30 do século passado. Naqueles tempos, as SS percorriam as grandes alamedas entoando canções de guerra e lançando consignas de combate.

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A Unter Den Linden, a Kurfurstendamm e a Alexanderplatz, os lugares mais concorridos da velha Berlim, ressoavam ao compasso dos gritos marciais dos fardados que juravam vencer aos comunistas com a força das armas, para libertar o país do “inimigo vermelho”. 

Hoje estamos ante idênticas cenas, só que isso ocorre pela primeira vez nas espaçosas avenidas de nossa capital. O Paseo de la República, La Colmena, e as avenidas Wilson ou Abancay – onde só os fardados podem marchar – os Comandos de Ação da Polícia Nacional – doze mil fardados – se deslocam rudemente, e com armas na mão, para intimidar o povo com as mesmas consignas. 

E quando o presidente de um país amigo expressa sua preocupação por isso, o declaram “persona não grata”, sem reparar sequer que faz precisamente 70 dias que o povo peruano declarou Persona Não Grata a Dina Boluarte, e lhe pediu sua renúncia ao cargo.

Mas o desfile dos Esquadrões de Combate e suas consignas de morte não são as únicas expressões de terror usadas pelo regime contra a cidadania. Recentemente, foi condenada a 30 meses de prisão Yaneth Navarro, uma dedicada mãe de família com dois filhos que se transferiu à capital para mobilizar-se com seu povo. 

Com surpresa, por não dizer que com assombro, os peruanos podemos ver, agora, o que ocorria na Alemanha Nazista nos anos 30 do século passado

Reprodução/Twitter
Quando fracassam as tentativas do oficialismo para “normalizar” a vida nacional, os dentes do fascismo assomam perigosamente




Caderno de “apontamentos”

A política a “interveio”, lhe apreendendo um caderno de apontamentos no qual havia anotado muito módicas somas, que distribuiu entre seus paisanos para que aliviassem feridas após os enfrentamentos cotidianos com “as forças da ordem”. Um total de 1.900 soles – algo mais de 400 dólares – foi a “elevada soma” encontrada com ela e que serviu de “prova” para demonstrar que “usava recursos destinados a financiar operações contra o regime”. 

E para que ninguém pense que esta condenação constitui apenas “um excesso”, o Poder Judicial dispôs 18 meses de “prisão preventiva” contra Rocío Leandro Melgar e seus companheiros, acusando-os de “ações sediciosas” presumidamente executadas entre 1980 e 1990 e convalidadas apenas hoje, pois a partir da Frente de Defesa do Povo de Ayacucho estão contra o governo e pedem uma Assembleia Constituinte.

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O Juiz Raúl Justiniano Romero considera que estes são “atos terroristas que põem em risco a segurança do Estado”. Esta pena, além disso, se estende a todos os integrantes do mesmo coletivo, alguns dos quais nos anos 80 do século passado ainda não haviam nascido.  

Mas as coisas vão além. Como se sabe, o Município de Lima “fechou” a capital para as mobilizações populares. Dispôs, em efeito, que se declare “intangível” o Centro Histórico da Cidade e se proíbam ali as manifestações públicas. Uma iniciativa similar, em 2005, foi deixada sem efeito pelo Tribunal Constitucional por contrariar a Liberdade de Reunião, consubstancial a qualquer regime democrático.

Não faltou, por certo, aqueles que em redes sociais evocassem a mobilização liderada pelo hoje Prefeito Lopez Aliaga, eminência gris do fascismo metropolitano no Paseo de la República – junho de 2021 – e na qual pedira “democraticamente”: “Morte a Carrón! e Morte a Castillo!”. Lembram disso? E para que não falte nada, o assassinato de 7 policiais no VRAE, em uma jornada suspeitamente similar à de junho de 2001 que nunca foi investigada. A DINI e a Dircote servem para algo? 

Claro que nada disto se registra passivamente. A cidadania não cessa no empenho de denunciar e combater as atrocidades consumadas pelo regime. Recentemente, o Instituto de Defesa Legal pôs em evidência o que ocorreu em Ayacucho em 15 de dezembro passado.

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Hoje se sabe que 2 capitães, 12 sargentos, 9 suboficiais, 22 cabos e 7 soldados, fazendo honra ao “legado fujimorista”, foram os que “cumpriram funções” na zona do crime. E se sabe a identidade de todos eles. 

Foi o Comandante Geral da Segunda Brigada de Infantaria Wari, general Jesús Vera Ipenza, que cumpriu entregar o informe correspondente à justiça ordinária. Cabe perguntar-se, então, se ela agirá, ou derivará finalmente o caso ao “Fórum Castrense” para garantir a impunidade dos autores de tão horrendo massacre. 

Bem pode incubar-se dúvidas acerca da atividade da justiça nesta ordem de coisas. Foi desqualificada a delegação argentina de Direitos Humanos liderada por um prestigiado jurista. O argumento é ridículo. Sustentam que os investigadores não possuem “passaportes diplomáticos”, nem estão credenciados por um “organismo internacional”.

Nenhum destes “argumentos” questiona a gravidade das denúncias formuladas, e que configuram graves delitos que serão elevados ante a Justiça Supranacional. A viagem da Congressista Margot Palacios a Genebra, onde se reúne a Comissão de Direitos Humanos da ONU, dará forma a uma acusação fundada contra o governo peruano. O “diálogo” entre Dina e Keyko, não marcha: transpira sangue. 

Em um mar de contradições, e quando fracassam as tentativas do oficialismo para “normalizar” a vida nacional, os dentes do fascismo assomam perigosamente e põem em alerta toda a região. Não constituem uma ameaça só contra os peruanos. A América está em perigo.  

Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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