Hoje, a esquerda já não é capaz de fazer frente a um nacionalismo que, em sua versão europeia, bem mais extrema que a nossa, havia quase conseguido aniquilar os judeus da Europa. Fica claro como cresce, sob nossos olhos, não um mero fascismo local, mas um racismo próximo ao nazismo em seus primórdios.
[O anúncio foi tão simbólico quanto controverso: em 6 de dezembro de 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, decidiu reconhecer Jerusalém como capital de Israel. A embaixada dos EUA foi transladada de Tel Aviv para Jerusalém, capital histórica da Palestina, segunda-feira (14). Até o momento, mais de 50 pessoas morreram nos protestos contra a medida. A iniciativa foi saudada pelo primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu. Desde então, no Knesset, o Parlamento israelense, a direita vem conduzindo uma ofensiva em várias frentes. No dia 2 de janeiro, os deputados votaram uma emenda constitucional tornando impossível a cessão de parte de Jerusalém sem o voto de uma maioria qualificada de dois terços. Vários deputados também apresentaram projetos para redefinir o perímetro da cidade, para excluir todos os bairros árabes além do muro de separação ou integrar grandes colônias. Para o historiador Zeev Sternhell, essas decisões visam forçar os palestinos a aceitar sem resistência a hegemonia judaica no território, condenando-os para sempre à condição de população ocupada].Eis o artigo:
Tento às vezes imaginar como o historiador de daqui a cinquenta ou cem anos tentará explicar o nosso tempo. Em que momento começamos, ele se perguntará sem dúvida, a entender, em Israel, que o país, que se tornou um Estado constituído com a Guerra de Independência de 1948, fundado nas ruínas do judaísmo europeu e ao preço do sangue de 1% de sua população, incluindo milhares de combatentes sobreviventes do Holocausto, havia se tornado um monstro para os não-judeus sob seu jugo? Quando, exatamente, os israelenses, pelo menos em parte, perceberam que sua crueldade com os não-judeus sob seu controle nos territórios ocupados, sua determinação de destruir a esperança da liberdade e independência dos palestinos ou sua recusa em conceder asilo aos refugiados africanos começavam a minar a legitimidade moral de sua existência nacional?
Zeev Sternhell *, na Carta Maior Zeev Sternhell | Reprodução
A resposta, dirá talvez o historiador, se encontra no microcosmo das ideias e atividades de dois importantes membros da maioria, Miki Zohar (Likud) e Bezalel Smotrich (Lar Judaico), representantes fiéis da política governamental, que passaram a ocupar recentemente os holofotes. Mais importante ainda é o fato de esta mesma ideologia estar na raiz dos chamados projetos de lei "fundamentais" — isto é, constitucionais — que a Ministra da Justiça, Ayelet Shaked, com o imediato consentimento do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, propõe levar rapidamente à votação no Knesset.
Shaked, número dois do partido da direita religiosa nacionalistas, o Lar Judaico, além de seu nacionalismo extremo, representa perfeitamente uma ideologia política segundo a qual uma vitória eleitoral justifica o controle de todos os órgãos do Estado e da vida social, desde a administração à justiça, passando pela cultura. No espírito desta direita, a democracia liberal não passa de infantilidade. O significado de tal movimento é fácil de entender para um país de tradição britânica que não possui uma Constituição escrita, apenas regras de comportamento e um quadro legislativo que pode ser mudado por maioria simples.
O elemento mais importante desta nova jurisprudência é uma legislação chamada "lei do Estado-nação": trata-se de duro ato constitucional nacionalista, que não seria renegado pelo nacionalismo integral de Charles Maurras, e que nem a Sra. Le Pen, hoje, se atreveria a propor — mas que poderia ser acolhido com satisfação pelos movimentos nacionalistas autoritários e xenófobos polonês e húngaro. Eis-nos diante de judeus que esqueceram que seu destino, desde a Revolução Francesa, está ligado ao liberalismo e aos direitos humanos e hoje produzem um nacionalismo alinhado com o mais empedernido chauvinismo europeu.
A impotência da esquerda
Esta lei tem o objetivo declarado submeter os valores universais do Iluminismo, do liberalismo e dos direitos humanos aos valores particularistas do nacionalismo judaico. Ela forçará a Suprema Corte — cujas prerrogativas Shaked, em todo caso, se empenha em reduzir, além de minar seu caráter liberal tradicional, substituindo, sempre que possível, os juízes que se aposentam por advogados próximos — a dar veredictos sempre em consonância com a letra e o espírito da nova legislação.
A ministra vai ainda mais longe: ela acaba de declarar que os direitos humanos terão que se curvar à necessidade de garantir uma maioria judaica. Mas como nenhuma ameaça pesa sobre esta maioria em Israel, onde 80% da população é judaica, trata-se de preparar a opinião pública para a nova situação: no caso da anexação dos territórios palestinos ocupados, desejada pelo partido da ministra, a população não-judaica será privada do direito de voto.
Graças à impotência da esquerda, esta legislação será o primeiro prego no caixão da antiga Israel, da qual restará apenas a declaração de independência como peça de museu para lembrar às gerações futuras o que nosso país poderia ter sido se nossa sociedade não tivesse se degenerado moralmente em meio século de ocupação, colonização e apartheid nos territórios conquistados em 1967, hoje ocupados por cerca de 300 mil colonos.
Hoje, a esquerda já não é capaz de fazer frente a um nacionalismo que, em sua versão europeia, bem mais extrema que a nossa, havia quase conseguido aniquilar os judeus da Europa. Por isso é aconselhável que sejam lidas, em Israel e no mundo judeu, as duas entrevistas feitas por Ravit Hecht para o Haaretz (de 3 de dezembro de 2016 e 28 de outubro de 2017) com Smotrich e Zohar. Fica claro como cresce, sob nossos olhos, não um mero fascismo local, mas um racismo próximo ao nazismo em seus primórdios.
Como toda ideologia, o racismo alemão também evoluiu e, originalmente, atacava apenas os direitos humanos e cidadãos dos judeus. É possível que, sem a Segunda Guerra, o "problema judeu" se resolvesse por uma emigração "voluntária" dos judeus dos territórios controlados pela Alemanha. Afinal, quase todos os judeus da Alemanha e da Áustria conseguiram sair a tempo. Não se deve excluir a hipótese de que, para alguns setores da direita, a mesma sorte possa ser reservada aos palestinos. Seria necessária apenas uma oportunidade, uma boa guerra, por exemplo, acompanhada por uma revolução na Jordânia, que pudesse empurrar a maioria dos habitantes da Cisjordânia ocupada para o Leste.
O espectro do apartheid
Os Smotrich[1] e os Zohars[2], sejamos claros, não pretendem atacar fisicamente os palestinos, desde que, obviamente, estes aceitem a hegemonia judaica sem resistência. Eles simplesmente se recusam a reconhecer os direitos humanos dos palestinos, seu direito à liberdade e independência. Da mesma forma, no caso da anexação oficial dos territórios ocupados, eles e seus partidos políticos já anunciam sem rodeios que negarão a nacionalidade israelense aos palestinos, bem como, é claro, o direito ao voto. Para a maioria no poder, os palestinos estão condenados para sempre ao status de população ocupada.
[3] e Zohar, um judeu do Brooklyn, que talvez nunca tenha posto os pés nesta terra, é um proprietário legítimo, mas o árabe que nasceu ali, assim como seus antepassados, é um estranho cuja presença é aceita apenas pela boa vontade dos judeus e sua humanidade.
O palestino, diz Zohar, "não tem direito à autodeterminação porque ele não é dono da terra. Eu o quero como residente, por causa de minha honestidade, uma vez que ele nasceu aqui, mora aqui, não vou dizer-lhe para ir embora. Lamento dizê-lo, mas [os palestinos] sofrem de uma lacuna importante: não nasceram judeus".
O que significa que, mesmo que os palestinos decidissem se converter, começassem a deixar os peiot[4] crescer e a estudar a Torá e o Talmud, de nada adiantaria. Assim como aos sudaneses e eritreus e seus filhos, que são israelenses em todos os aspectos — língua, cultura, socialização. Era a mesma coisa entre os nazistas. Depois vem o apartheid, que, de acordo com a maioria dos "pensadores" da direita, poderia, em certas condições, se aplicar aos árabes cidadãos israelenses desde a fundação do Estado. Para nosso infortúnio, muitos israelenses que se envergonham de tantos de seus representantes eleitos e desprezam suas ideias, por variadas razões, continuam a votar na direita.
* Historiador, membro da Academia de Ciências e Letras de Israel, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, especialista em história do fascismoTradução de Clarisse Meireles
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[1] Partidários de Bezalel Yoel Smotrich, político judeu integrante do Tkuma, partido israelense ortodoxo de extrema-direita [nota da edição].
[2] Partidários de Miki Zohar, político judeu integrante do Likud, partido de direita israelense [nota da edição].
[3] Ayelet Shaked, política judia integrante do The Jewish Home (A Casa Judaica, em tradução livre), partido ortodoxo sionista [nota da edição]
[4] Mechas de cabelos laterais, características dos judeus ortodoxos [nota da edição].
A delegação brasileira encerrou sua participação no Parapan de Santiago (Chile) com a melhor campanha da história, ao totalizar 343 medalhas (156 ouros, 98 pratas e 89 bronzes), 35 a mais que na edição passada, há quatro anos, em Lima (Peru). Líder no quadro de medalhas, o Brasil deixou para trás Estados Unidos, segundo colocado com 166 pódios, e Colômbia (em terceiro com 161). O Brasil segue hegemônico na competição, liderando a classificação geral, desde a edição do Rio de Janeiro (2007). A edição de Santiado chegou ao fim neste domingo (26).
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Chegou o quadro final de medalhas do Parapan #Santiago2023!
Fechamos com 343 medalhas no total: 156 🥇, 98 🥈 e 89🥉.
“O resultado foi extraordinário. Sabíamos que era um grande desafio fazer uma campanha melhor que Lima, mas nossa delegação superou todas as marcas de todos os tempos. Tivemos uma participação muito importante nos Jogos, com atletas jovens – 40% deles disputaram a competição pela primeira vez. Mais de 100 medalhas foram conquistadas por jovens. Realmente uma competição espetacular”, festejou Mizael Conrado, bicampeão paralímpico de futebol de cegos, e atual presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Foto: Douglas Magno/CPB A ciclista brasileira Jady Malavazzi exibe medalha de ouro em Santiago
Domingo com 11 pódios do Brasil
O ciclismo e o badminton garantiram as últimas medalhas (cinco ouros e seis pratas) do Brasil neste domingo (26). A primeira a subir ao topo do pódio foi a brasiliense Daniele Souza que venceu a peruana Jaquelin Javier, por 2 a 0, no torneio de simples do badminton da classe WH1 (cadeira de rodas), com parciais de 21/13 e 21/13.
Os primeiros🥇🥇do badminton! 🏸
Daniele Souza, WH1, e a dupla Edwarda Oliveira e Rogério Oliveira, SL3-SU5, já garantiram seus lugares no pódio. Parabéns, galera! 💛💚
Além de Daniele, outros sete atletas da modalidade asseguraram medalhas na modalidade. A sergipana Maria Gilda Antunes foi prata ao ser superada por 2 a 0 (21/4 e 21/2) pela peruana Pilar Cancino, pela classe WH2 (cadeira de rodas). Vice-campeão paralímpico nos Jogos de Tóquio, o paranaense Vitor Tavares, deixou escapar o ouro e foi prata depois de perder a final da disputa de simples da classe SH6, por 2 a 0 (21/19 e 21/15,).
O badminton brasileiro garantiu ainda dois ouros em cinco finais. O casal de noivos formado pela paranaense Edwarda Dias e o paulista Rogério Oliveira bateram os compatriota Adriane Ávila e Yuki Roberto por 2 a 0 (21/13 e 21/13) na final .duplas mistas das classes SL3 (pessoas com deficiência nos membros inferiores que andam) e SU5 (pessoas com deficiência nos membros superiores).
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“É uma vitória que a gente estava trabalhando muito para conseguir devido a pontuação para a classificação para Paris. Isso nos deixa muito mais próximos do sonho, que é ter uma vaga nos Jogos de Paris 2024”, festejou Rogério, de 22 anos.
O brasiliense Marcelo Conceição também assegurou o ouro, no torneio de simples masculino, classe WH1 (cadeira de rodas), ao superar o paulista Rodolfo Cano (prata), que ficou com a prata. Conceição ganhou por 2 a 0 (21/8 e 21/5. Fechando os pódios do badminton, o paulista Júlio César Godoy ficou com a prata no torneio de simples da classe WH2 (cadeiras de rodas) após derrota para o chileno Jaime Urrutia por 2 a 0 (21/15 e 21/11).
No ciclismo, a paranaense Jady Malavazzi garantiu o ouro ao venceu a prova de ciclismo de estrada, com o tempo de um tempo de 1h32min42, deixando para trás com a prata as norte-americanas Sophia Brim (1h38min48), medalha de prata, e Jenna Rollman (1h38min49), que ficou com o bronze.
Jady malavazzi é campeã no road race, Brasilllll 🇧🇷🥇❤️
Também teve ouro da paulista Bianca Canovas Garcia na prova individual contrarrelógio dada classe B2 (limitação visual), ao lado da piloto com o que conta com o auxílio de um guia piloto Nicolle Borges. Elas cruzaram em primeiro lugar a linha de chegada em 2h06min36. A prata ficou com a argentina Maria Agustina Cruceño (2h10min49), e o bronze com outra argentina: Maria José Quiroga (2h13min06).
“Foi muito emocionante fazer essa prova, mais essa conquista, graças a Deus deu tudo certo, conseguimos o primeiro lugar. Treinamos muito para isso, a prova estava bem complicada, mas deu tudo certo no final”, afirmou Bianca Garcia.
Fechando o rol de medalhas do ciclismo, o paulista Lauro Chaman foi prata na prova de estradda ciclismo da classe C4-5 (deficiência físico-motora e amputados) como tempo empo de 1h48min58. Em primeiro lugar, com o ouro, foi do colombiano Carlos Vargas (1h48min58), e o bronze ficou com o dominicano José Rodríguez (1h52min05).
Redação Agência Brasil
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