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EUA gastaram trilhões em guerra contra Afeganistão e saldo foi aumento de refugiados

Uma derrota que custou mais de 8 trilhões de dólares e 900 mil mortos: o trágico balanço ao fim da guerra do Afeganistão, a mais longa dos Estados Unidos
Ingrid Cagy Marra
OPEU

Tradução:

No aniversário de 20 anos dos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, ocorridos em 11 de setembro de 2001, seguidos pela invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão como forma de retaliação, o complexo industrial-militar estadunidense calcula em US$ 8 trilhões os custos de guerra pós-11/9. Para efeitos de comparação, US$ 6,6 trilhões foi o valor do orçamento estimado de todos os gastos dos Estados Unidos para o ano de 2019.

Os maiores custos orçamentários, representando as Contingências Operacionais para Além-Mar do Departamento da Defesa, chegam a mais de US$ 2 trilhões; os custos para cuidado médico pós-guerra aos veteranos, a US$ 465 bilhões; adicionados a uma estimativa de US$ 2,2 trilhões para cobrir futuras despesas médicas dessa parcela populacional pelas próximas décadas.

Uma das maiores despesas vem do Departamento de Segurança Interna, que tem como papel prevenção e resposta ao terrorismo em solo doméstico, com valores estimados em US$ 1,1 trilhão.

Figura 1 – Estimativa de Gastos de Guerras dos EUA no pós-11/9

Retirados do projeto Costs of War, da Brown University, os dados também contam com 900.000 óbitos, sem contar as mortes indiretas (como falta de acesso à saúde, alimentação, eletricidade, ou infraestrutura em geral). O Costs of War se refere a todas as operações militares e projetos governamentais levados a cabo pelos Estados Unidos, no âmbito da política de “Guerra Global ao Terror” (GWOT, na sigla em inglês), instituída por George W. Bush.

Uma derrota, 2 trilhões de dólares e 200 mil mortos: o curioso fim da guerra do Afeganistão, a mais longa dos Estados Unidos

Ainda conforme a mesma fonte, entre 360 e 390 mil mortos em países estrangeiros eram civis, incluindo-se trabalhadores humanitários e jornalistas. Além disso, a degradação da saúde mental dos envolvidos já levou a 30.177 casos de suicídio de membros de serviço dos EUA e veteranos de guerra.

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Vatican News
Milhões de pessoas foram deslocadas como resultado direto das intervenções militares estadunidenses

Tabela 1 – Custos humanos das Guerras do pós-11/9

Quando se analisa a atuação dos Estados Unidos no Afeganistão, Paquistão, Iraque e Síria, o número de refugiados também aumentou de maneira significativa. Como mostra a tabela abaixo, milhões de pessoas foram deslocadas como resultado direto das intervenções militares estadunidenses no ano de 2017. Os maiores números de pessoas deslocadas são da Síria, com mais de 12 milhões de pessoas afetadas, seguidos do Afeganistão, com quase 5 milhões de pessoas. A tabela é dividida entre refugiados, deslocados internamente e pessoas à procura de asilo em outros países.

Tabela 2 – Refugiados e deslocados internos

Para além dos custos orçamentários e humanos, o Costs of War também cobre os custos ambientais, de grande importância para o governo de Joe Biden. A agenda ambiental também sofreu os impactos das décadas de guerra. Hoje, o Pentágono é a instituição que mais consome combustíveis fósseis no planeta, emitindo mais gases de efeito estufa do que países inteiros, como Marrocos, ou Suíça. A estimativa de emissão de gases durante esse período chega a 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa, e mais de 400 mil toneladas sendo resultado direto do consumo de combustíveis fósseis.

Essas operações não representam, porém, somente custos. Com base em uma lógica de retroalimentação do complexo industrial-militar estadunidense, operações militares e guerras são formas de garantir o lucro da indústria bélica dos Estados Unidos. Gastos bélicos, muitas vezes financiados por crédito do setor rentista privado, aumentam o valor do capital especulativo circulante, fazendo que esse complexo passe a ter um papel de impulso econômico.

Durante as duas décadas de guerra, viu-se o desempenho dos mercados financeiros de defesa representar 158% do valor dos outros mercados de ações. Além disso, a indústria bélica também promove o crescimento da produção, com aumento de empregos industriais e a garantia da infraestrutura de administração do setor.

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Grande parte dos lucros desse setor também é usada para atividades de lobby no Congresso, que alimenta a indústria com orçamentos cada vez maiores. Embora não seja possível dizer que os gastos no setor bélico trazem retornos diretos (lucro), os gastos trazem oportunidades de ocupação de territórios pelos vencedores, aumentando seu território econômico (aumento de acesso a mercados, exploração de riquezas e trabalho humano).

De maneira geral, o gasto armamentista pode gerar retornos com o processo de expansão do capital, além de trazer consigo a destruição de infraestrutura produtiva dos territórios ocupados, oferecendo uma oportunidade de prestação de serviços para reconstrução.

Percebe-se, dessa forma, que os gastos advindos dos conflitos desencadeados pela “Guerra Global ao Terror” não representam apenas custos, devendo ser compreendidos nos termos de seus efeitos sobre o complexo militar-industrial norte-americano e dos processos políticos a ele associados.

 

Ingrid Cagy Marra é pesquisadora voluntária do OPEU, graduanda do curso de Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ (IRID/UFRJ) e integrante do Laboratório Orti Oricellari de Economia Política Internacional, onde pesquisa moeda enquanto instrumento de pressão política em países não-alinhados à hegemonia estadunidense, hierarquia monetária internacional e criptomoedas. Participa, desde 2020, do Grupo de Estudos em Neurociências da Universidade Estadual do Norte do Paraná.

* Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira. Recebido em 11 set. 2021. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do Opeu, ou do INCT-INEU.

**Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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