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Transição deixa defesa com porteira fechada para os militares

O fato é que os militares estão no comando da transição junto com o Centrão. Tudo por um bom emprego. Nada pela pátria. O protagonismo dos militares preocupa mais que tudo porque consagra a impunidade.
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Impressiona e preocupa que a essa altura do campeonato se verifique falta de sentido estratégico e até mesmo amadorismo na condução da transição. A área de Defesa, por exemplo, parafraseando uma amiga, foi deixada de porteira fechada para os militares. Um mal começo na perspectiva de que é preciso iniciar uma desmilitarização não só da Administração como da própria política do Estado.

Segundo alguns estudiosos, a questão militar se resolve dando ordem de comando à tropa. O novo presidente assume, ordena e os militares obedecem. O que falta, segundo eles, são objetivos, planos e voz de comando para os militares funcionarem. Tendo missão e mando voltam obedientes para os quarteis.

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A teoria e o querer que as coisas aconteçam chocam com a realidade. Essa geração de oficiais e seus generais planejaram durante décadas a captura do poder. Foi uma operação de guerra, inconstitucional, porém, exitosa. Mudaram as leis e baixaram normativas com a intenção de se perpetuar no poder.

Certamente, por não ter missão a cumprir, em função das necessidades nacionais, da construção da soberania, aceitaram a missão designada por Washington: capturar o Estado, neutralizar resistências e escancarar, até as barreiras do bom senso, a soberania nacional. 

A administração do Estado, conforme constata o relatório do Gabinete de Transição, desmontada, desarticulada, um verdadeiro descalabro. O território nacional virou terra de ninguém em proveito da bandidagem organizada.

Não é fácil colocar tudo isso em ordem. Exige muita competência. 

O fato é que os militares estão no comando da transição junto com o Centrão. Tudo por um bom emprego. Nada pela pátria. O protagonismo dos militares preocupa mais que tudo porque consagra a impunidade.

Orlando Brito
Transição deixa defesa com porteira fechada para os militares

Bom senso

O bom senso diria que haveria de iniciar com uma Administração enxuta, poucos ministérios em mãos das mais altas competências intelectuais e técnicas. Refazer a Administração, fazer o Estado voltar ter protagonismo na construção do desenvolvimento e da soberania.

Não é hora de ceder à voracidade dos partidos. A Frente Ampla foi feita para salvar o país. Então, a questão de reorganizar o Estado tem que ser prioritária. Não é com mais de 40 ministérios que serão ocupados por políticos dos partidos da frente que se consertará o país.

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Colocar João Jorge, diretor do Olodum num cargo público, como a Fundação Palmares, órgão que foi desestruturado pelos militares, está mais para afetar o Olodum que para resolver o problema. O bom senso manda colocar um bom gestor, político com garra, que saiba o que tem que ser feito, que terá entre suas tarefas dar condições para o Oludum se desenvolver e se projetar nacional e internacionalmente. O Brasil, desmontado, não é pra principiante. Entendo que o mesmo erro está sendo cometido no Ministério da Cultura. 

E em que outros mais? 

Quem comanda é a impunidade

O fato é que os militares estão no comando da transição junto com o Centrão. Tudo por um bom emprego. Nada pela pátria. O protagonismo dos militares preocupa mais que tudo porque consagra a impunidade. 

Os militares cometeram todo tipo de crimes! Não serão punidos? 

Isto significa Insegurança Jurídica. Sem segurança jurídica não se constrói nem democracia nem desenvolvimento.

Impunes e sem voz de comando os militares vão manter aquela expectativa burra, vista na campanha eleitoral de 2017 e 2018: Vai ter golpe? Num vai ter golpe? Ou seja, continuaram atuando como agentes da desestabilização. Como eu assinalei em outras matérias, a campanha eleitoral continua. Eles pretendem voltar, outra vez legitimados pelo voto, em 2026

A quem serve isso? Aos interesses expansionistas do imperialismo ianque e seus parceiros da Otan.

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Eles continuam em campanha e nós, os democratas na eterna vigilância. 

Na mobilização dos explorados e excluídos, levando a verdade a essa gente. Apontando as causas reais da dependência e suas consequências de miséria e exclusão, de predação contínua das riquezas que deveriam financiar o bem estar de todos.

É de perguntar-se. Qual verdade?

A verdade de que a luta é de classe. A verdade da mobilização para mudar a correlação de forças. Mostrar o significado dos detentores dos meios de produção e dos especuladores do capital financeiro. Há que perder o medo de expor as ideias que foram demonizadas e retomar a linha de massas. 

Mostrar a verdade de que os militares são o braço armado do imperialismo e que isso precisa mudar. Trabalhar o conceito de soberania com o soldado que mora perto de sua casa.

A verdade estratégica de que o inimigo principal é o imperialismo e de que a luta é pela Libertação Nacional. 

Encerro lembrando que no dia 21 que precedeu o Natal, um Tribunal na Alemanha condenou uma mulher de 97 anos. Seu crime? Nos anos 1940 ela foi secretária no Campo de Concentração Stitthof, na Polônia, onde foram executadas 10 mil vítimas do nazismo. É isso. Crime contra a humanidade não prescreve e quem cometeu esse crime deve ser julgado em qualquer circunstância. Tortura e genocídio são crimes contra humanidade.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora.
Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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