Conteúdo da página
Toggle- Atualizado em 7 de março de 2025 às 10h15.
Em 19 de janeiro de 2025, chegou-se a um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros entre Israel — o lado ocupante — e a resistência palestina, contemplando três fases principais.
Concluída a primeira fase, que durou 42 dias, previa-se o início da segunda fase em 3 de março de 2025. Contudo, essa etapa foi inviabilizada pelos entraves impostos pela ocupação, que condicionou sua postura à do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o qual manifestara o desejo de controlar a Faixa de Gaza, expulsar dela a população palestina e transformá-la naquilo que chamou de “Riviera do Oriente Médio”.
Apesar do êxito da primeira fase – na qual a resistência palestina libertou 33 prisioneiros do ocupante em troca de 1.755 prisioneiros palestinos, e se comprometeu com o cessar-fogo sob mediação de Catar, Egito e Estados Unidos –, as negociações sobre a segunda fase foram interrompidas. Isso levanta questionamentos acerca da postura dos países garantidores do acordo e se eles terão condições de pressionar as partes para retomar as conversações.
A proposta de Whitkoff e o apoio do ocupante
Nesse contexto, o enviado estadunidense Steve Whitkoff apresentou ao governo da ocupação uma proposta de trégua temporária durante o mês do Ramadã, em troca de a resistência palestina libertar metade dos prisioneiros do ocupante já no primeiro dia do acordo. No entanto, a resistência palestina rejeitou esse plano, ao passo que o governo da ocupação procurou dificultar o envio de ajuda humanitária a Gaza e retomar as operações militares. Com isso, o exército do ocupante, em coordenação com os Estados Unidos, interrompeu a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza poucas horas depois de encerrada a primeira fase do cessar-fogo.
Relatórios da inteligência do ocupante apontam que 25 mil caminhões de suprimentos entraram em Gaza durante os 42 dias de cessar-fogo, volume que se estima ser suficiente para quatro meses de necessidades básicas. Isso oferece à ocupação um instrumento de pressão contra a resistência, ao bloquear a chegada de novas remessas de ajuda e acenar com a possibilidade de retomar a guerra, buscando objetivos que não alcançou em 15 meses de genocídio em Gaza.
O posicionamento do Egito e o corredor Filadélfia
Por sua vez, o Egito propôs estender a primeira fase por mais duas semanas, com vistas a permitir a retomada das negociações acerca da segunda fase, paralelamente à libertação, pela resistência palestina, de dois grupos de prisioneiros do ocupante: o primeiro formado por prisioneiros vivos e o segundo, pelos corpos de prisioneiros.
Sujeição de países árabes a EUA e Israel mina planos de reconstrução de Gaza
Essa proposta foi apresentada a Whitkoff e ao lado ocupante, e há expectativa de que seja aceita pela resistência palestina. Já em relação ao corredor Salah ad-Din (também conhecido como corredor Filadélfia), o Egito reafirmou a todos os envolvidos que mantém sua exigência de retirada da ocupação dessa área, não oferecendo garantias adicionais nem concessões quanto às demandas de segurança do ocupante. O país também manifestou disponibilidade total para cooperação na fronteira com Gaza e para a implementação do projeto estadunidense de monitoramento das divisas, desde que a ocupação deixe o corredor Filadélfia.
O descontentamento do Catar
Até agora, o Catar não divulgou posicionamentos oficiais claros a respeito do desenrolar das negociações, o que levou alguns observadores a acusarem Doha de desinteresse. Em contrapartida, o país expressou insatisfação diante das declarações do primeiro-ministro do ocupante, Benjamin Netanyahu, que acusou o Catar de financiar o terrorismo, incluindo apoio à organização Hamas. Para o governo catariano, a insistência nessas acusações pode levá-lo a reduzir seu papel de mediador, o que impactaria de forma negativa o avanço das negociações.
Conclusão
Diante das divergências entre os países garantidores sobre o reinício das tratativas da segunda fase do cessar-fogo, considero que não é possível prosseguir nessa etapa sem antes definir os parâmetros da terceira fase, relacionada à reconstrução da Faixa de Gaza e à revogação dos planos de Trump para expulsar os palestinos do território.
Mesmo que a segunda fase seja bem-sucedida, é provável que as tensões reapareçam durante a terceira. Surge, então, a dúvida: haverá possibilidade de retomada das hostilidades, ainda que sem o incentivo estadunidense, especialmente depois de a resistência ter entregue os prisioneiros do ocupante, que representavam um trunfo importante? Ou a ocupação obterá novas conquistas na Cisjordânia, onde continuam os projetos de expansão de assentamentos ilegais e a abertura de estradas para anexar partes desse território? Isso ocorre em meio a um notável silêncio midiático em torno do que se passa na Cisjordânia, a despeito das frequentes invasões do ocupante e da destruição de campos de refugiados palestinos no norte da região, o que já desalojou cerca de 40 mil pessoas — evento que pode servir de estopim para uma revolta popular na Cisjordânia.
Edição de Texto: Alexandre Rocha
Arranha-céus, gás e petróleo: pós-destruição, EUA e Israel tramam a privatização de Gaza