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Verónica Abad (Foto: Reprodução / X)

Verónica Abad, vice-presidenta do Equador: “Se reassumo cargo, retomo relações com México”

Verónica Abad foi suspensa do cargo após ruptura com Noboa e move ação para voltar ao cargo; se conseguir, em janeiro se torna presidente interina
Orlando Pérez
La Jornada

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Não hesita um instante. Em meio ao processo que move contra o Ministério do Trabalho do Equador para tentar retomar seu posto de vice-presidenta, Verónica Abad expressa sua decisão de restabelecer relações diplomáticas com o México e conversar pessoalmente com a presidenta Claudia Sheinbaum Pardo.

No dia 1º de janeiro, começa a campanha eleitoral presidencial no Equador, que se estenderá até 9 de fevereiro, e Daniel Noboa buscará a reeleição, para o que deve pedir licença e encarregar a Presidência à sua vice-presidenta. No entanto, por meio de uma controversa decisão administrativa de 8 de novembro, o Ministério do Trabalho suspendeu Abad de suas funções por 150 dias, alegando “abandono injustificado do trabalho por três ou mais dias úteis”.

Com isso, Noboa evitou deixar a Presidência nas mãos de Abad e, no mesmo dia 8 de novembro, designou uma pessoa de sua confiança para o posto de vice-presidenta temporária. Trata-se de Sariha Moya, que até então ocupava o cargo de Secretária Nacional de Planejamento e Desenvolvimento (Senplades). Tudo isso ocorreu em razão de uma ruptura política entre os dois mandatários desde agosto do ano passado, antes de vencerem o segundo turno eleitoral e tomarem posse nos cargos, em 23 de novembro de 2024.

Nesta segunda-feira (9), ocorreu a audiência da ação de proteção, na qual a defesa de Abad esperava anular a sanção imposta pelo Ministério do Trabalho. A decisão, porém, foi adiada para 16 de dezembro, após a defesa de Abad solicitar mais tempo para analisar o processo. Caso a decisão seja revertida, Abad poderia assumir as funções presidenciais quando Noboa iniciar sua campanha eleitoral para 2025.

O La Jornada conversou com Verónica Abad sobre esses e outros temas. Confira:

Orlando Perez – Ao exercer a Presidência da República, restabeleceria as relações diplomáticas com o México, abrindo espaço para resolver uma situação tão grave como a invasão de uma embaixada?

Verónica Abad – Com certeza. No momento em que estamos no âmbito da diplomacia internacional, é preciso reconhecer que somos a vergonha internacional… Quando eu tinha que encarar embaixadores em Israel, especialmente o do México, que era o presidente do GRULAC (Grupo de América Latina e o Caribe), sentia vergonha. Somos motivo de chacota e fofoca entre todo o corpo diplomático por termos invadido a embaixada de outro país. Imagine que, ao presenciar aquilo, eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Eu pensava: é como se invadissem minha embaixada em Israel. Não sei se gostaríamos que nos fizessem isso. Ou seja, estamos invadindo um território.

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Por que não disse isso antes?

Porque, na época, a chanceler (Gabriela Sommerfeld) me silenciou, colocou uma mordaça em mim para que eu não falasse sobre nenhum tema internacional, muito menos sobre o México. Além disso, tínhamos uma ordem de não nos aproximarmos absolutamente do México, em nenhuma circunstância. Mas isso ocorre enquanto milhares de equatorianos sofrem por conta dessa situação. Precisamos entender que, naquele país, há milhares de migrantes em trânsito que estão desamparados e órfãos, porque não existem mais relações diplomáticas, consulares ou comerciais. Perdemos o intercâmbio acadêmico que tínhamos com o México, algo muito importante para o Equador.

Sendo assim, ao reassumir o cargo, a senhora poderia chamar a presidenta do México imediatamente?

Claro que sim.

E o que diria a ela?

Presidenta, por favor, dialoguemos, conversemos, coordenemos. Voltemos a ter as relações que sempre tivemos com o povo mexicano. Desde criança, lembro que meu pai me ensinava a amar tudo que vinha do México. Cresci em um mundo de artistas. Ou seja, os filmes e as músicas do México tiveram um grande impacto na América Latina e no Equador. Por isso, digo que há coisas que não podem ser rompidas. Para mim, foi uma surpresa extremamente desagradável.

E em relação a isso, há um elemento adicional, obviamente: o salvo-conduto para Jorge Glas. Até que ponto o governo equatoriano, caso a senhora o presida em janeiro, facilitaria o salvo-conduto para alguém que já foi reconhecido e continua reivindicando asilo político por parte do México?

Não cabe a mim facilitar nada a ninguém. O que acredito é que isso já está em processo judicial, e há uma justiça encarregada do caso. Lamentavelmente, o México apresentou uma demanda judicial contra nós. Diante dessa situação, preciso me inteirar de perto sobre como está o processo, sem dúvida alguma.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Orlando Pérez Correspondente do La Jornada em Quito.

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