Pesquisar
Pesquisar

Ucrânia nega autoria de ataques a alvos civis na Rússia, mas “avisa” que vão se repetir

Ofensiva com drones têm se intensificado ao longo das últimas semanas, atingindo centros comerciais, moradias e uma universidade da nação russa
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Já está se tornando costume acordar na capital da Rússia com a notícia de que algumas horas antes, em plena madrugada, produziu-se um novo ataque com drones presumivelmente lançados a partir da Ucrânia. Assim sucedeu nesta terça-feira (1), quando um aparato aéreo não tripulado explodiu no 21º andar do arranha-céu IQ-Distrito da City de Moscou, o mesmo alcançado por um ataque similar há dois dias, ao mesmo tempo em que outros dois artefatos caíram, derrubados, nas proximidades da cidade russa mais importante. 

O Ministério da Defesa informou que derrubou dois drones que se aproximaram de Moscou e que um terceiro, neutralizado com recursos radioeletrônicos, desviou-se de sua rota e caiu no centro de negócios de Moscou, conhecido como City, no mesmo edifício em que três ministérios do governo russo têm escritórios, da mesma forma que agências federais de menor escalão. 

Assista na TV Diálogos do Sul

Nesta ocasião, o impacto pouco antes das quatro da manhã, que rompeu os vidros e destroçou os escritórios, afetou a zona do Ministério do Desenvolvimento Econômico, enquanto os outros dois artefatos, abatidos pela defesa antiaérea russa, segundo sua versão, caíram em forma de fragmentos no distrito de Odintsovo, donde se encontra – de acordo com o especialista militar Yuri Fiodorov – o comando central das forças estratégicas (mísseis de médio alcance e intercontinentais) e espaciais da Rússia, em um bunker construído na época soviética, e no de Naro-Fominsk, onde tem base uma das unidades de elite do exército russo, a segunda divisão de infantaria motorizada.

Novamente, durante várias horas, esteve fechado o aeroporto internacional de Vnukovo, próximo à sede do Estado Maior do exército russo. 

Alto escalão do Kremlin pede resposta enérgica a atentado com drones em Moscou

Alguns observadores acreditam que este ataque com drones em Moscou, o quinto nos últimos 30 dias, poderia ser uma resposta ucraniana aos dois mísseis que caíram na segunda-feira anterior em um edifício de moradia e na Universidade de Krivoy Rog, a cidade natal do presidente Volodymyr Zelensky, causando – no balanço de até terça-feira – 6 mortos e mais de 70 feridos. 

A porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, mencionou que este tipo de ataque é similar aos “atos terroristas de diferente magnitude” que conhecemos, e os equiparou com os ocorridos nas Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001, que causaram quase 3 mil mortos. 

Continua após o banner

“(…) A metodologia é a mesma. A City de Moscou é uma instalação civil, na qual não só se concentram escritórios, como também apartamentos (de moradia, em outros arranha-céus) ou escritórios civis que nada têm que ver com o setor militar. É idêntico ao quadro, parece que se repete”, afirmou Zakharova no programa de televisão Soloviov Live.

Horas mais tarde, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, foi em outro sentido e disse a jornalistas: “Não vejo nenhuma analogia com o 11-S. É claro que há uma ameaça, é evidente, e se tomam medidas”.

Ofensiva com drones têm se intensificado ao longo das últimas semanas, atingindo centros comerciais, moradias e uma universidade da nação russa

La Jornada
O analista Pavel Aksionov lembra que a Ucrânia se localiza a apenas 500 km de Moscou e tem drones capazes de sobrevoar 1000 km

Chancelaria ucraniana nega

O assessor da presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak, entrevistado na manhã de terça-feira pelo programa Breakfast Show, transmitido a partir da Lituânia, assegurou que a Ucrânia nada tem que ver com os ataques com drones contra Moscou, embora esteja convencido de que logo vão se multiplicar geometricamente. 

“Como sabe disso, se diz que nada têm a ver?”, perguntou a apresentadora do programa, Tatiana Felgenhauer, jornalista russa exilada. “É muito simples. Acreditamos que esses drones são lançados da periferia de Moscou e o faz quem sabe quem, mas cada vez há mais russos descontentes com a guerra, que regressam mutilados ou decepcionados por terem sido enviados a combater sem motivos, e protestam dessa maneira. É muito fácil fazer um drone desse tamanho e características”, explicou Podolyak. 

Assista na TV Diálogos do Sul

Analistas como Pavel Aksionov, por outro lado, não duvidam de que a Ucrânia tem drones capazes de sobrevoar mil quilômetros – a fronteira ucraniana está a 500 km de Moscou – e consideram que estes ataques de qualquer maneira são uma má notícia para a Rússia.

Porque – reflete – se, em efeito, os drones foram lançados a partir da Ucrânia, isto quer dizer que a defesa antiaérea russa tem um sério problema se esses artefatos com explosivos podem chegar sem problemas até o centro da capital da Rússia. E se são disparados da periferia da cidade, tampouco é melhor que os serviços de segurança nada possam fazer e não sabem quem o faz e a partir de onde. 

Bayraktar TB-2 e Shahed-136: o que se sabe sobre drones utilizados em guerra na Ucrânia

Um rápido repasse do arquivo nos últimos trinta dias nos mostra que este tipo de ataques no território da Rússia – a Ucrânia só reconheceu alguns poucos e vinculados à Criméia – sucedem com crescente frequência. Vejamos: 4 de julho, quatro drones, na periferia de Moscou; 6 de julho, seis drones, região de Belgorod; 13 de julho, três drones, região de Voronezh; 14 de julho, um drone, região de Kursk; 16 de julho, oito drones, Sebastopol; 20 de julho, um drone, Criméia.

Na segunda metade do mês, se intensificaram os ataques: 22 de julho, um drone, Criméia e outro, região de Belgorod; 24 de julho, dois drones, Moscou, e dezessete, Criméia; 28 de julho, um drone, Moscou; 30 de julho, três drones, Moscou, e vinte e cinco, Criméia, assim como um a mais na região de Rostov; 31 de julho, um drone, região de Briansk; e 1º de agosto, três drones, Moscou. 

Continua após o banner

Entretanto, as autoridades de Kherson informaram que nesta terça-feira, às 11 da manhã, o exército russo bombardeou a cidade onde um dos projéteis destruiu dois andares de um hospital, causando a morte de um médico jovem e de uma enfermeira. Um dia antes (na segunda-feira), também bombardearam essa cidade com um saldo de pelo menos quatro mortos e 17 feridos. 

Roman Mrochko, chefe da administração militar da cidade de Kherson, está convencido de que a Rússia intensificou os ataques contra ela para facilitar a rotação de suas tropas na zona. 

Continua após o banner

Por sua vez, o prefeito de Kharkiv, Igor Terejov, reportou que houve três incursões noturnas com drones e dois aparatos impactaram “uma residência estudantil e uma instalação esportiva, ferindo um guarda”. 

Em entrevista ao jornal Suspilne Kharkiv (Kharkiv Pública), Volodymyr Tymoshko, chefe de polícia da segunda maior cidade da Ucrânia, acredita que “nada menos que sete drones kamikaze nos atacaram esta noite: eles atacam de forma caótica, em qualquer lugar, contra civis, não civis, instalações de energia, não importa para eles”.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

LEIA tAMBÉM

Nakba
Crônica de uma Nakba anunciada: como Israel força “êxodo massivo” dos palestinos de Gaza
EUA
EUA atacam China, Rússia e imigrantes, mas real ameaça à democracia é interna
Nakba-76-anos-Palestina (3)
Da Nakba ao genocídio palestino em curso: 76 anos entre duas catástrofes
Amyra-El-Khalili
Amyra El Khalili: atual agressão do Estado Sionista à Palestina é ainda pior que a Nakba, de 1948