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Roberto Requião | O que faltou ao discurso do Lula? A reformulação radical do papel do BC

"Que tal lançarmos uma campanha nacional contra o aumento de preços dos alimentos como ponto de partida para unificar o discurso das oposições?"
Roberto Requião
Diálogos do Sul Global
Curitiba (PR)

Tradução:

Com certa tensão, pois estava torcendo fortemente para que ele fizesse um bom discurso, ouvi e apreciei o pronunciamento de Lula no dia 7 de Setembro.

Gostei de ouvi-lo retomar alguns temas preciosos e essenciais à nacionalidade, como a nossa soberania, hoje tão vilipendiada por essa presidência de capachos dos imperialistas.

No entanto, acrescentaria – e reforçaria — alguns temas à fala de Lula. Há muito tempo, mais tempo do que gostaria, tenho feito reparos às posições do PT em relação ao Banco Central.

Esse negócio de Banco Central independente com o que meu prezadíssimo amigo Fernando Haddad andou flertando na campanha de 2018 – e parece que dele ainda não se desquitou — é um dos pressupostos para que o capital financeiro continue impondo seus interesses à economia nacional.

Independente do quê, Senhor dos Aflitos? Como é possível pensar em um projeto de desenvolvimento nacional, que crie empregos, que aumente os salários, que impulsione o consumo interno, que retome e inove o nosso processo industrial, e cuide da sanidade de nossa moeda, com um Banco Central que nada mais é que um puxadinho dos bancos, dos financistas, dos rentistas, da agiotagem consentida e louvada?

"Que tal lançarmos uma campanha nacional contra o aumento de preços dos alimentos como ponto de partida para unificar o discurso das oposições?"

Foto Montagem
Ouvi e apreciei o pronunciamento de Lula no dia 7 de Setembro, mas faria alguns apartes, afirma Requião

Um Banco Central a serviço do país

Então, acrescentaria ao discurso de Lula uma proposta de reformulação radical do papel do Banco Central, colocando-o a serviço do país, não da vil, asquerosa e deletéria especulação financeira.

É claro que não haverá de ser um rompimento tranquilo, pois vamos enfrentar quase um século de doutrinação da ortodoxia monetária e financeira.

Quase um século de pregação ideológica, de preconceitos ideológicos entranhados nos poderes públicos, na imprensa, na academia. E nem se fale em déficit público, em retomada da economia com financiamento público, que já sacam as metralhadoras.

Ah, atalhariam também os nossos rapazes e as nossas moças com alta sensibilidade às reações da agiotagem nacional: isso não seria bem recebido pelo mercado, provocaria um mal-estar entre os investidores, aumentaria o nosso isolamento, a mídia cairia de pau e coisa, e loisa.

E daí? Compromisso com o povo…

E daí? Que se nos dá se o mercado chie, guinche e zurre se os nossos compromissos são com Brasil e o seu povo e não com o mercado e os rentistas muito ricos.

Certa esquerda, aquela boazinha, bem comportada, que gosta de exibir suas habilidades com os talheres à mesa da burguesia, precisa se livrar dos fetiches com que se ataviou para parecer confiável. BC independente, superávit primário, austeridade fiscal, dólar flutuante, e o que mais? Teto dos gastos?

Luta contra os apátridas e pelo nacionalismo

O segundo aparte que faria a Lula seria para reforçar a mensagem contra o entreguismo e contra a desestatização das empresas que são estratégicas para a implantação de um projeto de desenvolvimento nacional e popular.

Precisamos recuperar e dar sustância ao discurso francamente nacionalista, brasileiro, sem medo do que os apátridas e os silvérios do mercado, e da mídia comercial, possam dizer.

Programa mínimo e unidade

Por fim, apartearia o companheiro Lula sugerindo que ele propusesse um programa de ação mínimo que unisse todos os brasileiros de boa vontade, ponto de partida para uma frente realmente nacional, popular e democrática.

Um programa onde constassem pontos como: referendo revogatório de todas as medidas antinacionais, antipopulares e antidemocráticas, aprovadas desde o golpe de 2016 até hoje.

Medidas emergenciais para a criação, a curtíssimo prazo, de milhões de novos empregos; aumento salarial, recuperando as perdas dos últimos cinco anos e que contemplasse também os aposentados e pensionistas; retomada da política de aumento real do salário mínimo; medidas urgentes para impedir a disparada dos preços dos gêneros de primeira necessidade e de consumo popular; recuperação e elevação dos investimentos em saúde, educação, habitação popular, saneamento básico e infraestrutura; resgate da política de apoio à agricultura familiar e da reforma agrária; retomada da política externa independente, soberana e alinhada aos interesses do desenvolvimento, da segurança, da paz, da cooperação e concórdia entre os povos; imediata elaboração e execução de uma política nacional de defesa e preservação da Amazônia.

Propostas concretas e combate a corrupção

Quando acenamos ao povo, os nossos corações não devem estar plenos somente de boas intenções. Devemos trazer nas nossas mãos propostas concretas, factíveis que atendam imediatamente os brasileiros. Emergência é emergência e não pode ser adiada!

Tocaria também no tema corrupção. Firmeza no combate à corrupção que endemicamente contamina a sociedade, mas sem cair em armadilhas entreguistas e perseguição, atropelamento do Direito com intenções ideológicas, como hoje ocorre.

São os apartes que gostaria de fazer ao pronunciamento do companheiro Luís Inácio Lula da Silva. Espero que ele, e vocês, aceitem.

Campanha nacional contra o aumento de preços dos alimentos 

Para concluir: que tal sermos práticos e começarmos hoje mesmo uma campanha nacional contra o aumento de preços dos alimentos?

Acredito que uma campanha assim, de fortíssimo apelo popular, poderia ser o ponto de partida para unificar o discurso e as ações das oposições contra o governo, que já descartou qualquer medida para impedir a alta de preços.

Trezentos reais de ajuda emergencial ou de renda mínima… para comprar o quê?

Se estávamos procurando por onde começar, que tal por aqui?

Confira o vídeo:

Roberto Requião, ex governador do Paraná, ex senador da República e ex presidente da Frente Nacional em Defesa da Soberania Nacional


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Roberto Requião

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