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Time de beisebol cubano é agredido em Miami; Cuba denuncia conivência de autoridades

Seleção cubana foi alvo de ataques físicos, ameaças, linguagem ofensiva e ofensas morais. Jogo teve que ser interrompido três vezes
Redação Diálogos do Sul
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O Ministério das Relações Exteriores de Cuba emitiu, nesta quinta-feira (22), uma contundente declaração denunciando os incidentes hostis e perigosos que ocorreram durante o jogo semifinal do V Clássico Mundial de Beisebol entre as equipes Cuba e Estados Unidos, realizado no estádio LoanDepot Park, na cidade de Miami, na Flórida.

A declaração descreve os vários tipos de agressões que a equipe cubana enfrentou, incluindo ataques físicos diretos, ameaças, linguagem ofensiva e ataques ao moral da equipe.

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De acordo com a denúncia, objetos foram lançados contra os jogadores cubanos e suas famílias, incluindo mulheres, crianças e idosos, bem como contra membros da delegação e representantes da imprensa cubana. Nem os espectadores que apoiavam a equipe de Cuba foram poupados da agressão.

O jogo teve que ser interrompido três vezes por invasão ao campo, o que, de acordo com a chancelaria cubana, colocou em perigo a segurança e a estabilidade dos jogadores e da equipe.

“Esses incidentes foram organizados com a nítida intenção de desestabilizar os jogadores cubanos e prejudicar seu desempenho, e contrastaram com as muitas mensagens de apoio e solidariedade que a equipe recebeu dos cubanos e cubano-americanos em Miami”, diz trecho do comunicado.

O órgão cubano também alertou para o fato de que a cidade de Miami não apresentou as condições devidas para sediar um evento internacional, e destaca que autoridades locais têm responsabilidade por essa situação, sobretudo porque ninguém foi preso pelos incidentes.

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Outro ponto destacado foi a falta de igualdade de condições para que a equipe cubana participasse do evento. Isso porque, antes do início do campeonato, a equipe cubana teve que enfrentar um processo complexo para obter autorização de autoridades dos EUA. As licenças, inclusive, proibiram explicitamente vários membros da equipe de viajar para Cuba com seus companheiros após o término do torneio.

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Seleção cubana foi alvo de ataques físicos, ameaças, linguagem ofensiva e ofensas morais. Jogo teve que ser interrompido três vezes

Foto: Roberto Morejón
"É impossível entender que as ridículas invasões de campo foram inevitáveis", denuncia o portal esportivo cubano Jit

O portal esportivo cubano Jit também publicou uma crítica às cenas repugnantes de agressão contra o grupo cubano: “Não é preciso conhecer esportes para entender como pode ser difícil para um jogador atingir a concentração necessária para enfrentar a poderosa seleção americana enquanto esposas e filhos são atacados por personagens desprezíveis nas arquibancadas”, observa o periódico.

O especializado aponta ainda que os ataques foram dirigidos inclusive a mulheres “por quem tanto fala de direitos humanos e liberdade de pensamento”, além de reforçar: “É impossível entender que as ridículas invasões de campo foram inevitáveis ou que as revistas supostamente destinadas a impedi-las acabaram não detectando faixas de tamanho considerável”.

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A declaração de Cuba, por sua vez, enfatiza que a ilha continuará disposta a participar de eventos assim e honrará seus compromissos como anfitrião em todos os torneios internacionais realizados no país. “Acima de tudo, o amor por Cuba e pelo esporte sempre prevalecerá sobre o ódio”. Confira na íntegra a tradução do documento:

Autoridades de Miami hostilizaram equipe cubana de beisebol

Declaração do Ministério das Relações Exteriores

Em 19 de março de 2023, durante o jogo semifinal do V Clássico Mundial de Beisebol entre as equipes de Cuba e dos Estados Unidos, realizado no estádio LoanDepot Park, na cidade de Miami, na Flórida, ocorreram lamentáveis e perigosos incidentes contra a equipe cubana que participou do evento, o que Cuba denuncia de forma enérgica.

Foi um jogo difícil. A equipe cubana foi defender dignamente suas cores, após ter chegado à semifinal por méritos conquistados no campo. Enfrentou um conjunto reconhecido por sua superioridade técnica e que saiu claramente vencedor. O comportamento da equipe americana e sua direção foram respeitosos e de acordo com o espírito esportivo, que deve prevalecer nesses eventos. Sua vitória é merecida. Mas a equipe cubana também teve que enfrentar lá uma agressividade vil e organizada, que contrastou com as múltiplas mensagens de apoio, reconhecimento e solidariedade que recebeu de muitas pessoas nos Estados Unidos, na maioria cubanos ou descendentes de cubanos, uma boa parte deles da própria cidade de Miami.

Com o nítido propósito de desestabilizar nossos jogadores, foram realizados atos reiterados de diversas naturezas contra eles, contra a delegação que os acompanhou e contra os seguidores da equipe cubana no estádio. Estes incluíram agressões diretas, ameaças, uso de linguagem ofensiva e vulgar, ataques lesivos ao moral da equipe cubana e outros incidentes direcionados a minar o ânimo dos atletas e prejudicar o espetáculo.

Foram eventos contrários à concepção desse tipo de evento esportivo. As regras de ordem e conduta estabelecidas pelo estádio não foram cumpridas, havendo aparente conivência de certos representantes e pessoal dessa instalação esportiva e de autoridades locais, em particular, dos encarregados da ordem e segurança.

Objetos foram lançados contra os jogadores de beisebol e suas famílias, incluindo mulheres, crianças e idosos, bem como contra membros da delegação e representantes da imprensa cubana, e também contra espectadores que apoiavam a equipe de Cuba.

Supostos espectadores entraram três vezes no campo durante o jogo e interromperam a partida, colocando em perigo a segurança e estabilidade dos jogadores da equipe cubana. Foram proferidas reiteradas ofensas e ameaças aos atletas, em alta voz, quando estes estavam prestes a entrar no jogo, como ocorreu com o lançador cubano Frank Abel Álvarez, enquanto ele aquecia no bullpen (área de aquecimento de jogadores), o que vai contra as regras das Grandes Ligas de Beisebol (MLB) e qualquer noção de esporte limpo.

Cartazes com slogans políticos, linguagem obscena e vulgar, desrespeitosos com atletas e com o público em geral, que foram exibidos constantemente e interferiram no aproveitamento do jogo.

Da mesma forma, roupas com frases e imagens ofensivas, de conteúdo político, não permitidas pelas regras da organização esportiva, foram usadas. Da mesma forma, o Código de Conduta para Hóspedes estabelecido para o estádio foi repetidamente violado, a partir do consumo irresponsável de bebidas alcoólicas e da violação dos assentos numerados.

Na maioria das vezes em que representantes da delegação cubana ou das Grandes Ligas de Beisebol se dirigiram a agentes da polícia para denunciar as violações anteriormente descritas, estes não agiram contra os transgressores.

Todas essas ações eram suficientes para a expulsão imediata, citação, prisão ou outras consequências legais, que não foram aplicadas nesta ocasião. Esses fatos descaracterizaram um evento com profundas raízes culturais para ambos os países.

O Ministério das Relações Exteriores denuncia a cumplicidade demonstrada pelas autoridades locais, que permitiram e criaram as condições para que esses atos tivessem lugar, abertamente e com impunidade. Ao mesmo tempo, denuncia energicamente a incitação por parte de políticos locais e figuras que ocupam cargos públicos à indisciplina, agressão e cerco aos atletas.

A tolerância das forças da ordem, violando suas obrigações, estimulou a ocorrência de sucessivas agressões. Esses mesmos setores foram os que sabotaram em 2018 o acordo entre a Federação Cubana de Beisebol e as Grandes Ligas de Beisebol, que teria sido benéfico para todas as partes envolvidas e contribuído para acabar com o tratamento discriminatório aos atletas cubanos.

O Governo de Cuba alertou com tempo suficiente o Governo dos Estados Unidos, pelos canais diplomáticos, sobre as ameaças públicas e abertas que eram concebidas para manchar a participação da equipe cubana no segmento do campeonato, que seria realizado na cidade de Miami e sobre a trajetória corrupta e irresponsável das autoridades dessa cidade.

A equipe cubana não participou do evento em igualdade de condições. Muito antes do início do campeonato, a equipe cubana teve que enfrentar um processo complexo e discriminatório em que as autoridades das Grandes Ligas de Beisebol deveriam solicitar e receber, com atraso, a autorização de licenças do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

Esse processo incluiu uma permissão especial para que Cuba participasse do evento, outra posterior para que jogadores cubanos do circuito das Grandes Ligas se incorporassem e outra ainda mais tarde para concretizar sua integração antecipada com o resto da equipe. As licenças concedidas proibiram explicitamente vários membros da equipe de viajar para Cuba com seus companheiros após o término do torneio.

Tudo isso colocou em risco a participação cubana no Clássico de Beisebol e implicou desvantagens extraordinárias. Os atletas cubanos participaram de eventos esportivos em várias cidades dos Estados Unidos e outros países sem enfrentar esse clima de agressividade que parece singularmente na cidade de Miami.

Cuba não renunciará ao direito de competir em igualdade de condições em território estadunidense. Em contraste, Cuba continuará honrando seus compromissos como anfitrião em todos os torneios internacionais realizados em nosso país, onde sempre se respeitou e acolheu com entusiasmo atletas de todo o mundo, incluindo os dos Estados Unidos.

Fatos como os anteriormente denunciados ratificam mais uma vez que a cidade de Miami não possui condições mínimas para sediar um evento internacional e que suas autoridades têm responsabilidade fundamental nessa realidade desprezível.

Cuba agradece aos numerosos fãs e a todos aqueles que dentro e fora do estádio em Miami receberam com alegria e espírito esportivo a participação de Cuba no Clássico e sua classificação para as semifinais com uma equipe de cubanos residentes em Cuba e no exterior.

Muitos se aproximaram da equipe para oferecer seu apoio e solidariedade. O povo de Cuba viveu dias de emoção seguindo a equipe desde os primeiros jogos e sofreu como sendo contra si o vexame protagonizado por setores extremistas que agrediram a equipe e agrediram com aqueles que tornaram realidade, no Time Asere, o sonho de uma equipe de Cuba com a participação de jogadores cubanos das Grandes Ligas e de ligas de outros países.

Cuba continuará aberta a repetir essa experiência. Acima do ódio, sempre prevalecerá o amor a Cuba e ao esporte.

Havana, 22 de março de 2023 (Cubaminrex)

Para ler a íntegra da declaração original em espanhol, clique aqui.

Redação | Revista Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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