No passado dia 19, se reiniciou a briga entre o povo e a camarilha oligárquica no poder. Foi uma jornada difícil, dura, que promoveu lições ao movimento popular, mas também ao regime. E que, sobretudo, põe em evidência um fato incontroverso: a briga continua. O governo não pode cantar vitória.
O movimento popular, nesta nova etapa, buscou centralizar suas ações e organizá-las de um modo mais apropriado para torná-las efetivas. Por isso surgiu um comando unitário de luta que buscou elaborar iniciativas e orientar a batalha em um sentido estratégico. A ideia foi forjar um movimento mais organizado capaz de ganhar força e isolar o inimigo principal. Isto foi logrado, embora de maneira parcial.
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A mobilização foi nacional. Não se limitou a Lima. Virtualmente em todas as cidades e em muitos outros povoados do interior, foram produzidas ações que impactaram a cidadania. No exterior: Barcelona, Berlim, Paris, Nova York e em outras capitais ocorreu o mesmo.
Como era previsível, as manifestações foram pacíficas. Como antes, a violência não saiu do povo, mas sim da repressão policial. E por isso os feridos foram pela ação do aparato repressivo do Estado.
Não obstante, as concentrações foram numerosas e concorridas. Dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram. Em todos os casos, demandaram o mesmo: a renúncia de Dina e o fechamento do Congresso. Estas exigências contaram com uma imensa adesão cidadã.
JuanZapata108 via Wayka/Twitter
Decreto Supremo autorizou às Forças Armadas o uso de armas de guerra, para controlar presumidos “distúrbios
O Governo, por sua parte, mostrou-se temeroso e débil. Por medo, mobilizou quase 30 mil efetivos policiais para enfrentar as populações. Na véspera, desfilaram pelo Passeio dos Heróis Navais agressivas colunas de uniformizados entoando consignas de ataque. A semelhança das mesmas com os esquadrões hitleristas dos anos 30’s do século passado, resultou evidente. Mas foi, além disso, o distintivo de um fenômeno: o renascimento do fascismo no solo peruano.
Há que agregar, adicionalmente, as medidas pré-cautelares: o controle migratório, a campanha de imprensa, o uso de 3.600 câmaras de identificação pessoal e o controle das estradas; medidas todas destinadas a intimidar a população.
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Para que não fique dúvida disse, este fenômeno foi adiantado pela recepção que teve lugar no Ministério da Cultura aos esquadrões urbanos que operam a violência sob este mesmo signo. A permanência da titular da pasta ao seu cargo – apesar de ter dado a ordem desse encontro –, confirma o vínculo entre estas estruturas de terror e a cúpula do poder.
O medo do Governo se expressou também de outra maneira. Embora os meios não tenham publicado, circulou um Decreto Supremo autorizando às Forças Armadas o uso de armas de guerra, para controlar presumidos “distúrbios”. Estes nunca se produziram, de tal modo que a disposição não foi efetiva. Não obstante, a intenção se fez patente e foi notável como um modo de comprometer o poder central no presunto conluio de crimes, a fim de que não se livre de responsabilidades.
Aqui houve uma diferença com relação a dezembro passado, quando essas ordens foram dadas de maneira verbal. Nestas circunstâncias, os mandos castrenses quiseram se eximir para que não recaísse sobre eles a culpa de crimes avessos. O tema pôs em relevo um fato inobjetável: até hoje ninguém sabe como seguem as investigações referentes aos 70 mortos das primeiras jornadas. Ninguém assumiu a responsabilidade dos fatos e ninguém, tampouco, foi imputado pelos mesmos. Ao que parece, o que se busca são crimes sem castigo.
Isso se explica também por uma circunstância episódica: a relação que une Dina Boluarte com Alberto Otárola. A primeira está protegida por uma decisão parlamentar: o Congresso a fez Presidenta da República.
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O segundo – salvo um julgamento anterior – vive em virtual desamparo, e ficará nele logo que perca seu cargo de Ministro. Se a precária inquilina do Palácio prescindir hoje de seus serviços, amanhã poderia estar preso. Carece de toda proteção legal. Por isso se aferra ao cargo com unhas e dentes.
À inversa, a Dama depende também dele. Otárola poderia declarar oficialmente que foi Dina quem ordenou o uso das armas em Ayacucho e em Lave. Este testemunho seria demolidor. Aí estriba seu peso: o valor da chantagem.
? #Fotogalería | @PoliciaPeru reprime a ciudadanía que logró llegar hasta la Plaza San Martín. Mujeres aymaras fueron agredidas por agentes policiales. 1/2
Fotos: @JuanZapata108#MarchaNacional #22J #TomaDeLima #VocesComunitarias pic.twitter.com/NMnj2xZJ3M— ?? Wayka (@WaykaPeru) July 23, 2023
Há quem suponha que Dina poderia “se beneficiar” do ocorrido no dia 19 e “tomar distância” do Congresso. Crasso erro. Estão unidos pelo mesmo projeto. Se necessitam mutuamente. São a aliança da fome com a necessidade.
Dina e Otárola, eludiram em suas exposições o tema da presença militar norte-americana no Peru. Apresentaram o fato como uma ação de rotina. Ocultaram a verdade. Em outras ocasiões se tratou, em efeito, de “assessorias” pontuais. Agora se trata de mais de 1.200 soldados que ainda operam no país e permanecerão aqui até 31 de dezembro.
Isso, além do inaudito fato que o Governo tenha autorizado o funcionamento de laboratórios de experimentação bioquímica dos Estados Unidos no país. Antes, isto ocorreu na Ucrânia. Mas, pela primeira vez acontece em nosso solo. O silêncio do Congresso da República, e dos proclamados “defensores da Pátria”, é ignominioso e imperdoável.
Por isso, e por todo os demais, a briga continua.
Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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