* Atualizado, às 14h50 de 08 de abril de 2020 para correção de título
A universalização do atendimento médico com o Sistema Único de Saúde (SUS) converteu a Bolívia em uma importante referência mundial segundo especialistas, uma política que hoje o governo de fato tem dificuldade em manter.
O então assessor internacional de Doenças Transmissíveis da Organização Pan-americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde (OPS/OMS) no país, Alfonso Tenorio, reconheceu em maior último o avanço nesse setor com a implementação da norma em 1º de março de 2019 pelo ex-presidente Evo Morales.
Mais de cinco milhões de pessoas sem seguro médico foram beneficiadas com o SUS, que incluía também a prevenção e o diagnóstico precoce de doenças crônicas não transmissíveis.
A iniciativa contou com um orçamento inicial de 200 milhões de dólares e outros dois bilhões para a construção de hospitais, além de 30 milhões para fortalecer o equipamento e o números de profissionais que atenderiam os pacientes em mais de mil prestações.
SUS
Mais de cinco milhões de pessoas sem seguro médico foram beneficiadas com o sistema, que incluía prevenção e diagnóstico precoce de doenças
Após o golpe de Estado contra Morales em 10 de novembro passado, o sistema de saúde se encontra em emergência devido aos recortes de pessoal, falta de equipamento, insuficientes infraestruturas e suspensão progressiva dos serviços sem uma solução a curto prazo.
A incapacidade das autoridades golpistas envolvidas em uma campanha para desprestigiar e desacreditar programas e projetos impulsionados pelo líder aimará, segundo especialistas, evidencia-se no manejo da crise que se torna mais aguda a cada dia sendo o povo o maior afetado.
O Hospital de Clínicas de La Paz suspendeu este mês as consultas das especialidades de urologia, trabalho social e cirurgia geral, uma decisão lamentada pelo diretor desse centro assistencial, Omar Rodas, porque “não estamos recebendo respostas claras e oportunas, sobretudo para a reposição de recursos humanos”.
Rodas confirmou que na gestão anterior contrataram com recursos próprios 79 profissionais, mas as autoridades do Ministério da Saúde nomeadas pela autoproclamada presidenta Jeanine Áñez, informaram que só manterão 33.
Outra mostra da crise é a paralização de 24 horas realizada pela Federação de Sindicatos de Ramas Médicas em Saúde Pública de Santa Cruz devido ao não comprimento do pagamento de salários e, se não melhorar a situação advertiram que adotarão outras medidas.
“Todos os setores foram pagos, menos o setor saúde. É a importância que o município dá à saúde. Temos um convênio que não é cumprido, e isto é um problema todos os meses, que se esquecem de nós”, denunciou Ruth Aguilera, representante do sector.
Por outra parte, pacientes com HIV/Aids no departamento de Cochabamba e a Defensoria do Povo pediram ao Ministério da Saúde que regularize a dotação de medicamente antirretrovirais porque é um “atentado contra a vida de pessoas”.
De 2010 até 2018, o governo de Evo Morales aumentou a dois bilhões e 653 milhões de dólares o orçamento para o Programa Nacional de atendimento a infecções de transmissão sexual, e dessa doença.
Alejandro Sánchez Bustamante, ex-responsável desse programa informou em dezembro de 2018 que em 2011 contavam com 447.454 bolivianos (mais de 64 mil dólares) e com esse incremento puderam adquirir maios quantidade de antirretrovirais e implementos para a detecção precoce do vírus. O Tesouro Geral da Nação cobriu 97% da compra de medicamente para as pessoas com HIV/Aids, fato que reduziu em cinco por cento os diagnósticos graças à aplicação de programas de prevenção e à disponibilidade de tratamentos, segundo cifras oficiais.
Desde 1984 foram registrados na Bolívia 23.124 casos diagnosticados, dos quais 18.427 estão vivos.
Os avanços da Bolívia em matéria de saúde foram expostos em maio passado pela ex-titular dessa pasta, Gabriela Montaño, na 72ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, na Suiça.
Durante sua participação no evento, Montaño dialogou com o diretor geral da OMS, doutor Tedros Adhanom Ghebreyesus, interessado no SUS e nas necessidades da nação andino-amazônica.
Pesquisa e tratamento do câncer em perigo pelos golpistas
Aproximadamente 19 mil novos casos de diferentes tipos de câncer são diagnosticados a cada ano na Bolívia e dessa cifra, 200 são de crianças.
Diante dessas estatísticas, o primeiro presidente indígena da Bolívia promulgou em 5 de setembro passado a Lei do Câncer para garantir o tratamento e diagnóstico gratuitos dessa doença.
A construção de três centros de medicina nuclear, dois em La Paz e um em Santa Cruz, para a pesquisa da patologia, era parte da norma que atualmente está paralisada pelas autoridades golpistas.
Os centros contariam com modernos equipamentos de medicina nuclear para o diagnóstico precoce e acompanhamento do câncer e outras doenças, assim como o tratamento mediante o uso de quimioterapia, hormonoterapia e imunoterapia.
Também ofereceriam radioterapia oncológica com equipamentos de última tecnologia como aceleradores lineares, sistemas computadorizados de planejamento de tratamento e de imobilização para dar maior comodidade aos pacientes.
A agência russa Sputnik divulgou em 12 de fevereiro o anúncio da Agência Boliviana de Energia Nuclear (ABEN), que poderia suspender a construção do Instituto de Medicina Nuclear na cidade de El Alto, avaliado em 351 milhões de dólares contratada ao grupo Rosatom do país euroasiático.
O diretor executivo da ABEN, Juan Alfredo Jordán, alegou que o contrato entre o anterior governo de Morales e o grupo russo não teria sido aprovado pelo Parlamento, como manda a Constituição, e teria cláusulas de confidencialidade que impedem sua fiscalização.
Essa decisão, somada à carência de medicamentos como a morfina e a falta de pessoal ocasionaram que pacientes com câncer e seus familiares no departamento de La Paz se declarassem em emergência desde janeiro passado.
Rosario Calle, representante dos pacientes, denunciou que apenas três pacientes são atendidos por cada médico e a cifra dos afetados aumentará devido aos recortes de pessoal em hospitais e clínicas.
O titular de Saúde do regime golpista, Aníbal de la Cruz, dialogou com os membros do setor com a promessa de solucionar a crise, mas atualmente essas demandas não foram atendidas.
A redistribuição das riquezas impulsionada por Evo Morales permitiu promulgar leis para a universalização da saúde e para garantir um atendimento gratuito e de qualidade para cem por cento da população.
No entanto, os interesses individuais das autoridades golpistas e suas intenções de privatizar novamente os recursos naturais e as empresas estratégicas do Bolívia põem em perigo esse serviço, considerado um direito humano desde 2006, graças ao líder aimará.
Jornalista da Redação da América do Sul de Prensa Latina
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Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
*ERRATA: Ao contrário do que constava no título anterior, o prejuízo é de US$ 200 milhões
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