Pesquisar
Pesquisar

Chile: Para superar onda de conflitos, Boric anuncia reparação histórica a povos indígenas

Territórios mapuche foram invadidos por militares no século 19, entregues a colonos europeus no século 20 e entregues a empresas após o golpe de 1973
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

O presidente chileno, Gabriel Boric, 48 horas depois de ordenar a implementação militar na macrozona sul do país em uma tentativa de frear a crise de segurança e de ordem pública existente ali, declarou ter “a mais plena convicção” que isso não resolverá o desencontro histórico entre o povo/nação mapuche e o Estado chileno, reiterando sua vontade de diálogo com as forças em conflito. 

“Se não nos fazemos cargo do fundo e só o abordamos a partir da vertente da ordem pública e da segurança, vamos nos equivocar; já outros governos tentaram esse caminho e fracassaram”, disse durante uma visita à localidade de Alhué, 140 quilômetros ao sudoeste de Santiago, onde inaugurou um centro de saúde familiar. 

Assista na TV Diálogos do Sul

“Temos que pôr mais empenho ao diálogo, esse é nosso objetivo e o que estamos fazendo, garantindo a segurança sem complexos ideológicos como me corresponde como chefe de Estado, e levando adiante um plano para abordar o problema de fundo, que é a dívida do Estado chileno com o povo/nação mapuche”, agregou. 

Nas regiões do BioBío, da Araucanía e de Los Ríos – no Wallmapu mapuche, de uns 72 mil Km², há 20 anos se desenvolve um crescente movimento indigenista pela recuperação de suas terras e autonomia; o conflito e a repressão policial deixaram centenas de mortos, tanto chilenos como mapuche, incontáveis feridos e grande perdas materiais, porque os órgãos de resistência mapuche incendeiam maquinaria agrícola, florestal e bens imóveis.

A maior parte dessas terras, uns cinco milhões de hectares, estão em posse de dois conglomerados florestais que os exploram intensivamente, para o qual arrancaram os bosques nativos e os substituíram por plantações de pinho e eucalipto.

Territórios mapuche foram invadidos por militares no século 19, entregues a colonos europeus no século 20 e entregues a empresas após o golpe de 1973

247 News Agency
"Temos que pôr mais empenho ao diálogo, esse é nosso objetivo e o que estamos fazendo, garantindo a segurança sem complexos ideológicos"

Livre trânsito e diálogo

“Tenho a mais plena convicção de que isto (recorrer às tropas) não resolve o problema e por isso decretamos um estado de exceção nas estradas para assegurar e garantir o livre trânsito”, disse Boric, agregando que seu governo se empenhará em um plano que inclui “a compra de terras para comunidades indígenas, a construção de caminhos, um diálogo (garantido) com observadores internacionais, uma recomposição de confianças, porque temos um problema de fundo que cresceu muito nos últimos anos”. 

O presidente o justificou porque “temos o dever de exercer todas as faculdades que a lei nos permite para garantir a segurança dos cidadãos em todo o território nacional, o abastecimento e o livre trânsito”. 

Com vitória de Boric, quais os desafios para a construção de um novo Chile popular?

Questionado acerca de por que seu governo decidiu não perseguir judicialmente o líder indigenista Héctor Llaitul, quem apelou “a organizar a resistência armada pela autonomia do território e para a nação mapuche”, Boric respondeu que “nosso governo persegue delitos, e o faremos com todo o peso da lei, mas nosso governo não persegue ideias nem declarações”. 

Llaitul, líder da Coordenadora Arauco Malleco (CAM), apareceu publicamente na quarta-feira em Temuco, 620 quilômetros ao sul de Santiago e capital da Araucanía, em uma manifestação em frente ao cárcere público dessa cidade, em solidariedade com os “presos políticos” mapuche – presos comuns para o governo chileno – e para exigir sua libertação. 

Os territórios mapuche, com o Chile desconhecendo pactos de coexistência pacífica subscritos em 1825, foram invadidos e apropriados em meados do século 19 por militares que assassinaram muita gente. No início do século 20 foram entregues a colonos europeus que formaram latifúndios e que após o golpe militar de 1973 passaram para a propriedade das florestais.

Aldo Anfossi, Especial para La Jornada desde Santiago do Chile.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Aldo Anfossi

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Visita de Macron à Argentina é marcada por protestos contra ataques de Milei aos direitos humanos
Apec Peru China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Apec no Peru: China protagoniza reunião e renova perspectivas para América Latina
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha (4)
Cuba luta para se recuperar após ciclone, furacão e terremotos; entenda situação na ilha