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ToggleA guerra psicosocial travada, desde sempre, pelo Império para expandir sua hegemonia, ganhou sofisticados equipamentos de comunicação e informação e, o que temos agora, é uma guerra cibernética psicossocial. Nesta guerra ciber, ou ciberguerra, a mais poderosa das armas é a palavra.
O neoliberalismo já tinha descoberto isso e transformou a palavra em mais uma commodities. Desde sempre, informação é poder. O domínio da informação pela mídia hegemônica, transformada em porta-voz da ditadura do capital financeiro, transforma a palavra em produto para ser vendido.
Até mesmo o sistema educacional, apropriado por grandes grupos transnacionais, está transformando o educar em uma espécie de commodity, em um sistema para dar lucro a grandes investidores. Educar é utilizar palavras e elas estão sendo utilizadas para consagrar o pensamento único imposto pelo capital financeiro.
Reprodução: Winkiemidia
Casamento judeu
Nós, as vítimas dessa guerra temos que tomar muito cuidado. O inimigo esperto utiliza até mesmo inteligência artificial, algoritmos que ajudam a escolher quais palavras devem ser utilizadas para influenciar cada grupo de diferentes interesses. Além disso, dão às palavras outros sentidos, não casualmente contrário ao sentido original.
Meu amigo Sérgio Storch, pacientemente me chamou a atenção pela generalização que fiz ao condenar o Estado teocrático de Israel pelas atitudes tomadas em conluio com o radicalismo neoliberal e o fundamentalismo neopentecostal. Ações estas contrárias ao desenvolvimento e à liberdade dos povos e favoráveis ao fortalecimento da hegemonia do Império — leia-se a ditadura do capital financeiro hegemonizada pelos Estados Unidos.
De fato, indignado após constatar a participação desse conluio no golpe perpetrado para capturar o poder na Bolívia e as revelações do centro de estudos Global Research de que foi o serviço de inteligência israelense, Mossad, quem criou o grupo terrorista Estado Islâmico (Daesh), misturei as coisas e fiz com que o sionismo aparecesse como o protagonista das maldades perpetradas pelo Estado teocrático de Israel.
Mea culpa. Nem todo judeu é sionista e nem todo sionista é imperialista e menos ainda supremacista. É a apropriação do sionismo pelo Estado Teocrático que leva a essa injunção.
Precisamos tomar muito cuidado para não cair no jogo da mídia hegemônica que desvirtuou completamente o sentido de certas palavras. E isso faz parte do jogo de dominação. É técnica, como vocês podem ver no vídeo em que Steve Bannon explica direitinho como implantar o caos utilizando as palavras:
Vejamos alguns exemplos.
Liberalismo virou liberdade econômica e/ou livre mercado. Perdeu completamente o conteúdo libertário que moveu as revoluções liberais dos anos 1800 na Europa e inclusive no Brasil. Revolução anti-monárquica, anti-feudal, anti-escravagista e, sobretudo anti-colonialista. O neoliberalismo que domina o ideário da nova direita é exatamente em sentido contrário: é escravagista, está a implantar verdadeiros feudos na produção agropecuária e se mantém autocraticamente como uma monarquia, além de abdicar da soberania e submeter-se ao Império. Enquanto aquele visava a uma sociedade inclusiva, este aprofunda a sociedade excludente.
Comunismo é outra palavra das mais demonizadas. Por meio de um trabalho inteligente de ressignificação, passou a dizer exatamente o contrário de tudo aquilo que originalmente significava, como a gestão democrática do Estado pela classe trabalhadora através das assembléias (sovietes). Por exemplo, na China, a gestão dos municípios é feita por assembleias. Como dizia Karl Marx: “a cada um de acordo com sua necessidade”.
Petista teve a mesma manipulação que a palavra comunista e não é de hoje que se lê e escuta “petralha”, “esquerdalha”, sempre associadas a corrupção e certos desvios morais.
Judaísmo e comunismo
Judaísmo e comunismo não são termos incompatíveis. Por exemplo, quem me levou para o Partido Comunista Brasileiro foi um velho e sábio militante comunista judeu: Abrahão Blay. Aliás, os judeus comunistas tinham uma presença das mais significativas partidão brasileiro. Carlos Marighella, dirigente comunista revolucionário, vivia com Clara Charf, que era judia.
Em Israel há um Partido Comunista que não pactua com o Estado teocrático a serviço do Império. E vale lembrar que antes de submeter-se à hegemonia do capital financeiro, Israel era social-democrata e mantinha uma produção comunitária nos Kibutz. Isso acabou e a gente deve torcer para que volte.
O que fica no ar é como recuperar o sentido da palavra quando a mídia e agora o governo de ocupação que se apossou do Brasil, atuam para deformar mais ainda o sentido das palavras. Na guerra cibernética que travam contra nós, a arma é a palavra.
Surge o Estado de Israel
Para entender a ocupação imperialista no Oriente do Mediterrâneo e o papel do Estado teocrático de Israel neste contexto, é preciso percorrer um pouco da história.
O que hoje são Palestina, Israel, Líbano e Jordânia fazia parte do Império Otomano, com sua capital em Damasco, na Síria, iniciado em 1517, ou seja, já existia quando o Brasil começou a ser ocupado pelos europeus e só terminou em 1917, quando foi desbaratado na 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
Terminado o confronto bélico, houve um redesenho do mapa geopolítico da Europa e da Ásia. O território que integrava o Império Otomano derrotado foi repartido pelas potências vencedoras França e Grã Bretanha. A maior parte ficou com os britânicos, cujo domínio se estendeu até 1948. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) houve nova reconfiguração do mapa geopolítico da região.
Nessa área viviam tranquila, mas não tão harmonicamente, os povos semitas, persas (iranianos), kurdos, berberes, entre outros. Até aí, os povos semitas viviam em harmonia, como também conviviam tranquilamente o judaísmo, islamismo e cristianismo, as três religiões monoteístas de origem comum.
O Movimento Sionista teve origem na Europa com o centro na Albion (Inglaterra). Havia judeus por toda parte, mas a eles achavam que deveriam ter seu próprio território. Quem primeiro sistematizou essa ideia foi o jornalista austríaco Theodor Herzl em seu livro O Estado Judeu.
O novo Estado tinha que ser em Sion, ou Monte Sião, onde no milênio anterior a Cristo florescera um reino israelita, mas que desde o início da era cristã era conhecida como Jerusalém e, nessa época, território ocupado pelos turcos, ou seja, parte do Império Otomano. Vem daí a palavra sionista, que designa os seguidores de Herzl e igualmente explica o verdadeiro apego dos judeus com relação à Palestina.
A ideia começa a se concretizar em novembro de 1917, em plena guerra, quando o ministro de Relações Exteriores britânico Arthur Balfour envia uma carta ao barão Lionel Walter Rothshild, líder da comunidade judaica, sugerindo que em atenção ao Movimento Sionista, sua majestade é favorável a que se estabeleça na Palestina uma pátria (national home) para o povo judeu.
A intenção declarada era protegê-los das perseguições históricas por toda a Europa. O supremacismo está na raiz das conquistas dos impérios europeus.
A corte britânica defendia então um só Estado abrigando dois povos: árabes e judeus. O grande fluxo populacional, contudo, alertou-a sobre ameaça de perda da hegemonia. A presença colonial da Grã Bretanha na região se prolongaria até 1948, quando o pós 2ª Guerra Mundial impôs uma nova geopolítica na área com o reconhecimento da independência dos países.
O Estado se consolida
Em 1931 o Movimento Sionista organiza grupos de terroristas, atuando na região para criar uma onda favorável à intenção de ocupar Jerusalém, a terra prometida. Interessante que o alvo principal do movimento de independencia dos judeus é basicamente contra a presença britânica, o que enfurece a Corte diante da hegemonia ameaçada.
Para garantir essa presença, a Grã Bretanha incorpora tropas judias às tropas britânicas de ocupação. Estava armado o conflito que perdura até hoje. A Inglaterra deixa o território, os árabes, há que admitir, não tinham por que aceitar a presença de estrangeiros, fossem britânicos ou judeus europeus em seu território. Mas os judeus entravam com tudo. Milionários de todo o mundo financiavam o movimento e imigrantes ricos compravam terras dos camponeses para logo expulsá-los do território.
A ONU entrou em 1947 para mediar o conflito e, em 1947, aprovou a proposta — ainda válida e apoiada pela maioria dos países do mundo — da criação de dois Estados, um para judeus e outro para os palestinos. Com isso, no ano seguinte, a Inglaterra retirou suas tropas e foi formado o Estado de Israel, com Ben Gurion no comando.
A presença de bases militares britânicas no oriente do Mediterrâneo incomodava a União Soviética. Por isso, saudaram a retirada dos militares e a formação do Estado de Israel. Não obstante, no lugar das bases militares britânicas, quase que de imediato, chegaram as bases estadunidenses.
Em 1948 começou a infindável tragédia que até hoje assola o povo palestino. De início, ou seja, de imediato, 700 mil foram expulsos de seus lares.
As ações dos grupos terroristas sionistas não cessaram com a retirada dos britânicos. Logo se transladaram para o Egito, onde Gamal Abdel Nasser comandava uma revolução nacionalista que estatizou o petróleo e o canal de Suez. Como reação ao crescente nacionalismo árabe, Israel desencadeou a Guerra dos Seis Dias e, com armas e dinheiro fornecidos pelos Estados Unidos, ocuparam toda a Palestina, as Colinas sírias de Golán e o Sinai egípcio.
Diante de tal barbaridade, o Conselho de Segurança da ONU se viu obrigado a intervir e Israel foi obrigado a devolver o território palestino.
Para os povos originários, tratava-se de uma invasão de brancos europeus que falavam ídiche sem nenhuma noção do hebraico ou do árabe. Gente pobre que não via futuro numa Europa preconceituosa e que foram enganados com a promessa de uma terra prometida, socialista e democrática.
No início, havia um sentimento de solidariedade para com os judeus, vistos como vítimas de perseguições na Europa. Os pogrons e campos de concentração nazistas, logo transformados em campos de extermínio, longe de ser ficção, é a mais crua realidade.
Porém, havia um outro lado na ocupação israelense na região, mas as potências vencedoras só mostraram uma versão do problema e a mídia submissa e acrítica fez o jogo e demonizou o povo árabe.
A ocupação europeia sionista resultou na expulsão de milhões de palestinos de suas terras e casas. Esse povo foi confinado em acampamentos de refugiados na Síria, na Jordânia e, principalmente, no Líbano, além de outros países da região. Refugiados na sua própria terra, foram submetidos a um permanente estado de guerra, com vergonhosos muros separando famílias e povos.
O Estado Teocrático
Numa ensolarada e quente quinta-feira, em 19 de julho de 2018, o parlamento israelense aprovou a lei que define o país como um Estado-Nação-Judeu, algo assim como Israel só pra judeus. A lei permite que Israel “autorize uma comunidade composta de pessoas que tenham a mesma fé e nacionalidade para manter o caráter exclusivo daquela comunidade”.
O site Breaking Israel News saudou o fato com a citação da passagem bíblica de Gênesis 17:8,= que diz: “Toda a terra de Canaã, onde agora você é estrangeiro, darei como propriedade perpétua a você e a seus descendentes; e serei o Deus deles”.
Esse Estado teocrático teve o imediato apoio de Trump, que nos Estados Unidos, prometendo transferir a embaixada ianque de Tel Aviv para Jerusalem. Trump tem o apoio do lobby judeu e dos fundamentalistas cristãos, particularmente os pentecostais e neopentecostais. Simultaneamente, quando ainda candidato, o atual ocupante do Palácio do Planalto jurava fidelidade e Trump e anunciava transferir a embaixada brasileira também para Jerusalém.
O Estado Teocrático cria outra situação, ainda mais grave, no Oriente Médio. O Estado laico tinha moral para criticar os estados teocráticos islâmicos árabes. Hoje não.
Se não é o Estado Sionista, o que é? Máfia Judia? Talvez essa seja a melhor definição, uma vez que qualquer versão que adotemos não disfarçará o caráter de enclave imperial do Estado Teocrático de Israel no coração do Oriente do Mediterrâneo.
Este é um espaço de reflexão, não podemos fazer o jogo da dicotomia maniqueísta entre o bem e o mal, o bom e o mau porque o mundo não é assim, me disse, sabiamente o amigo Sérgio Storch.
De fato, não podemos colocar os pentecostais no mesmo saco dos pastores estelionatários das múltiplas denominações neopentecostais. Estes são realmente um perigo à Segurança Nacional. Veja o que fazem no governo de ocupação em Brasília e o que já estão fazendo na Bolívia recém ocupada por essas mesmas forças.
É isso. As histórias têm que ser contadas, desnudadas, esmiuçadas para reflexão. Sou um contador de história.
Anexo:
Cronologia de uma agressão permanente
Muita coisa aconteceu após a consolidação do Estado de Israel até chegar à teocracia de hoje. Não há espaço para entrar em detalhes, mas vamos apontar uma lista cronológica.
Os árabes, em defesa de seu território e cultura se rebelam. Daí pra frente, a cada revolta árabe contra a ocupação estrangeira do seu território, Israel, armado e financiado por Inglaterra e Estados Unidos incorporava mais uma fatia do território
Veja a sequência dos fatos:
1947 – Plano de Partilha aprovado pela ONU propunha a presença de dois Estados, um judeu outro árabe.
Em 1948, com a retirado dos britânicos, Egito, Síria, Iraque, Jordânia se opõem à presença de Israel e tentam expulsá-lo. Foi Israel quem expulsou os palestinos, quase um milhão ainda vivem em campos de refugiados.
1956 – Ocupação do Sinai.
1967 – Guerra dos Seis Dias.
1968-1970 – Guerra contra o Egito.
1973 – Guerra do Yon Kipur: Egito e Síria tentam retomar as colinas de Golán, na península do Sinai.
1978 – Israel invade o sul do Líbano – Operação Litani.
1978 – Acordos de Camp David – mediado por Carter entre Israel e Egito.
1981 – Israel bombardeia as usinas de energia do Iraque.
1982 – Israel invade de novo o sul do Líbano com o mesmo pretexto de combater palestinos do Fatah. – Protagoniza o Setembro Negro, com o massacre dos campos de refugiados de Sabra e Shatila. Só vai deixar o país por pressão internacional e da ONU em 2000.
1987-1993 – Primeira Intifada – manifestações pacíficas reprimidas com violência e força desproporcional – árabes inconformes com a ocupação de seus territórios.
1993 – Acordos de Oslo entre Israel e a OLP mediados pelo presidente Clinton.
1990-1991 – Guerra do Golfo – Iraque invade o Kuwait.
1993 – Clinton promove encontro entre os dois chefes. Acordos firmados com a OLP – nunca foram cumpridos.
1995 – Assassinato de Itajaí Rabin – ascensão de Shimon Perez.
1996 -Operação Uvas da Ira contra os povos árabes – Benjamin Netanyahu assume como premier e fica até 1999.
1997 – Protocolo de Hebron com a OLP.
2000 – Intifada de Al-Aqsa – Violenta repressão contra os árabes do território – Arábia Saudita oferece plano de paz, Israel diz que a discussão tem que ser entre palestinos e israelenses. Milhares de mortos, palestinos, claro, cerca de 4 mil.
2001 – Elaborado um plano de trabalho com a OLP – A Arábia Saudita oferece um plano de paz, prevendo dois Estados, aceito por toda a comunidade árabe, rejeitando por Shimon Peres.
2002 – Israel começa a operação “ muros de defesa” isolando o povo palestino.
2003 – Plano de Desconexión contra palestinos.
2005-2006 – Operações militares de limpeza – Israel abandona algumas áreas ocupadas na Faixa de Gaza e Cisjordânia.
2006 – 2a Guerra do Líbano em represália à ações militares do Hezbollah Israel arraza o Líbano… aeroporto, tudo.
2007 – Israel declara Gaza como território hostil.
2008 – Ação militar contra Gaza – bombardeio.
2009 – (Bibi) Netanyahu de novo assume como 1o ministro e foi reeleito.
2010 – Israel entra na OCDE – o clube de países ricos que quer governar o comércio mundial.
2018 – Bibi visita o Brasil para prestigiar o candidato do neopentecostalismo sionista. Antes visitara o presidente neoliberal Maurício Macri na Argentina. Em ambos os casos acordaram venda de armas e tecnologia para tropas de repressão.
2019 – Bibi visa a Ucrânia – nessa época criaram uma verdadeira histeria.