Pesquisar
Pesquisar
Foto: Sputnik / Governo de Kursk

Ucrânia pode tentar usar região russa de Kursk como moeda de troca após fim da guerra

Exército da Ucrânia avança em 9 direções de Kursk; forças russas afirmam ter freado ofensiva
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

No terceiro dia de combates na região russa de Kursk, tudo indica que as tropas da Ucrânia que cruzaram a fronteira em 6 de agosto têm como missão adentrar o máximo possível e, uma vez fortificadas suas posições, atrair forças russas da linha de frente em uma, ou várias, das 9 direções que, de modo esporádico e não sincronizado, tentam avançar na Ucrânia, enquanto a aviação e a artilharia russas tentam impedir a expansão ucraniana em seu território, até esta quinta-feira (8), sem êxito.

O Ministério da Defesa russo assegura que freou a ofensiva ucraniana, utilizando “caças-bombardeiros supersônicos S-34 que lançaram bombas FAB-500 sobre as posições de seis brigadas do exército ucraniano (em território russo), assim como nas regiões vizinhas (ucranianas) de Sumi e Kharkiv”.

Leia também | Ataques da Ucrânia contra Kursk visam atrasar avanço russo sobre Donetsk, apontam especialistas

Em um comunicado, afirma: “Durante o dia, as ações ativas das unidades de proteção da fronteira do Estado, junto às tropas de guarda de fronteira, unidades de reforço e reservas, ataques aéreos, mísseis e fogo de artilharia, impediram o avanço do inimigo. O fogo está sendo utilizado para derrotar as concentrações identificadas de efetivos e equipamentos do exército ucraniano. Estão sendo frustradas as tentativas de unidades separadas de ingressar no território adjacente à fronteira russo-ucraniana na região de Kursk”.

Blogueiros relatam panorama diferente

Entretanto, os blogueiros-Z – em princípio todos pró-Kremlin, mas muitos deles críticos da cúpula militar – ofereceram nas redes sociais um panorama diferente e lamentam que o exército ucraniano já tenha ocupado cerca de vinte localidades em dois distritos, Sudzha e Korenevo, colocando minas nos acessos e construindo fortificações, assim como utilizando as que o exército russo abandonou dentro das localidades. Em Sudzha, que é um importante nó de comunicações e logística, encontra-se a sede do centro de medição de gás natural russo que deve chegar, através de um duto na Ucrânia, a vários países da Europa.

Também responsabilizam o Estado-Maior do exército — cujo titular, Valeri Gerasimov, é ao mesmo tempo o comandante-chefe da “operação militar especial” — de “ignorar os avisos de que o exército ucraniano estava preparando uma incursão em Kursk”, como informou alguns dias antes o canal Dois Majores (que faz parte da rede de canais no Telegram próximos ao GRU, sigla da direção de inteligência militar).

Leia também | Ataques da Ucrânia contra Kursk visam atrasar avanço russo sobre Donetsk, apontam especialistas

Outros sustentam que os reforços necessários não estão chegando, o que “permite ao inimigo manter sob seu controle uma zona que se expandiu por 30 quilômetros ao longo da estrada Diakonovo–Sudzha”, observa Rybar, que transmite a opinião de um grupo de especialistas do Ministério da Defesa, o primeiro canal a confirmar que as tropas ucranianas ocuparam Sudzha.

Ucrânia em direção à usina nuclear de Kursk

De acordo com Mikhail Zvinchuk, correspondente de guerra do Rybar, “estão ocorrendo combates intensos a 15 quilômetros ao sul de Lgov” nas localidades que cercam esta cidade, enquanto Yuri Kotenok, em seu blog Voenkor, assegura que grupos de militares ucranianos já estão a 30 quilômetros da cidade de Kurchatov, onde se encontra a usina nuclear de Kursk, mas “neste momento é prematuro temer que o inimigo possa ocupar essa instalação estratégica, não obstante, a situação é preocupante”, sublinha.

Nikolai Mitrojin, analista militar independente, considera que a Rússia “está em perigo de perder entre 20% e 25% da região de Kursk”, pois opina que a Ucrânia tentará ocupar um amplo território entre Sudzha e Korenevo e, se conseguir mantê-lo, para o qual tem a seu favor a proteção adicional dos cursos dos rios Seim, Sudzha e Psel, assim como vários lagos, “poderia reforçar suas posições em uma eventual negociação ao término da guerra, incluindo a troca de territórios ocupados”.

Conheça, acompanhe e participe das redes da Diálogos do Sul Global.

Kiev não reivindica ter ordenado a seu exército ingressar em território russo, mas é evidente pela magnitude do ataque em efetivos e veículos blindados e, de alguma forma, deixou isso subentendido nesta quinta-feira: “A Rússia trouxe a guerra para nossa terra e deve sentir o que fez. Hoje (quinta-feira) já recebi três relatórios do comandante-chefe (do exército ucraniano, Oleksandr Syrskyi), informes com resultados como os que neste momento nosso Estado necessita”, afirmou o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, em sua mensagem em vídeo que divulga todas as noites.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

LEIA tAMBÉM

Ucrânia_Kursk_Otan
Kremlin: ação da Ucrânia em Kursk prova que Otan atacaria Rússia
download1
Jornalista do Wall Street Journal condenado a 16 anos de prisão por espionagem na Rússia
Volodymyr_Zelensky_visits_Brussels_2019
A escolha de Sofia para EUA e Otan no conflito Rússia-Ucrânia
image_processing20230220-32601-edz3w3
Tensões globais: Otan expande infraestrutura militar em direção a Ucrânia e Rússia e enfurece Kremlin