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Sem EUA, acordo diplomático deve ser construído entre Rússia, Ucrânia, França e Alemanha

Chanceler russo reafirmou boas relações com países da América do Sul; país não descarta instalar bases militares na região
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Ao comparecer perante os deputados da Duma, o chanceler Serguei Lavrov sublinhou ontem que a Rússia está preparada para adotar medidas que garantam sua segurança e, ao fazer um resumo das relações com outros países, destacou os nexos amistosos que mantém com muitos países da América Latina.

“Efetivamente, temos relações antigas e estreitas com muitos países na América Latina, e não só com Cuba, Venezuela e Nicarágua, embora provavelmente eles sejam nossos sócios mais próximos”, apontou Lavrov.

O chanceler recordou que há pouco tempo o presidente Vladimir Putin falou por telefone com os mandatários desses países, acordando com seus homólogos “ampliar a cooperação estratégica em todas as áreas”.

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Esta menção adquire especial relevância no contexto das eventuais medidas que a Rússia poderia tomar para responder à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o leste, que considera uma séria ameaça.

Horas mais tarde, o próprio Lavrov confirmou que a Rússia recebeu as respostas por escrito dos Estados Unidos e da OTAN à sua exigência de que sejam outorgadas garantias vinculantes em matéria de segurança, que incluem três pontos básicos: não admitir novos membros, em referência sobretudo à Ucrânia e à Geórgia; não instalar o armamento que Moscou qualifique de ameaça; e desmantelar a infraestrutura militar que a aliança norte-atlântica construiu na Europa central e do leste depois de 1997.

Chanceler russo reafirmou boas relações com países da América do Sul; país não descarta instalar bases militares na região

Kremlin/Wikimedia Commons
Acordo pode ser única forma de alcançar um arranjo político e sair do ponto morto em que se encontra o conflito

EUA e OTAN entregam respostas

O embaixador estadunidense, John Sullivan, entregou o documento ao vice-ministro russo de Relações Exteriores, Aleksandr Grushko. A OTAN também entregou sua resposta ao embaixador russo em Bruxelas, Aleksandr Tokovinin.

A exigência russa já havia sido rechaçada de forma verbal e é de se supor que tampouco se satisfez por escrito. O secretário estadunidense de Estado, Antony Blinken, teve especial cuidado de não parecer categórico na entrevista coletiva que ofereceu em Washington para dar a conhecer a entrega do documento, mas não pode evitar dizer que os Estados Unidos não vão renunciar à sua política de “portas abertas”, entre outras mensagens claras que confirmam que a exigência russa, na perspectiva estadunidense, não pode ser cumprida.

Nesse sentido, a negativa não constitui nenhuma surpresa e agora haverá que ver se Moscou está de acordo em sentar-se para negociar com os Estados Unidos e a OTAN isso que Blinken, ao pedir ao Kremlin que não publique a resposta da Casa Branca, deu a entender que os países deveriam falar de maneira confidencial nos espaços da diplomacia.

Logo se saberá se Lavrov aceita reunir-se com Blinken para iniciar uma nova fase de negociação a partir das iniciativas contidas na resposta dos Estados Unidos e da OTAN ou, se declinar esse convite, quais serão as medidas “técnicas e militares” que a Rússia advertiu que tomaria se não fossem levadas em consideração suas preocupações no âmbito da segurança.

Especulações e rumores

Circulam todo tipo de especulações e rumores, mas até agora nenhum destes se tornou decisão oficial: desde instalar bases militares em países próximos aos Estados Unidos ou apontar os mísseis nucleares para Washington e para as capitais europeias, até romper relações diplomáticas ou suspender o fornecimento de gás natural aos seus clientes na Europa, sem descartar uma operação militar na Ucrânia.

Entretanto, apesar da crescente tensão que produzem as cotidianas demonstrações de músculos, já seja mediante novas manobras militares (russas) onde não deveria haver em condições normais ou anúncios de deslocar tropas (estadunidenses) para onde tampouco deveriam estar em tempos de paz, continua aberta a porta diplomática para um arranjo político da crise da Ucrânia, como demonstrou o fato de que os assessores políticos dos líderes da Alemanha, França, Rússia e Ucrânia se reunissem ontem em Paris.

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Estes países, com a mediação da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa, criaram um mecanismo para negociar que chamaram de “formato de Normandia” (em honra à localidade francesa onde se reuniram pela primeira vez para tratar de encontrar uma solução ao problema das regiões separatistas pró russas do sudeste da Ucrânia), mas não foram capazes de começar a instrumentar seu principal resultado, os acordos de Minsk, subscritos há sete anos.

Até agora esses acordos, que são uma relação de medidas razoáveis que contam com o aval do Conselho de Segurança das Nações Unidas, são reconhecidas por todas as partes implicadas, como a única plataforma para alcançar um arranjo político e, ao mesmo tempo é claro que não podem ser cumpridos com sua atual redação e se requer um novo entendimento, impensável sem concessões recíprocas, para sair do ponto morto em que se encontra o conflito.

Obstáculo intransponível

O obstáculo intransponível é que nem a Ucrânia nem a Rússia querem mudar a ordem de dois compromissos assumidos por ambos: celebrar eleições nas APRDL (Algumas Partes das Regiões de Donietsk e Lugansk, como se denominam nos documentos as zonas que não se supeditam a Kiev) e ceder a Ucrânia o controle da fronteira com a Rússia. Enquanto Kiev exige primeiro fechar a fronteira e só depois convocar essas eleições, Moscou recusa que se tire uma só vírgula da sequência que foi aceita pelo anterior presidente ucraniano. Petro Poroshenko.

A Ucrânia sustenta que, desde 2014, a Rússia fornece armamento e outro tipo de ajuda logística aos separatistas, porquanto suas milícias dispõem de tanques, peças de artilharia e outras armas que não tinha o exército ucraniano e não puderam obtê-las nos campos de batalha. A Rússia o nega e, como resposta à entrega de armas dos Estados Unidos à Ucrânia, a bancada oficialista da Duma propôs ontem ao Kremlin começar o envio de armamento às auto proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (RPDeL), que ocupam uma parte das regiões homônimas.

Para pressionar mais, a Duma discutirá na semana entrante se aprova a proposta da bancada do partido comunista de solicitar ao presidente Vladimir Putin que reconheça às RPDeL; a esse respeito, a Rússia diz estar preocupada por seus cidadãos depois de repartir aí 600 mil passaportes.

Os especialistas acreditam que a iniciativa comunista não vai prosperar, pois seria renunciar aos acordos de Minsk, que permitem a Moscou insistir em que Kiev deve cumprir os compromissos ao pé da letra, na sequência em que estão assinados, o que favorece seus interesses na região e dificulta que a Ucrânia possa solicitar seu ingresso à OTAN.

Juan Pablo Duch, Correspondente de la jornada em Moscou.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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