Pesquisar
Pesquisar

Triste constatação: ao invés de se preocupar com futuro do Brasil, Ciro quer apenas ter razão

O rancor é péssimo conselheiro; ainda há tempo de candidato pedetista Ciro Gomes descobrir isso?
Cynara Menezes
Socialista Morena
Brasília (DF)

Tradução:

Nesta segunda-feira, dia 12 de setembro, aconteceu um reencontro histórico: a ex-petista Marina Silva declarou oficialmente seu apoio a Lula, após mais de uma década de estranhamentos, desde a escolha de Dilma Rousseff para a sucessão do então presidente.

A ministra do Meio Ambiente e Dilma, ministra da Casa Civil, bateram de frente nos últimos anos do governo Lula, com suas visões opostas sobre desenvolvimentismo e preservação ambiental.

Assista na TV Diálogos do Sul

O tempo provou que Marina tinha razão, por exemplo, sobre Belo Monte: os impactos sobre o Xingu e as populações ribeirinhas não valeram a pena diante da baixa produção de energia.

A ex-ministra também tinha queixas em relação à campanha publicitária de Dilma em 2014, que considerou “caluniosa e difamatória” contra a sua candidatura, que quase chegou ao segundo turno naquela eleição – e não teria sido melhor para o Brasil?

Em vez disso, passou o tucano Aécio Neves ao segundo turno e Marina acabou apoiando-o. Derrotado, Aécio levantaria suspeitas indevidas sobre as urnas eletrônicas, facilitando o caminho para o discurso que é hoje utilizado por Jair Bolsonaro.

O rancor é péssimo conselheiro; ainda há tempo de candidato pedetista Ciro Gomes descobrir isso?

Foto: Ricardo Stuckert
"Estratégia” de emular Bolsonaro nas críticas a Lula não rendeu nem um só voto mais ao candidato do PDT nas pesquisas




Reconciliação esperada e necessária

Mas, nesta segunda-feira, os semblantes de Lula e Marina pareciam serenos, relaxados. O ex-presidente a abraçou e beijou na testa. Marina, generosa, retribuiu a afeição pública.

Os dois se conhecem desde 1985, quando a jovem acriana Osmarina, aos 27 anos, se filiou ao PT, na trilha do mentor Chico Mendes. É honesto dizer que, nestes anos todos, o PT mudou mais que Marina, que permanece fiel a seus princípios de defensora da floresta e dos que nela habitam.

E foi a mesma Marina Silva de sempre que deixou as mágoas para trás e abriu seu coração para Lula em nome da democracia e do Brasil.

“Nosso reencontro político e programático se dá diante de um quadro grave da história política, econômica, social e ambiental no nosso país”, afirmou Marina. “Temos uma ameaça que eu considero a ameaça das ameaças: a ameaça à nossa democracia. Sempre que a democracia é ameaçada há tentativa de corrosão do tecido social em todas as suas dimensões. E sempre que a gente está diante de propostas, atitudes e processos que constituem a possibilidade da banalização do mal, homens e mulheres se unem”, disse Marina.

Assista na TV Diálogos do Sul

“Sempre que surge diante de nós a possibilidade de banalizar o mal, brasileiros e brasileiras devem se unir em legítima defesa da democracia, em legítima defesa da Amazônia e dos demais biomas, em legítima defesa das mulheres, em legitima defesa dos mais pobres, em legítima defesa de um país que seja próspero, diverso, justo e sustentável. Nesse momento crucial da História, quem reúne as maiores e melhores condições para derrotar Bolsonaro e a semente maléfica do bolsonarismo que está se instalando no seio da sociedade é a sua candidatura”, disse a Lula.

Olhando as fotos de Ricardo Stuckert com os ocupantes da mesa da entrevista coletiva, impossível não lembrar da canção de Nelson Gonçalves: “Naquela mesa está faltando ele…” 

Todos os candidatos progressistas de 2018 se uniram a Lula contra Bolsonaro nesta eleição: Guilherme Boulos, do PSOL, Geraldo Alckmin, do PSDB (hoje PSB) e agora Marina Silva. Falta um. É uma pena constatar que, sem a inteligência emocional de Marina, Ciro Gomes queimou todas as chances de se juntar a um movimento que tanto precisa dele.


Vociferante

No mesmo momento em que Marina, Lula e Alckmin confraternizavam em torno da ideia de reconciliação nacional, Ciro publicava um vídeo vociferando os maiores impropérios contra o ex-petista, de quem aliás foi ministro.

Com as feições transtornadas, o pedetista chegou a acusar Lula de “cangaceirismo”, o que não deixa de ser contraditório para um nordestino que, quando é chamado de “coroné” pelos petistas, reclama de “xenofobia”.

De tão virulento, o vídeo foi compartilhado pelo ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fabio Faria, uma repercussão que se tornou frequente nesta eleição.

Ciro tentou instigar Marina contra Lula até o último momento, acusando o PT pela campanha de 2014 sem mencionar que o cérebro por trás daquela estratégia equivocada é o mesmo da sua, o publicitário João Santana. Marina Silva inclusive lamentou quando o pedetista contratou o marqueteiro.

Cannabrava | Centenário de Leonel Brizola, o grande estadista que o Brasil não teve

“João Santana representa a antítese do debate, é a política vista como um produto a ser vendido a qualquer custo e sem limite ético”, disse.

“Digo isso com conhecimento de causa por ter sido vítima desse tipo de estratégia em 2014, em ataques do PT, produzidos e operacionalizados por Santana. Portanto, jamais cometeria a incoerência de aceitar trabalhar com ele.”

Ciro, que sempre foi a segunda opção dos eleitores de Lula, cada vez mais se torna a segunda opção dos eleitores de Bolsonaro. Em vez de se preocupar com o Brasil, quer apenas ter razão. Parece torcer pela derrota de Lula para dizer que estava certo.

É uma pena que tanto Ciro quanto seu marqueteiro tenham decidido se guiar pelo rancor nesta eleição. A “estratégia” de emular Bolsonaro nas críticas a Lula não rendeu nem um só voto mais ao candidato do PDT nas pesquisas, nas quais se mostrou incapaz até agora de atingir os dois dígitos.

O que de fato aconteceu é que Ciro, que sempre foi a segunda opção de voto dos eleitores de Lula, cada vez mais se torna a segunda opção dos eleitores de Bolsonaro.

Triste constatar que, ao invés de se preocupar com o futuro do Brasil, Ciro quer apenas ter razão. Parece torcer para que Lula seja derrotado por Bolsonaro para dizer que estava certo. Marina Silva fez o caminho oposto, ao deixar as divergências de lado em nome do país e da democracia. O rancor é péssimo conselheiro. Ainda há tempo de Ciro Gomes descobrir isso?

Cynara Menezes | Socialista Morena


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Cynara Menezes

LEIA tAMBÉM

1fe87bc8-369d-4b78-beb4-3c0e60d7b520
Qual o preço da aprovação do furo do teto dos gastos? Saiu barato para o centrão!
60c4bd06-ab9f-4bd3-8926-d6d97b0e6289
Por mentir descaradamente durante eleições, Jovem Pan perde monetização no YouTube
a1478090-ccd2-4be6-a65e-9208a13c3341
Com derrota à crueldade fascista, RS dá fôlego à esquerda e retoma diálogo democrático
d3908a35-5d39-49e0-8e1b-a5eb2078d981
Fascistas nas ruas, serviço público precário e prefeito negligente: Porto Alegre volta a 1964