A doutora Yoandra Muro é lembrada por muitos pela notícia do sequestro de que foi vítima na Bolívia, durante o golpe contra o presidente Evo Morales em novembro de 2019.
O evento precisamente dito cortou a colaboração médica cubana naquela nação sul-americana.
Se fosse uma questão de escolha, porém, ela escolheria manter na memória as milhares de vidas salvas, as milhões de consultas, os mais de cinco mil novos médicos com os quais se privilegiou o sistema de saúde daquele país, durante a missão de Cuba, que lá ficou 13 anos, dos quais dois e meio tiveram a sua liderança.
Para Yoandra Muro e os colaboradores cubanos foram “dormir como profissionais reconhecidos e despertaram tratados como terroristas”, disse ela em declarações à Prensa Latina na Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), que dirige hoje.
“Sempre escolhi ser médica”, assegura quando fala da profissão, cujos estudos fez primeiro na província central de Villa Clara e depois na capital da ilha caribenha; onde ela serviu como diretora de saúde de um município de Havana, bem como chefe das missões médicas cubanas na Guatemala e na Bolívia.
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Mas de todas essas evocações, ela prefere viajar aos anos em que como dirigente da Federação de Estudantes Universitários era muito próxima do Comandante Fidel Castro, e o dia em que, como um das melhores graduadas do Instituto de Ciências Médicas de Havana, ela recebeu de suas mãos o título.
Prensa Latina
A Dra. Yoandra Muro
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Talvez a chave para entender como Yoandra Muro enfrentou as diferentes experiências que teve como médica esteja nessa trajetória de liderança da qual ela fala com orgulho hoje.
Com apenas 27 anos, conheceu a Guatemala “de ponta a ponta, na missão que deu início ao Programa de Saúde Integral na região”, explica, referindo-se ao projeto de colaboração médica idealizado pelo líder histórico da Revolução Cubana, como resultado do Furacão Mitch na América Central.
A especialista lembra que atenderam a população de 22 departamentos daquele país e aí deram início à Operação Milagre, outra das iniciativas na ilha caribenha que permitiu devolver a visão a mais de três milhões de pacientes no continente.
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“Lembro que o ‘personagem do ano’ foi escolhido para a brigada médica em uma pesquisa de popularidade realizada pelo principal jornal da Guatemala e na qual competiram figuras de todas as esferas”, diz.
Recorda também a primeira ação solidária do Contingente Henry Reeve realizada naquele território após a passagem da Tempestade Tropical Stan, depois que o então Presidente dos Estados Unidos George W. Bush rejeitou a ajuda prestada por Cuba devido ao flagelo do Furacão Katrina.
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Mais de 600 médicos cubanos atenderam a nação centro-americana, lembra Yoandra.
“A Guatemala me fez crescer profissionalmente, trabalhando com pessoas com muita experiência no sistema de saúde”, ressalta a médica, torcendo o diálogo com a Bolívia, “um país que me fez amadurecer”.
Esta experiência marcou inclusive a maneira como hoje enfrento as questões mais cotidianas, refere, e elogia os médicos que não pararam os serviços médicos até o último momento, mesmo quando o golpe foi consumado e a orientação de Cuba era proteger os médicos.
A segurança de nossos colaboradores estava em risco devido às campanhas de ódio e descrédito contra a brigada médica.
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Apesar disso, Yoandra lembra particularmente de um acontecimento no município de Valle Grande, onde uma jovem com complicações na gravidez chegou ao posto médico atendido pelos cubanos quando já estavam aposentados.
“Não podíamos dizer aos meus médicos para não salvá-la. Eles ficaram lá e fizeram uma cesariana na paciente”, disse ela.
Os mais de 700 médicos que permaneceram na Bolívia no final de outubro de 2019 tiveram que deixar os 33 hospitais, cinco centros oftalmológicos e mais de 100 instituições onde trabalhavam no Sistema Único de Saúde, projeto idealizado pelo ex-presidente Evo Morales para prestar assistência gratuita a toda a população.
Será difícil esquecer as 49 detenções arbitrárias de colaboradores, os médicos apontados com uma arma e o rapto com ela de Jacinto Alonso, o oficial de logística da missão; bem como a falsa denúncia de mais de 100 computadores (a missão tinha apenas 15) com os quais Cuba teria participado em fraudes eleitorais, que nunca existiram.
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“Era como um filme, você olhava para o lugar onde morava e parecia que era outro lugar. Era uma coisa realmente fascista, aquele fascismo que você lê nos livros”, diz.
“Alguém uma vez me perguntou, você não estava com medo? E claro que você está, você sempre tem, mesmo quando eu ia dormir eu chorava, mas quando eu estava na frente deles, saia dignidade de dentro”, enfatiza.
Quando questionado sobre como a ajuda prestada por Cuba transformou essas populações, respondeu que lhes ensinou “uma outra forma de ver o ser humano, que as pessoas podem ser valorizadas e respeitadas e a compreender o conceito de saúde como um direito”.
E é que, para quem hoje assume a reitoria da ELAM, instituição que formou profissionais de saúde em mais de 100 países, as campanhas de descrédito contra os médicos cubanos não fazem sentido.
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“Nossos médicos, enfermeiras e técnicos de saúde aderiram voluntariamente à colaboração médica em outros países, arriscamos nossas vidas e aprendemos que não importa se você tem ou não tem dinheiro, porque o fundamental é salvar vidas”.
“O mundo está cheio de excelentes doutores, formados nas melhores universidades com alta tecnologia, mas os cubanos se distinguem pela sensibilidade”, conclui Yoandra, ao se cercar de jovens de várias regiões que hoje estudam na ELAM, e para quem mais do que uma diretora, nela eles têm uma vital amiga.
Lissy Rodríguez Guerrero, da Redação de Prensa Latina em Havana
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