Um julgamento penal contra Héctor Llaitul Carrillanca (56), porta-voz e principal dirigente da organização rebelde mapuche Coordinadora Arauco Malleco (CAM), teve início na última terça-feira (12), na cidade de Temuco, 700 quilômetros ao sul da capital chilena, no coração do território (Wallmapu) indígena. A promotoria solicita 25 anos de prisão para ele.
Llaitul, preso desde agosto de 2022 após ser detido sem resistência em uma locação rural na Região do Bio-bío, é acusado dos delitos de incitação e apologia à violência, furto simples, atentado contra a autoridade e usurpação. O governo do presidente Gabriel Boric (1986-) é também demandante na causa, representado pelo Ministério do Interior.
Leia também | Mapuches a Boric: “Enquanto houver presos políticos e militarização, não haverá diálogo”
A CAM, com mais de 20 anos de trajetória, é uma das pelo menos cinco organizações mapuches que operam armadas em prol da recuperação dos territórios ancestrais dessa etnia, da expulsão do Wallmapu dos conglomerados florestais que exploram as terras e da obtenção de autonomia que facilite formas de organização, segundo a cultura e tradição mapuche.
Sobretudo, a CAM, mediante a ação de seus Órgãos de Resistência Territorial (ORT), da mesma forma que os outros agrupamentos, age recuperando e habitando prédios, incendiando comboios e madeireiras, fazendas agrícolas em poder de colonos chilenos e infraestruturas como pontes, escolas e igrejas que simbolizaram a colonização e usurpação ocorrida desde meados do século XIX, após a ocupação do Wallmapu pelo exército chileno.
Llaitul apelou à resistência armada mapuche
Em janeiro de 2020, após o julgamento e condenação de um militante da CAM, Llaitul apelou à resistência armada, conforme interpretado pela administração do falecido ex-presidente Sebastián Piñera (1949-2024), o que lhe custou o início da persecução penal. Ao longo de sua existência, a CAM e outros agrupamentos reivindicaram a autoria de centenas de atentados.
Leia também | Prisão de líder mapuche Llaitul é continuidade da estratégia de repressão do Estado chileno
“A luta mapuche não é algo sem conteúdo. Tem muitos fundamentos: histórico, político, ideológico, cultural, espiritual. Portanto, se nos mandarem dizer que a resistência se manterá. E a resistência, tal qual, é uma resistência armada”, afirma.
Havia uma certa expectativa de que o “conflito mapuche” seria amenizado com a chegada de Boric à presidência do Chile, pois durante sua campanha prometeu desmilitarizar regiões do Wallmapu onde Piñera enviou tropas. No entanto, apenas dois meses depois de assumir o cargo, em meados de 2022, decretou o estado de exceção e militarizou zonas específicas. Segundo o governo, a violência rural diminuiu tanto devido à emergência quanto às novas leis em matéria de segurança.
La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.