Se alguém pensou que a retirada de Iber Maraví da Carteira de Trabalho e a troca de ministros – inclusive Guido Bellido- ia deixar satisfeita a devoradora fera da oposição neonazista, se equivocou por completo.
Deixou-a sem chão, é verdade. E lhe tirou argumentos. Também a colocou em evidência, desnudando sua entranha obstrucionista. Mas não lhe tirou a vontade de continuar nesta paródia de guerra na qual situa o governo de Pedro Castillo como seu principal inimigo, e contra o qual atiça todos os seus fogos.
Agora é o titular do Interior, Luis Barranzuela, contra o qual acumula denúncias e acusações de todos os tipos. Acusa-o, como é o estilo de uma máfia qualquer, de tudo o imaginável: indisciplina no corpo policial do qual formava parte, assessoria legal em sua condição de advogado a pessoas supostamente vinculadas a presumíveis delitos, enfim, tudo o que possa servir para menoscabar sua imagem, difamar sua figura e avançar no caminho de uma “censura” não por sua função ministerial, mas sim pelo que haveria feito desde que veio ao mundo até nossos dias. Anseia vê-lo, também, fora da carreira.
E já avista um triunfo nesta tarefa. Por isso, aviva tua luz assinalando um novo alvo. A edição de “Expresso” de quinta-feira, dia 14, dispara fogo graneado contra Carlos Gallardo, o novo titular de Educação, ao qual chama de “Senderista”.
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Carlos Gallardo é professor há muitos anos, de antiga trajetória profissional. Professor de primária, como Pedro Castillo, esteve sempre ligado às lutas sindicais do magistério e às suas organizações representativas. Por isso apareceu entre os fundadores do SUTEP nos primeiros anos da década de 70, e pagou por isso uma dura condenação que não o dobrou nunca.
Depois, seguiu em sua tarefa tanto docente como reivindicativa. Mas projetou também sua imagem como construtor de um modelo educativo de corte renovador, democrático e popular. Em uma posição sempre contestadora, mostrou-se dissidente do núcleo dirigente do SUTEP e estimulou uma batalha própria, que se cristalizou na greve do magistério de 2017 na qual compartilhou tribuna e posições com o hoje Chefe de Estado. É por isso que o condenam.
Por seu nível acadêmico, sua experiência docente e sua identificação resoluta com a causa do magistério, a ninguém poderia surpreender que um governo como o atual o houvesse designado como titular da pasta do setor. Mas nada disso importa aos que têm em suas mãos o manejo da “oposição”.
Para eles, o tema é recusar e obstruir. Se com Barranzuela já têm um objetivo, vão por Gallardo do mesmo modo como antes foram por Maraví e Bellido; e ainda antes, por Héctor Béjar.
Bloque Popular Juvenil
Devemos sentir-nos unidos pela solidariedade de classe, vinculados pela luta contra o adversário comum
Que o governo retroceda ante esses assédios, se explica, mas não se justifica. O enxadrista Castillo poderia ceder peças em seu tabuleiro, mas não deveria retroceder em sua luta, nem desfazer seus caminhos. É nobre reconhecer que isso não ocorreu, mas se a perseguição do inimigo lhe gerar crescente debilidade, poderia sentir-se tentado a percorrer esse caminho. E isso sim, seria fatal.
Por essa razão é lamentável o fato de que Peru Livre tenha resolvido na noite de quarta-feira, dia 13, romper seus vínculos com o governo. Tal decisão não só foi saudada pela direita, também foi usada por ela para encontrar adversidades.
Assim, “La Razón”, por exemplo, bateu palmas dizendo que Cerrón lhe disse “traidor” a Castillo. E “Correo” , “Perú 21” e Willax TV fizeram o mesmo. Sentiram-se no seu lugar.
Não é sensato, para o movimento popular, estimular fricções nem rupturas. Tampouco colocar-se ao lado de uns contra outros. Esta não é hora de confronto, mas sim da unidade na esfera do povo.
Se os acontecimentos recentes tornam impossível que esta unidade se mantenha em termos orgânicos, é preciso esforçar-se ao máximo para que se expresse no plano das coincidências políticas.
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Há que assegurar que aqueles que hoje se situam em trincheiras diferentes, disparem contra o mesmo adversário e não se ataquem entre si. Atacar ao lado quando se tem o inimigo à frente seria simplesmente suicida.
O que é preciso salvar não é um homem nem um Partido, mas sim o Projeto de transformações sociais, esse pelo qual votou o povo nas eleições de junho, e que concitou um massivo respaldo cidadão.
Esse projeto implica a proteção e a recuperação das riquezas básicas; a atenção às demandas pontuais da população, sobretudo em matéria de saúde, educação, economia e emprego; uma nova Carta Magna realmente popular, democrática, participativa e inclusiva; a luta aberta contra a ameaça crescente do fascismo em nosso solo; e uma política exterior independente, autônoma e soberana que nos permita amizade a solidariedade com todos os governos e povos.
Se coincidimos em objetivos básicos, bem podemos marchar na mesma direção, embora mantenhamos destacamentos separados. Embora não seja o melhor, pode ser, no entanto, o possível.
Depois de tudo, os interesses do país e dos trabalhadores estão acima dos afãs pessoais e partidários.
Como dissera Mariátegui, todos devemos sentir-nos “unidos pela solidariedade de classe, vinculados pela luta contra o adversário comum, ligados pela mesma vontade revolucionária e a mesma paixão renovadora”.
A Frente Única nos convoca a todos.
Gustavo Espinoza M., Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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