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+US$ 100 bi a Ucrânia e Israel: Biden cogita rifar imigrantes em troca de voto republicano

Mais uma vez, republicanos e democratas debatem soluções rasas para conter o fluxo o migratório
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

O que tem a ver a fronteira com o México com a guerra na Ucrânia e em Israel? Além de que alguns políticos advertem que “terroristas” e “espiões” podem ingressar nos Estados Unidos, nada. Mas tudo indica que esse será o custo para conseguir a aprovação legislativa do pacote de assistência militar que Washington propõe enviar a Kiev e Tel Aviv.

Republicanos e democratas no Congresso estão negociando novas medidas severas para reduzir o fluxo de imigrantes indocumentados no país através da fronteira sudoeste, mas ninguém está disposto a gastar capital político em um debate sobre a solução integral e compreensiva desse eterno tema, incluindo o crescimento de mão de obra imigrante para suprir uma força laboral de milhões que estão se aposentando. 

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“Temos que ter uma solução crível para a fronteira tão amplamente aberta”, declarou nesta semana Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, ao insistir que o projeto de lei para outorgar mais assistência militar a Israel e Ucrânia, que o Congresso está avaliando neste mês, deve incluir “uma solução crível para a fronteira”.

O líder da maioria democrata do Senado, Chuck Schumer, rechaçou propostas para uma “fronteira de direita dura”, embora tenha aceitado que o Congresso deve aprovar a proposta de assistência militar do presidente Joe Biden que também inclui fundos para reforçar a fronteira. 

Mais uma vez, republicanos e democratas debatem soluções rasas para conter o fluxo o migratório

Casa Branca
Republicanos tentam obrigar o Governo Biden retomar a detenção de famílias migrantes indocumentadas com menores de idade




Proposta da Casa Branca

De fato, a proposta apresentada pela Casa Branca em fins do mês passado para outorgar mais de 100 bilhões de dólares adicionais em assistência bélica a Ucrânia e a Israel inclui quase 14 bilhões em fundos para pagar 1.300 agentes a mais para a Patrulha Fronteiriça, outros 1.600 oficiais de asilo, 1.400 advogados e assistentes, mais 375 juízes de migração, como também ampliar a capacidade de centros de detenção de migrantes, entre outras medidas.

Segundo a ex-chefe do Serviço de Imigração e diretora do projeto do Migration Policy Institute (MPI), o novo financiamento para assegurar a fronteira demanda processar mais rapidamente as solicitações de asilo e permitir tempo para que os novos sistemas de manejo do fluxo migratório implementados pelo governo de Biden possam funcionar plenamente. 

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“Oficiais de asilo estão avaliando cerca de 514 casos diários, o número mais alto jamais registrado”, escreveu Meissner em um artigo para o MPI. “Mas cerca de 5 mil pessoas em média agora cruzam a fronteira diariamente sem autorização”. O problema é de capacidade, argumentou a ex-chefe do serviço de migração, apontando que o número atual de casos de asilo pendentes no país já supera 2,7 milhões.


Argumentos republicanos

Já os republicanos argumentam que maior financiamento para o sistema existente não é suficiente. As propostas de senadores republicanos apresentados nesta semana incluem permitir que os oficiais de asilo contem com a autoridade para negar mais rapidamente solicitações de asilo, limitar o uso da “liberdade condicional humanitária” – que o governo de Biden tem utilizado para permitir que solicitantes de asilo permaneçam nos Estados Unidos enquanto seus casos são avaliados – e reativar efetivamente o Programa “Permaneça no México”, que obrigaria alguns solicitantes de asilo a esperar no México enquanto avaliam seus casos.

Os republicanos também obrigariam que o governo comece novamente a deter famílias migrantes indocumentadas com menores de idade de maneira indefinida ao invés de libertá-los nos Estados Unidos enquanto suas solicitações de asilo são avaliadas.

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De imediato, estas propostas foram condenadas pelos líderes dos caucus Progressista, Hispano e o Negro do Congresso. “Líderes republicanos não puderam avançar sua agenda anti-imigrantes extrema e cruel através do processo legislativo normal, então agora estão tentando dar a volta no Congresso e utilizar duas guerras no estrangeiro para forçá-lo em lei”.


Reconhecimento

Mas reconhecendo que necessitará apoio republicano para obter os fundos para Ucrânia e Israel, a Casa Branca já iniciou consultas com legisladores democratas sobre que tipo de concessões poderiam aceitar sobre a fronteira com o México para financiar essas duas guerras, reportou o Político.

O problema político para o presidente Biden ao entrar em um ano eleitoral é que o número de tentativas de cruzar a fronteira por imigrantes indocumentados nos dois últimos anos fiscais é mais alto que em qualquer outro ano deste século.

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Estas cifras oficiais, acompanhadas com imagens de novas caravanas de milhares de imigrantes atravessando o México para a fronteira com os Estados Unidos, são agora parte constante da propaganda eleitoral republicana.

Problemas de fundo

O problema de fundo é que nenhuma das medidas sob consideração nesta conjuntura funcionarão. David J. Bier, do Cato Institute, um pensamento libertário, escreveu no New York Times que “Biden tem duplicado o número de migrantes detidos em instalações de detenção… em espera de deportação, e tem negociado acordos para reiniciar deportações a Venezuela e Cuba. Tem deportado mais pessoas ao Haiti em menos de três anos que Trump conseguiu em quatro”.

A solução, afirma Bier, é fazer todo o contrário: “O presidente deveria abraçar – e não frear – a imigração, e isso implica criar maneiras viáveis para que as pessoas ingressem a este país legalmente. Isto reduziria de maneira dramática a imigração ilegal e resolveria muitos problemas relacionados”.

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Argumenta que os Estados Unidos precisam desesperadamente imigrantes: “A taxa de crescimento da população está em seu nível mais baixo na história estadunidense. Já temos quase 10 milhões de vagas de trabalho durante os últimos dois anos. Nossa relação de trabalhador a aposentado continua desmoronando. Necessitamos mais trabalhadores, contribuintes fiscais e colaboradores”.

Por ora, ninguém no Congresso e muito poucos assessores e analistas políticos estão preparados para adotar políticas reais de imigração.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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