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Israel e sua “solidariedade” com os terroristas na Síria

Revista Diálogos do Sul

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O primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apenas consegue conter o sorriso. Está rodeado por militares e funcionários. Seu braço direito se estende e aperta a mão de uma pessoa ferida sobre uma cama de hospital. É fevereiro de 2015 e essa imagem deu volta ao mundo. Netanyahu não está cumprimentando uma pessoa qualquer, mas sim a um integrante de um grupo terrorista que opera no sul da Síria.

Leandro Albani*

Netanyahu não está cumprimentando uma pessoa qualquer, mas sim a um integrante de um grupo terrorista que opera no sul da Síria
Netanyahu não está cumprimentando uma pessoa qualquer, mas sim a um integrante de um grupo terrorista que opera no sul da Síria

A partir desse momento, as suspeitas de colaboração israelense com grupos irregulares em território sírio foram confirmadas. Na sexta-feira passada (4/8/17), o portal Al Masdar News difundiu novas imagens em que se vê  pessoal médico das forças armadas israelenses (IDF na sigla em inglês) atendendo terroristas feridos nos Altos do Golã, território sírio usurpado por Israel na década de 1960.

Segundo a rede Hispantv, os terroristas “depois de receber os primeiros auxílios de parte dos serviços de saúde militares na parte de Altos ocupada por Israel, retornaram a suas posições iniciais para continuar combatendo contra as tropas sírias”.

Hospitais

Há poucos anos de iniciada a crise interna na Síria, soube-se que nos Altos do Golã o governo de Tel Aviv mantinha instalados hospitais de campanha onde os terroristas eram assistidos. Em 19 de julho passado, o tenente coronel das IDF, Tomer Koller, declarou que seu país fundará um centro médico para atender os terroristas.

“O hospital estaria situado no lado sírio da cerca, mas no lado israelense da linha de demarcação nos Altos do Golan”, detalhou o militar e acrescentou que começará a funcionar durante este mês, com uma capacidade para atender a 50 pacientes diariamente.

Em agosto de 2016, o diário Al Quds Al Arabi publicou declarações de um responsável médico de um grupo terrorista que afirmou: “Há quase 40 dias que o governo jordaniano fechou as passagens fronteiriças com a Síria. Este fato fez com que morressem diversos combatentes feridos na Síria. Portanto, decidimos transladar nossos feridos para hospitais israelenses”. Ao mesmo tempo, o diário israelense Yedioth Ahronoth confirmou que equipes médicas do exército hebreu tinham intensificado as missões de “resgate” dos terroristas.

Diversos meios de comunicação calculam que até o ano passado uns 1.309 terroristas foram atendidos em hospitais de campanha israelenses. O jornal britânico Daily Mail informou em fins de 2015 que durante o ano de 2013, o governo de Tel Aviv gastou cerca de 13 milhões de dólares em serviços médicos para integrantes dos grupos irregulares que operam na Síria.

Em janeiro deste ano, o chefe de estado maior de Israel, Gadi Eizenkot anunciou que seu governo destinaria sete milhões de dólares para “assistir” os terroristas que combatem na Síria. Durante uma conferência sobre desafios de segurança, desenvolvida no centro interdisciplinar de Herzliya, o militar afirmou que “26 milhões de shekels (7 milhões de dólares) do orçamento das IDF se destinam a assistência médica” para os extremistas. Eizenkot confirmou que “no total, mais de 3 mil deles foram hospitalizados em Safed e Nahariya“, cidades localizadas no norte dos territórios palestinos ocupados.

Outra prova da ingerência israelense na Síria foi dada pela própria Organização das Nações Unidas (ONU). Em junho de 2016, o organismo publicou um informe em que destacou que a Força da ONU de Observação da Separação (UNDOF), durante o período de março a maio de 2014, “detectou contatos entre os terroristas da Frente Al Nusra” e “o exército israelense nos Altos de Golan.

Na investigação se detalhou que as forças da ONU foram testemunhas de como os terroristas transportaram a 89 feridos em Golan. No informe também cita declarações de Mohammad Qasim, ativista sírio da oposição na província de Quneitra, que manifestou que as forças israelenses proporcionaram à Frente Al Nusra mapas da zona fronteiriça e de postos estratégicos do Exército Sírio. “Durante os enfrentamentos, as forças israelenses bombardearam ferozmente muitos dos postos do governo sírio, derrubando um avião de combate sírio que tratava de impedir o progresso dos combatentes”, declarou Qasim.

ISIS, a melhor opção

Em meados do ano passado, o professor Efraim Inbar, diretor de BESSA –um centro de estudos estratégicos da Universidade ortodoxa Bar-Ilan de Tel Aviv- , publicou o artigo “A destruição do Estado Islâmico é um erro estratégico”, em que sustenta que “a existência continuada do Estado Islâmico serve a nossos interesses estratégicos” e “pode servir como ferramenta para socavar os planos do Irã, Hezbollah, Síria e Rússia para o Oriente Médio. Inbar, apontado como um influente assessor do governo de Netanyahu, qualificou como um “erro” e uma “loucura” destruir o ISIS.

As declarações de funcionários israelenses confirmam porque Tel Aviv bombardeia cada vez com maior assiduidade diferentes zonas da Síria. Enquanto isso, as denúncias do governo de Damasco apresentadas na ONU sobre a ingerência israelense continuam se acumulando sem que ninguém se ocupe do assunto. É claro que o estado israelense tem interesse de que Síria seja desmembrada, objetivo que é compartilhado pela Arábia Saudita e a Turquia, seus principais aliados no Oriente Médio.

Em abril deste ano, o ex ministro de Segurança de Israel, general Moshe Yaalon, confirmou algo que era um segredo a vozes: a relação de Tel Aviv com os grupos terroristas que operam na Síria. Em entrevista ao Canal 10 de Israel, Yaalon relatou que “houve um caso recente em que o Daesh abriu fogo e se desculpou”. Os disparos do grupo terrorista tinham impactado contra os Altos de Golan, território sírio ocupado por Israel logo após a denominada Guerra dos Seis Dias em 1967.

Eliminar o presidente

“É hora de eliminar a Al Assad”, literalmente, declarou, sem perturbar-se, Yoav Galant, ministro israelense da Habitação, em maio deste ano. Logo depois que os Estados Unidos acusaram o governo sírio de ter um presunto crematório construído no complexo da prisão de Sednaya, perto de Damasco. Galant não perdeu tempo e exigiu de Washington que “faça isso agora”.

“Isto é algo que não tínhamos visto em 70 anos, estamos cruzando uma linha vermelha e é hora de eliminar a Al Assad, literalmente”, expressou o funcionário e ex comandante geral das forças de defesa de Israel.

E como se não bastasse, Galan subiu a aposta e argumentou que o governo do presidente sírio Bashar Al Assad é “o pior desde os nazistas encabeçados por Adolf Hitler na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial”.

Em janeiro de 2017, enquanto participava do Fórum Econômico Mundial, transcorrido na suíça Davos, Netanyahu afirmou que “a opção mais benigna para a Síria seria uma balcanização ou fragmentação do país árabe, que sob as atuais circunstâncias é o melhor que se poderia obter. Isto, porque tenho sérias dúvidas de que um Estado unitário volte a governar o país”.

Não há fissuras nas declarações de Netanyahu. Mesmo nas ocasiões em que os meios o mostram como um desaforado ou “politicamente incorreto”, Netanyahu representa o Estado israelense mais profundo, comandado pela ideologia sionista. O primeiro ministro é consciente, como o é a maioria da classe política israelense, que a queda da Síria seria um passo mais para o desaparecimento da Palestina, e, por sua vez, uma nova escalada para desestabilizar o Irã, o principal adversário de Israel no Oriente Médio.

Desde o início dos planos desestabilizadores para golpear a Síria e conseguir a derrubada de Al Assad, o governo de Tel Aviv manteve, em aparência, um segundo plano, enquanto Estados Unidos e Rússia ainda hoje disputam o território compreendido entre o Iraque e a Síria. Ao mesmo tempo, nestes últimos anos, os fatos de ingerência protagonizados pela Turquia e Arábia Saudita em território sírio, em apoio ao Daesh e outros grupos irregulares, continuaram, chegando ao ponto de que o governo de Recep Tayyip Erdogan sustenta uma invasão por terra e ar sobre o norte da Síria, região habitada e defendidas pelo povo curdo e de outras nacionalidades.

Se há algo que não se pode negar aos governantes e militares israelenses é uma sinceridade que roça o perverso. No caso da Palestina, nunca esconderam que o objetivo do Estado israelense é exterminar os palestinos. Depois de seis anos de guerra de agressão contra a Síria, o discurso é similar: destruir o Estado sírio, eliminar seu presidente e acompanhar esse discurso com bombardeios que, pelo visto, não são controlados pelos organismos internacionais.

*Original de Barómetro Internacional


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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