Conteúdo da página
ToggleCom certa tensão, pois estava torcendo fortemente para que ele fizesse um bom discurso, ouvi e apreciei o pronunciamento de Lula no dia 7 de Setembro.
Gostei de ouvi-lo retomar alguns temas preciosos e essenciais à nacionalidade, como a nossa soberania, hoje tão vilipendiada por essa presidência de capachos dos imperialistas.
No entanto, acrescentaria – e reforçaria — alguns temas à fala de Lula. Há muito tempo, mais tempo do que gostaria, tenho feito reparos às posições do PT em relação ao Banco Central.
Esse negócio de Banco Central independente com o que meu prezadíssimo amigo Fernando Haddad andou flertando na campanha de 2018 – e parece que dele ainda não se desquitou — é um dos pressupostos para que o capital financeiro continue impondo seus interesses à economia nacional.
Independente do quê, Senhor dos Aflitos? Como é possível pensar em um projeto de desenvolvimento nacional, que crie empregos, que aumente os salários, que impulsione o consumo interno, que retome e inove o nosso processo industrial, e cuide da sanidade de nossa moeda, com um Banco Central que nada mais é que um puxadinho dos bancos, dos financistas, dos rentistas, da agiotagem consentida e louvada?
Foto Montagem
Ouvi e apreciei o pronunciamento de Lula no dia 7 de Setembro, mas faria alguns apartes, afirma Requião
Um Banco Central a serviço do país
Então, acrescentaria ao discurso de Lula uma proposta de reformulação radical do papel do Banco Central, colocando-o a serviço do país, não da vil, asquerosa e deletéria especulação financeira.
É claro que não haverá de ser um rompimento tranquilo, pois vamos enfrentar quase um século de doutrinação da ortodoxia monetária e financeira.
Quase um século de pregação ideológica, de preconceitos ideológicos entranhados nos poderes públicos, na imprensa, na academia. E nem se fale em déficit público, em retomada da economia com financiamento público, que já sacam as metralhadoras.
Ah, atalhariam também os nossos rapazes e as nossas moças com alta sensibilidade às reações da agiotagem nacional: isso não seria bem recebido pelo mercado, provocaria um mal-estar entre os investidores, aumentaria o nosso isolamento, a mídia cairia de pau e coisa, e loisa.
E daí? Compromisso com o povo…
E daí? Que se nos dá se o mercado chie, guinche e zurre se os nossos compromissos são com Brasil e o seu povo e não com o mercado e os rentistas muito ricos.
Certa esquerda, aquela boazinha, bem comportada, que gosta de exibir suas habilidades com os talheres à mesa da burguesia, precisa se livrar dos fetiches com que se ataviou para parecer confiável. BC independente, superávit primário, austeridade fiscal, dólar flutuante, e o que mais? Teto dos gastos?
Luta contra os apátridas e pelo nacionalismo
O segundo aparte que faria a Lula seria para reforçar a mensagem contra o entreguismo e contra a desestatização das empresas que são estratégicas para a implantação de um projeto de desenvolvimento nacional e popular.
Precisamos recuperar e dar sustância ao discurso francamente nacionalista, brasileiro, sem medo do que os apátridas e os silvérios do mercado, e da mídia comercial, possam dizer.
Programa mínimo e unidade
Por fim, apartearia o companheiro Lula sugerindo que ele propusesse um programa de ação mínimo que unisse todos os brasileiros de boa vontade, ponto de partida para uma frente realmente nacional, popular e democrática.
Um programa onde constassem pontos como: referendo revogatório de todas as medidas antinacionais, antipopulares e antidemocráticas, aprovadas desde o golpe de 2016 até hoje.
Medidas emergenciais para a criação, a curtíssimo prazo, de milhões de novos empregos; aumento salarial, recuperando as perdas dos últimos cinco anos e que contemplasse também os aposentados e pensionistas; retomada da política de aumento real do salário mínimo; medidas urgentes para impedir a disparada dos preços dos gêneros de primeira necessidade e de consumo popular; recuperação e elevação dos investimentos em saúde, educação, habitação popular, saneamento básico e infraestrutura; resgate da política de apoio à agricultura familiar e da reforma agrária; retomada da política externa independente, soberana e alinhada aos interesses do desenvolvimento, da segurança, da paz, da cooperação e concórdia entre os povos; imediata elaboração e execução de uma política nacional de defesa e preservação da Amazônia.
Propostas concretas e combate a corrupção
Quando acenamos ao povo, os nossos corações não devem estar plenos somente de boas intenções. Devemos trazer nas nossas mãos propostas concretas, factíveis que atendam imediatamente os brasileiros. Emergência é emergência e não pode ser adiada!
Tocaria também no tema corrupção. Firmeza no combate à corrupção que endemicamente contamina a sociedade, mas sem cair em armadilhas entreguistas e perseguição, atropelamento do Direito com intenções ideológicas, como hoje ocorre.
São os apartes que gostaria de fazer ao pronunciamento do companheiro Luís Inácio Lula da Silva. Espero que ele, e vocês, aceitem.
Campanha nacional contra o aumento de preços dos alimentos
Para concluir: que tal sermos práticos e começarmos hoje mesmo uma campanha nacional contra o aumento de preços dos alimentos?
Acredito que uma campanha assim, de fortíssimo apelo popular, poderia ser o ponto de partida para unificar o discurso e as ações das oposições contra o governo, que já descartou qualquer medida para impedir a alta de preços.
Trezentos reais de ajuda emergencial ou de renda mínima… para comprar o quê?
Se estávamos procurando por onde começar, que tal por aqui?
Confira o vídeo:
Roberto Requião, ex governador do Paraná, ex senador da República e ex presidente da Frente Nacional em Defesa da Soberania Nacional
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Veja também