O encarregado do hemisfério ocidental da Casa Branca declarou em um fórum em Cartagena na semana passada que “há 40 anos, os Estados Unidos haveriam feito todo o possível para evitar a eleição de Gustavo Petro”, e que, uma vez diante de alguém como ele no poder, “fariam quase tudo o possível para sabotar seu governo”. Mas isso são políticas da Guerra Fria, argumentou, e hoje em dia, para o governo estadunidense, já “não importa a ideologia”…, mas sim, se um governo é “eleito e governa democraticamente”.
Alguns ressaltaram a “honestidade” da declaração de Juan Gonzalez e deram as boas-vindas à mensagem de que Washington já não buscará intervir em outros países por diferenças “ideológicas”. Mas, para outros, só se confirmou que Washington continua proclamando que é juiz e júri sobre quem é democrático ou não, e por trás disso, mantendo seu direito implícito de intervir.
De fato, os Estados Unidos não só continuam intervindo por todo o mundo, mas também, considerando apenas intervenções militares, o estão fazendo mais frequentemente do que nunca na era pós Guerra Fria – ou seja, nos últimos 40 anos.
Washington realizou mais de 500 intervenções militares internacionais – definidas como aquelas que incluem tanto deslocamentos como ameaças de uso de força, operações encobertas e outras de baixo perfil – desde 1776 até a presente data. Quase 60% dessas intervenções ocorreram entre 1950 e 2017, e mais de 25% do total ocorreu desde o fim da Guerra Fria, segundo uma nova investigação do Military Intervention Project (MIP), da Universidade Tufts, resumida pelo Responsible Statecraft.
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34% do total de intervenções militares foram contra países na América Latina e no Caribe, segundo o MIP. Os diretores desse projeto assinalam que “com o fim da era da Guerra Fria, se esperava que os Estados Unidos tivessem reduzido suas intervenções militares no estrangeiro… mas estes padrões revelam o oposto – os Estados Unidos incrementaram seu envolvimento militar no estrangeiro”.
Tudo isso sem incluir outras formas tradicionais de intervenção em outros países, como as operações de inteligência e projetos de apoio a forças opositoras dentro de outras nações, sob diversas justificativas e disfarces, que usam fundos de Washington não só para influir na política interna desses países, mas também nos casos plenamente documentados de Cuba e Venezuela, entre outros, com o fim de promover “trocas de regime” até hoje em dia.
EUA aceitariam que outros países invistam milhões de dólares em novos centros e ONGs dentro de seu país dedicadas a mudar sua constituição?
Washington aceitaria programas impulsionados por outros governos para influir na política interna de seu país, incluindo fomentar dissidência política e até ações diretas com o propósito de promover uma “troca de regime”? Aceitaria que outros países invistam milhões de dólares em novos centros e ONGs dentro de seu país dedicadas a julgar e promover mudanças em sua constituição, em seu sistema de justiça, em assuntos de direitos civis e humanos? Talvez se devesse oferecer assistência direta aos Estados Unidos para a defesa de sua democracia que agora está sob ameaça existencial.
Talvez seja hora dos opositores do intervencionismo ao redor do mundo se reencontrarem com as figuras e forças anti-imperialistas dentro dos Estados Unidos ao longo de sua história, entre eles: o grande abolicionista afro-estadunidenses Frederick Douglass, o qual se proclamou contra a guerra contra o México em meados do século 19; Mark Twain, que ajudou a fundar a Liga Anti-imperialista no fim desse século; seguidos por Emma Goldman, Helen Keller e o líder socialista Eugene Debs contra o jogo imperial da Primeira Guerra Mundial; Décadas mais tarde, com o anti-imperialista Martin Luther King, durante a Guerra no Vietnã; mais recentemente, os incontáveis opositores às intervenções estadunidenses na América do Sul e na América Central, Oriente Médio e África durante os últimos 40 anos. Assim, poderiam proclamar juntos que os juízes da democracia devem ser os povos, e não os que têm mais dólares e armas.
Bônus Musical – Grateful Dead – U.S. Blues
David Brooks, correspondete do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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