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Eleições na Guatemala: Circo eleitoral está pegando fogo enquanto população é castigada

Eleitores começam o consabido processo de avaliar os alcances de sua participação, sem qualquer entusiasmo e até com certo ceticismo
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul Global
Cidade da Guatemala

Tradução:

Para o evento eleitoral cuja celebração se avizinha na Guatemala, surgiram candidaturas que nem deveriam ser levadas em conta pela cidadania; e não apenas por representar o pior de uma sociedade golpeada pelas organizações criminosas, pela corrupção política e pela falta de valores do empresariado, mas por um simples prurido de dignidade.

A população guatemalteca tem sido castigada uma e outra vez por aqueles que controlam os poderes do Estado, sem ter sequer o ímpeto indispensável para se levantar, reorganizar suas forças e agir como se deve diante dos abusos de um sistema desenhado para se aproveitar de suas fraquezas.

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O circo eleitoral está pegando fogo e seria bom que fosse assim, para ver se depois surge de suas cinzas a depuração que necessita com urgência. No cenário atual e sem o menor dissimulo desfilam os exemplares mais nefastos do entorno político e os eleitores começam o consabido processo de avaliar os alcances de sua participação, sem qualquer entusiasmo e até com o ceticismo que tem acompanhado todas as eleições de autoridades desde o retorno à democracia com a eleição de Vinicio Cerezo, cujo triunfo despertou grandes expectativas e resultou provocando grandes decepções. 

Eleitores começam o consabido processo de avaliar os alcances de sua participação, sem qualquer entusiasmo e até com certo ceticismo

Wikimedia Commons
Pau que nasce torto, morre torto não é um simples ditado popular, é uma verdade contundente

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No entanto, diante de dados carregados graças a uma lei eleitoral que os maneja à vontade, a percepção geral é de uma profunda desconfiança que alcança, em certa medida, as poucas candidaturas honestas que poderiam gerar um pouco de esperança. Mas mesmo quando a cidadania conhece os antecedentes de algumas candidatas e candidatos pouco aptos para exercer a primeira magistratura da nação, administrar uma prefeitura ou integrar una assembleia legislativa, o certo é que inclusive os piores capturam a atenção pública graças a artifícios mercadológicos sempre eficazes com um povo pouco afeito à análise e ao questionamento de seus oferecimentos e, dadas suas graves carências, também inclinado a aceitar a generosidade com a qual os financiadores de campanha fixam suas apostas. 

Pau que nasce torto, morre torto não é um simples ditado popular, é uma verdade contundente. O comportamento de algumas candidatas e alguns candidatos empenhados em retorcer as leis e amordaçar a imprensa e seus opositores, deveria despertar todos os alarmes. Se a partir de uma candidatura lançam ameaças e violam os preceitos constitucionais, é possível imaginar o que poderão fazer desde uma posição de poder como, por exemplo, a presidência da República. Adicionalmente, suas candidaturas cheiram a delito desde o momento em que existem investigações e evidências de ações anômalas sobre o financiamento de suas campanhas, mesmo que seus adeptos oponham toda classe de recursos para evitar a ação da justiça.

A vitrine das ofertas eleitorais está infestada de exemplares nefastos que, com um descaramento total, lançam ameaças de regresso às ditaduras; de falsos cristãos cujas intenções desonestas saltam à vista; de autênticos dinossauros do passado com longos rabos de mentiras e corrupção, e tudo isso como um salto quântico em direção a um passado que já se supunha superado. Para os eleitores, este processo se transformou em um jogo de eliminatórias, onde a ficha ganhadora poderia significar a morte da incipiente democracia pela qual se tem trabalhado com tanta ilusão e com grandes perdas humanas. Por isso, o ditado em referência deve servir como um guia valioso para não voltar a cair em um buraco negro como o que identifica nosso país ante o mundo.

*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala

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Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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