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ToggleOs governos e os bancos centrais não conseguiram conter a tempestade que atinge os mercados financeiros, desde 24 de fevereiro. Em 15 dias, o CAC 401 caiu 15%, o Dow Jones 11% e a decisão da Reserva Federal dos EUA de reduzir em 0,5% as taxas de juros não produziu os efeitos esperados.
Se a maioria dos economistas evoca um “choque exógeno” temporário, a crise econômica que se aproxima têm causas muito mais profundas.
Foto de Dipartimento Protezione Civile from Italia
Controle sanitário no aeroporto de Bolonha
O coronavírus: um choque econômico brutal
A epidemia de coronavírus parece estar em declínio na China. O governo chinês tomou medidas dramáticas de contenção e intervenção pública que limitaram a escala da epidemia. Isso inclui a construção de novos hospitais em Wuhan ou o deslocamento massivo de profissionais de saúde para tratar os residentes das áreas mais contaminadas.
Mas a epidemia está espalhando-se rapidamente por outros países. O Irã, a Itália e a Coreia do Sul agora têm mais casos de coronavírus, em relação ao número de habitantes, do que a China.
Na Itália, mais de 3.000 pessoas foram contaminadas com o coronavírus. Todas as escolas estão fechadas até pelo menos 20 de março. E o governo decidiu colocar todo o país em quarentena. A atividade econômica vai, portanto, desacelerar ainda mais já que a Itália havia registrado, em fevereiro passado, o 17º mês consecutivo de queda da produção industrial.
Colapso dos preços do petróleo
Os preços do petróleo caíram 35% entre o início do ano e 6 de março. Esta segunda-feira, 9 de março, os preços do petróleo afundaram, perdendo 25% num único dia! Foi o colapso mais brutal desde a Guerra do Golfo de 1991. Duas razões principais para isto: a China é o primeiro importador mundial; os países da OPEP e a Rússia falharam a conclusão de um acordo de enquadramento da Rússia, então a Arábia Saudita decidiu aumentar a produção. Num contexto de queda da procura e de pânico, a queda dos preços do petróleo torna-se incontrolável.
Uma crise com raízes mais profundas
O coronavírus é um “choque exógeno” importante nas economias de todo o mundo. Um choque que se agravou com a queda dos preços do petróleo, que caíram 35% desde o início do ano. A maioria dos economistas diz-nos que estamos apenas passando por um mau momento e que o crescimento recomeçará com o desaparecimento do vírus. Assim, o remédio seria o seguinte: os bancos centrais deveriam inundar os bancos comerciais com dinheiro, para que estes ajudassem as empresas a superar os seus problemas temporários de liquidez.
Mas os problemas são muito mais graves do que um simples “choque exógeno”. Os lucros estagnam ou caem na China e nos EUA. A dívida atinge novos patamares. A França não é poupada: é o país do G7 com o mais alto nível de endividamento das empresas, que passou de 100% do PIB em 1998 para 140% em 2018. A dívida das famílias em França aumentou de 22% do PIB em 1980 para 34% em 2000, atingindo 60% em 2018. E a dívida pública explodiu em 10 anos, passando de 65% do PIB em 2007 para mais de 100% do PIB hoje. E metade desta dívida pública é detida por não residentes, o que intensifica a pressão dos mercados financeiros sobre o país.
Na França, os índices CDS – os seguros que protegem contra o default das obrigações – tendem para os níveis mais altos dos últimos quatro anos. Isto significa que o risco de falência está aumentando. Ao contrário das palavras tranquilizadoras dos economistas burgueses, muitas empresas têm um problema de solvência, não apenas de liquidez.
As taxas de lucro não aumentaram significativamente desde a crise de 2008, as empresas aproveitaram as baixas taxas de juros, devido às políticas dos bancos centrais, para se endividarem, para financiarem principalmente operações financeiras, não investimentos produtivos: recompras de ações nos mercados financeiros, fusões e aquisições, compras de vários títulos financeiros…
Por sua vez, os bancos e fundos de investimento usaram a moeda distribuída pelos bancos centrais para especular nos mercados financeiros, o que aumentou a desconexão entre o valor das ações e os lucros gerados na economia real.
É neste contexto que a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, em janeiro passado, comparou a situação atual com os “anos loucos” que precederam o crash bolsista de 1929. Revelando as contradições acumuladas nos últimos dez anos, o coronavírus vai provavelmente desencadear uma grande crise econômica que mergulhará a economia mundial em recessão. (…)
Extrato de artigo de Gaston Lefranc, publicado em npa2009.org(link is external), traduzido para português por Carlos Santos para esquerda.net
Notas:
1 Índice bolsista de França.
2 A principal taxa diretora do banco central é a taxa de juros pela qual os bancos comerciais se refinanciam em liquidez monetária junto do banco central. Por consequência, quanto menor for essa taxa, mais a massa monetária em circulação aumenta, uma vez que os bancos comerciais podem obtê-la a um custo menor.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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