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Revisão do acordo com FMI deve estar no centro das relações da Argentina com Biden

Na avaliação da diplomata Alicia Castro, não deve haver mudanças na política de Biden para a América Latina, mas ele deve destoar de Trump em temas globais
Rogério Tomaz Jr.
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

“A política é a política internacional”. A máxima de Juan Domingo Perón, repetida a cada debate sobre relações internacionais organizado por grupos afiliados a ele, parece valer para boa parte da sociedade argentina, não apenas para os peronistas.

A sociedade argentina, especialmente a população de Buenos Aires e redondezas, é muito interessada e bem informada sobre o que acontece na América Latina e no mundo em geral. Os eventos são acompanhados no contexto dos seus processos e não como fatos isolados e desconectados de antecedentes.

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Isso é um dos fatores que explica, por exemplo, o peso relativamente menor das recentes eleições dos Estados Unidos na mídia e na sociedade argentina em geral, em comparação com o Brasil, onde os grandes meios de comunicação acompanharam — e se envolveram — tão atentamente em cada detalhe da disputa na reta final.

Para o governo argentino, contudo, o interesse no pleito era grande. Uma vitória de Joe Biden poderia suscitar um diálogo mais profícuo para fortalecer os interesses do país, especialmente em relação às pautas que dizem respeito à recuperação econômica após a devastação neoliberal causada por Maurício Macri.

Primeira conversa

Na última segunda-feira de novembro Alberto Fernández conversou pela primeira vez com Biden e disse ao futuro homólogo que o seu triunfo representa “uma grande oportunidade para se gerar um vínculo melhor, para que os Estados Unidos se reencontrem com a América Latina”.

Mas o tema principal foi justamente a negociação da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o que foi confirmado por Felipe Solá, chanceler argentino. “O presidente pediu [a Biden] três coisas. Uma é a boa vontade do diretor dos Estados Unidos no FMI. Atualmente não estamos tendo sorte, o governo que está saindo não está tendo as melhores posturas no Fundo”, afirmou Solá, de acordo com a agência Télam.

Na avaliação da diplomata Alicia Castro, não deve haver mudanças na política de Biden para a América Latina, mas ele deve destoar de Trump em temas globais

Diálogos do Sul
Montagem Diálogos do Sul

“Sem grandes diferenças”

Na opinião de Alicia Castro, que foi embaixadora do governo Cristina Kirchner no Reino Unido e integra a coordenação da Internacional Progressista, em entrevista exclusiva para a Diálogos do Sul, não se deve esperar muitas mudanças na política de Biden para a América Latina em geral.

“Acredito que em nosso país, e na América Latina e Caribe, o resultado [das eleições] não deve ter grande diferença. Mas, sim, em relação ao mundo, ao planeta”, diz a diplomata, embora considere Trump “uma ameaça para a humanidade”.

Confira a resposta de Alícia Castro aqui: 

Multilateralismo

Para o jornalista Augusto Taglioni, especialista em relações internacionais, o novo governo democrata “retomará a agenda multilateral vilipendiada e abandonada por Donald Trump”, o que pode ser atestado pela confirmação já dada para o retorno do país ao Acordo de Paris. Isso seria de interesse de toda a América Latina, especialmente dos países não alinhados ao bolsonarismo, por sua vez submisso à orientação de Trump.

“A volta do multilateralismo pode ser uma oportunidade para a Argentina no momento do debate sobre saídas para a crise da pandemia tanto no G20 quanto nas Nações Unidas ou para atuar como articulador regional diante do isolamento de Bolsonaro”, avalia Taglioni em artigo publicado no portal da FM La Patriada.

Especificamente para a Argentina, além das negociações com o FMI, Taglioni lista os temas de energias limpas e desenvolvimento sustentável como ponto de interesse entre os dois países. 

Entretanto, o estreitamento das relações sino-argentinas — o que é possível se repetir com a Rússia — podem gerar tensões com a Casa Branca.

A pouco menos de um mês da posse de Joe Biden como presidente, resta esperar e acompanhar os sinais e acenos para a Argentina e para os demais países da América Latina.

* Rogério Tomaz Jr. é jornalista, residente em Mendoza, Argentina, onde cursa mestrado em Estudos Latinoamericanos na Universidade Nacional de Cuyo.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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