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ToggleNo último sábado (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reacendeu as relações diplomáticas com Cuba em uma visita histórica ao país caribenho.
Este encontro marcou o primeiro contato oficial de um líder brasileiro com Cuba em nove anos, desde a gestão de Dilma Rousseff, em 2014.
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A reunião bilateral ocorreu no icônico Palácio da Revolução, sede da presidência cubana, e durou cerca de uma hora. É o terceiro encontro entre Lula e o presidente cubano Miguel Díaz-Canel apenas neste ano, com anteriores encontros durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) em janeiro, e em Paris, em junho, após uma visita conjunta ao Papa Francisco.
Durante o encontro, uma série de questões de interesse mútuo foram debatidas, abrangendo tanto a agenda bilateral quanto regional. Além disso, foram firmados acordos de cooperação que buscam intensificar a troca de tecnologia entre Brasil e Cuba, representando um renascimento das relações diplomáticas, que haviam perdido vigor nos últimos anos.
Uma parte crucial desse pacto inclui uma colaboração entre duas instituições estatais de destaque, a brasileira Fiocruz e a cubana Biofarma. Sob este acordo, dois medicamentos desenvolvidos em Cuba, NeuroEpo e Eritropoietina, serão produzidos no Brasil.
Esses medicamentos têm aplicações que vão desde o tratamento do mal de Alzheimer até o combate à anemia causada por insuficiência renal e outras enfermidades.
Agroecologia: o plano em Cuba para garantir soberania e segurança alimentar à população
Nísia Trindade, ministra da Saúde brasileira, destacou a importância deste acordo ao enfatizar que o Brasil se beneficia da expertise cubana acumulada ao longo de anos de investimento em pesquisa médica.
Ao mesmo tempo, o Brasil contribuirá com sua capacidade de pesquisa clínica e produção em larga escala, envolvendo laboratórios tanto públicos quanto privados.
Além desses compromissos na área da saúde, outros acordos foram selados. Na esfera de Ciência e Tecnologia, foi estabelecida a retomada da colaboração que teve início em 2002, com foco em biotecnologia, energias renováveis, soberania e segurança alimentar, entre outros campos.
No campo agrícola, foram delineadas iniciativas de cooperação e intercâmbio tecnológico. Este último se revela particularmente vantajoso para Cuba, que enfrentou desafios em sua capacidade de produção de alimentos nos últimos anos.
Ricardo Stuckert
A reunião bilateral ocorreu no icônico Palácio da Revolução, sede da presidência cubana
Brasil e Cuba não tinham relações diplomáticas desde a queda de Dilma
A visita de Lula a Cuba marca uma nova era nas relações entre os dois países, um esforço para reverter uma deterioração na agenda diplomática ocorrida após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Esta visita é o culminar de uma série de iniciativas destinadas a normalizar e fortalecer os laços entre Brasil e Cuba, com potencial para revitalizar oportunidades de negócios e colaboração em diversas áreas, incluindo saúde e biotecnologia.
Com Lula, Brasil e Cuba se reaproximam após relação “atípica e anormal” sob Bolsonaro
Desde a posse de Lula, em janeiro deste ano, o governo brasileiro vem trabalhando ativamente para restabelecer as relações com Cuba. A reabertura da embaixada em Havana e a organização de visitas mútuas demonstram o compromisso com a reconstrução dessas relações que estiveram em declínio nos últimos anos, sobretudo em meio aos ataques do regime de Bolsonaro à ilha caribenha.
Lula ressaltou a importância da retomada em suas redes sociais
Em um tuíte recente, o presidente Lula destacou a importância do G77, uma coalizão que representa 79% da população mundial e 49% do PIB global em paridade do poder de compra.
Ele ressaltou que esse grupo desempenha um papel fundamental na exposição das anomalias do comércio global e na defesa de uma Nova Ordem Econômica Internacional que considere as preocupações dos países de renda baixa e média, bem como grupos mais vulneráveis.
Além disso, o presidente Lula enfatizou a relevância da Cúpula do G77 deste ano, que se concentra no tema da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele expressou sua disposição em promover avanços conjuntos nessa área.
A presença do presidente brasileiro na Cúpula do G77 em Cuba representa um esforço significativo para fortalecer as relações diplomáticas com países em desenvolvimento e para buscar soluções globais para desafios compartilhados.
Cannabrava | Movimento tectônico modifica o planeta terra
A cooperação internacional e a busca por uma ordem econômica mais justa e inclusiva estão no centro dessa missão.
O Brasil continua a desempenhar um papel ativo no cenário internacional, buscando colaborações e parcerias que promovam o desenvolvimento sustentável e a equidade global. A Cúpula do G77 em Cuba oferece uma plataforma importante para esses esforços diplomáticos.
Desde que assumi meu novo mandato, estive em diversos foros com a presença de países em desenvolvimento, como a CELAC, o BRICS e o G20. O G77 corresponde a 79% da população mundial e 49% do PIB global em paridade do poder de compra. Foi fundamental para expor as anomalias do…
— Lula (@LulaOficial) September 16, 2023
Em seu discurso no G77, Lula criticou a imposição de sanções econômicas pelos Estados Unidos contra Cuba.
“É notável o comprometimento de Cuba com a promoção de uma ordem global mais equitativa, enquanto, infelizmente, continua a enfrentar um embargo econômico considerado ilegal. Expressamos nossa objeção à inclusão de Cuba na lista de Estados que patrocinam o terrorismo.”
Veja o discurso completo:
Após a reunião, e antes de seguir para Nova York, onde o presidente participará da Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula também aproveitou a oportunidade para visitar Raúl Castro, figura histórica da Revolução Cubana. Esse encontro ocorreu na residência do ex-presidente e teve uma duração aproximada de 30 minutos.
A relação histórica entre Brasil e Cuba
A relação entre Brasil e Cuba possui uma importância histórica significativa que abrange uma variedade de áreas, desde a política até a cultural.
Essa relação tem suas raízes em eventos que remontam ao século 19, quando Brasil e Cuba compartilharam lutas pela independência do domínio colonial, embora em contextos diferentes.
No entanto, foi a partir do século 20 que essa relação se desenvolveu de maneira mais profunda, nos seguintes aspectos:
Solidariedade política
Durante a Guerra Fria, Brasil e Cuba mantiveram posições políticas distintas. Enquanto Cuba se tornou uma nação socialista e aliada da União Soviética, o Brasil manteve-se uma democracia representativa. No entanto, apesar das divergências ideológicas, ambos os países mantiveram relações diplomáticas e comerciais.
Colaboração médica
Uma das áreas mais notáveis de cooperação entre Brasil e Cuba é na saúde. O programa “Mais Médicos“, lançado em 2013, trouxe médicos cubanos para áreas remotas e carentes do Brasil, fornecendo cuidados médicos essenciais para milhões de brasileiros. Isso demonstrou a capacidade de ambos os países de cooperar em questões humanitárias, independentemente de suas diferenças políticas.
Intercâmbio cultural
A troca cultural entre Brasil e Cuba também é notável. A música cubana influenciou a cena musical brasileira, e a dança cubana, como a salsa, ganhou popularidade no Brasil. Além disso, a literatura e o cinema cubanos têm sido apreciados pelos brasileiros, promovendo uma compreensão mútua das culturas.
Solidariedade em fóruns internacionais
Brasil e Cuba frequentemente se unem em fóruns internacionais para defender causas como a cooperação Sul-Sul, os direitos dos países em desenvolvimento e a reforma das Nações Unidas. Essa parceria fortalece a voz de ambos os países no cenário global.
Comércio e investimento
Embora o comércio entre Brasil e Cuba seja relativamente modesto, ambos os países têm oportunidades para expandir sua cooperação econômica. O intercâmbio de produtos agrícolas, tecnologia e serviços pode beneficiar ambas as nações.
Em resumo, a relação entre Brasil e Cuba é multifacetada e repleta de nuances históricas e políticas. Ela representa a capacidade de países com diferentes sistemas políticos e ideológicos encontrarem áreas comuns de cooperação e solidariedade, contribuindo para a riqueza da história diplomática e cultural de ambos os países.
George Ricardo Guariento | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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