Investidores e analistas financeiros indicaram que esperavam uma vitória de Claudia Sheinbaum nas eleições mexicanas, mas que a margem de vitória havia “assustado” os mercados financeiros, contribuindo para o enfraquecimento do peso e uma queda na bolsa de valores no México. Porém nem todos estão preocupados.
“Os resultados eleitorais estavam dentro das expectativas do mercado”, comentou Joyce Chang, diretora de pesquisas de mercado do J.P. Morgan em Nova York. Em um breve comentário ao La Jornada, ela acrescentou que “na verdade, há realmente mais dúvidas sobre o impacto das eleições dos Estados Unidos sobre o México, dadas as ameaças de Trump de (aplicar) tarifas sobre carros chineses fabricados no México”.
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Uma análise separada do J.P. Morgan México Equity Strategy emitida na manhã de segunda-feira (3) previu “uma reação negativa no mercado” mesmo que Morena não conseguisse alcançar uma maioria de dois terços em nenhuma das duas câmaras do Congresso. Os analistas que elaboraram o relatório destacaram que “a vitória esmagadora de ontem (domingo, 2) superou as expectativas” e que “obter uma maioria qualificada provavelmente reviverá o nervosismo sobre a posição de Sheinbaum em temas constitucionais pendentes e maior enfraquecimento de instituições autônomas”.
No entanto, os analistas acrescentaram que o discurso de Sheinbaum na manhã de segunda-feira “buscou acalmar os mercados ao enfatizar que seu governo garantirá um banco central autônomo, manterá a divisão entre os poderes políticos e econômicos, cumprirá com a legalidade e preservará uma posição financeira disciplinada”.
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E nem todos foram tão sutis em suas reações. “A pergunta é se o partido Morena teve tanto sucesso que poderia comandar uma supermaioria e tentar promover políticas de mercado não amigáveis de reforma constitucional”, comentou Chris Turner, chefe de mercados globais do ING, à Reuters.
Tanto o Wall Street Journal quanto a Bloomberg – meios dedicados principalmente ao setor financeiro e empresarial dos Estados Unidos – publicaram notas na tarde de segunda-feira relatando que os mercados financeiros estavam “espantados” com as dimensões da vitória de Morena. “A ampla margem de vitória do partido governante do México provocou preocupações na segunda-feira porque o movimento nacionalista agora tem o poder de impulsionar mudanças constitucionais que opositores dizem arriscar enfraquecer a democracia do país enquanto aumentam o papel do Estado na economia”, reportou o Journal.
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Em entrevista à Bloomberg, Guido Chamorro, do Picket Asset Management em Londres, indicou que “o potencial para uma supermaioria realmente causa alguma preocupação, uma que poderia erodir a prudência fiscal do México que tem sido presenciada durante a maior parte do governo de AMLO. Há uma dúvida sobre quão fiscalmente conservadora será Sheinbaum”.
No entanto, analistas financeiros reiteraram antes da eleição que não estavam preocupados, em geral, com a continuação das políticas econômicas de Andrés Manuel López Obrador sob Sheinbaum, e que supunham que o novo governo incluiria funcionários que são conhecidos e gozam de ampla confiança nos mercados financeiros internacionais. Além disso, previam que, com isso, um México sob Sheinbaum continuaria gozando de investimentos e apoio da comunidade empresarial internacional.
A histórica eleição da primeira mulher e de uma cientista
Os principais periódicos dos Estados Unidos publicaram entre suas principais notícias a vitória esmagadora “histórica” de Claudia Sheinbaum como a primeira presidenta do México, enfatizando que ela não é apenas ex-chefe de Governo de uma das maiores cidades do mundo, mas também uma cientista e, em um país católico, uma judia.
“A eleição de Claudia Sheinbaum é a culminação de uma campanha de décadas pela paridade de gênero na política, um elemento chave na transição do país para a democracia”, reportou o Washington Post desde o México. Mas o título de sua segunda nota publicada nesta segunda-feira, algumas horas depois, foi: “o México lutou pela democracia. Poderia reverter-se para um Estado de partido único?”, antes de descrever a supermaioria legislativa que Sheinbaum poderia usar para reformar o poder judicial.
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Outros meios citaram analistas políticos expressando a mesma preocupação de que a margem esmagadora do triunfo de Morena e seus aliados poderia acabar minando a democracia. “Agora estamos firmemente em território de governo de partido único no México”, citou o The Wall Street Journal o analista Duncan Wood, do Centro Wilson.
O New York Times foi o único periódico que incluiu em seu site um “contador” ao vivo para os votos acumulados por cada um dos candidatos presidenciais. David Leonhardt, cujo boletim diário The Morning tem um público de 15 milhões, colocou a notícia sobre a eleição no México como principal, escrevendo que “quando estrangeiros ouvem notícias do México frequentemente soa caótico, envolvendo cartéis, crime ou ondas de migração. Mas os resultados de ontem deixam claro que a maioria dos mexicanos está satisfeita com a direção de seu país”.
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Em suas reportagens sobre a eleição, o Times, assim como uma ampla gama de meios de comunicação estadunidenses, continuou com a mesma narrativa sobre o grau de independência de Sheinbaum que tem imperado desde o início das eleições no México. “Algo desconhecido é quão comprometida está Sheinbaum… em promover as mudanças que López Obrador introduziu em fevereiro e que rapidamente adotou como próprias”, assinalou o Times.
Os grandes meios latinos, como era de se esperar, fizeram ampla cobertura da eleição. “Seis pontos-chave do discurso de vitória de Claudia Sheinbaum”, ofereceu a Univision como sua principal. A Telemundo divulgou como seu principal título “Sheinbaum promete ao México após ganhar a Presidência ‘não vou decepcioná-los’”, junto com outras notas e atualizações.
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Já que os resultados chegaram tão tarde, a grande maioria dos jornais impressos não incluiu o triunfo da candidata de Morena, e na tarde desta segunda-feira o lugar privilegiado da notícia do México já havia sido substituído nos sites dos principais meios de comunicação por notícias sobre medidas de Biden para controlar a migração, o julgamento do filho do presidente, Hunter Biden, e, para variar, por Trump.
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