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Trump não está sozinho: cúpula democrática é cúmplice no ataque ao povo dos EUA

As chaves para entender esta conjuntura estadunidense não podem ser detectadas só observando suas cúpulas, mas também a rebelião das ruas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Nero joga golfe (não tem o talento musical como o romano original) enquanto seu império está em chamas, entre a pandemia descontrolada que ele insiste que está melhorando enquanto mata mais de mil pessoas por dia em seu país, e declara que “América será grandiosa outra vez” enquanto mais de 30 milhões estão não só desempregados, mas agora enfrentam o despejo de seus lares por não poder pagar aluguel e hipotecas.

Durante a pandemia mais da metade das famílias perderam renda enquanto uns 490 multimilionários incrementaram sua riqueza em mais de 700 bilhões de dólares. Tudo enquanto ele questiona o processo eleitoral democrático e tenta anulá-lo.

Tudo isso enquanto joga combustível no fogo nutrindo o ódio, o ingrediente secreto do seu projeto, com a agenda anti-imigrantes no centro. Vale sublinhar que esta segunda-feira marcou o aniversário do massacre de El Paso, onde um jovem branco no Texas matou 22 pessoas (8 delas de nacionalidade mexicana) para frear, disse, “a invasão hispana”. Embora não tenha sido um ato oficial, suas ordens haviam sida dadas nesse contexto desde a Casa Branca.

Mas Nero não está agindo sozinho: as cúpulas de ambos os partidos (ou seja, o equivalente talvez ao Senado romano) são cúmplices em levar esta república a uma crise existencial com graves consequências para o planeta.

Só nestes últimos dias, os legisladores suspenderam os trabalhos sem aprovar assistência básica para dezenas de milhões que estão enfrentando a crise econômica em meio à peste, mas avançaram em aprovar um orçamento militar de 740 bilhões de dólares.

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Os protestos do movimento Black Lives Matter continuam e se desenvolvem sem grandes confrontos entre manifestantes e uniformizados

“Farinhas do mesmo saco”

Ah, e também, segundo nos conta um colaborador deste jornal, que na câmara (sob controle democrata) não só ignoraram a maioria da opinião pública que favorece um reforma policial, tampouco anularam programas para trasladar equipamento militar a departamentos de polícia, incluindo veículos blindados e baionetas (sim, leram bem, baionetas).

Para tentar fazer uma dessas análises, que se dizem sérias, sobre este panorama político primeiro se teria que resistir à primeira reação óbvia de que tudo isto é um manicômio, para depois poder “explicar” tudo isto com grande sofisticação, mas às vezes é impossível ser mais elegante.

Porém no meio disso tudo abre-se o segredo, como se milhões conseguissem se encontrar em pleno caos e apesar das máscaras, sussurrassem e depois gritassem: abracadabra!  

As chaves para entender esta conjuntura estadunidense não podem ser detectadas só observando suas cúpulas, mas levando-se em conta também o fato de que está explodindo uma rebelião, que se apresenta como o maior movimento de protesto social na história deste país.  

E essa rebelião não se expressa – como temos repetido -, apenas nos enfrentamentos com forças de segurança, mas também em ações, como, por exemplo, em Nova Orleans onde proprietários chegando nos escritórios das autoridades para solicitar ordens de despejo de seus inquilinos, encontraram um muro de ativistas nas portas que não permitiam que entrassem; como nas bandas de jazz e funk que convidam músicos a dar ritmo às mobilizações; como nos círculos de estudo e leitura que resgatam a história de e desde abaixo.  

Tudo isto são partes de um tecido de redes rebeldes que estavam se organizando em anos recentes em várias partes do país, desde o profundo sul – berço de resistência história e sua cultura – como na construção mais recentes de iniciativas de assistência mútua em incontáveis bairros de cidades por todo o país.

Daí nascem diálogos com novos discursos onde se aborda o objetivo da “democracia racial”, o “anticapitalismo”, o resgate da história para criar visões do futuro, como também a alegria como ingrediente vital da resistência e rebeldia. Abre-se algo novo, e o futuro deste país depende de sua luz.  

Eduardo Galeano, na introdução do livro das obras de Chomsky publicado por La Jornada, recorda que abracadabra “a mágica fórmula que se usa no mundo interior, provém da língua hebraica… e significa: envia teu fogo até o final”. 

Bônus musical:

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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