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Eleições no Peru: Salvo Verónika Mendoza, debates entre candidatos à presidência decepciona peruanos

Votar não é só cumprir com um dever cívico. É, sobretudo, abrir passagem para um futuro melhor. Nos trabalhadores está a solução
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Se diz “convidado de pedra” àquele que em uma reunião ou em um evento permanece mudo, não participa e é absolutamente ignorado pelos demais. Stricto sensu, a expressão pode ser aplicada hoje aos trabalhadores peruanos no processo eleitoral que se aproxima

Estamos apenas a 4 dias das eleições nas quais serão eleitos o Presidente da República e os parlamentares para o próximo quinquênio. Já ocorreram os debates oficiais programados pelo Júri Nacional de Eleições e os postulantes à primeira magistratura já tiveram a possibilidade de apresentar suas propostas e iniciativas, buscando o apoio dos eleitores.

 
Este processo tem sido singular, em boa medida por causa da crise sanitária que afeta severamente a sociedade peruana, legando um doloroso estigma de doença e morte. Neste marco o sufrágio assoma como um desafio.

Votar não é só cumprir com um dever cívico. É, sobretudo, abrir passagem para um futuro melhor. Nos trabalhadores está a solução

CPT.PE
Estamos apenas a 8 dias das eleições nas quais serão eleitos o Presidente da República e os parlamentares para o próximo quinquênio

Debates decepcionam

Os debates registrados na semana anterior deixaram um sabor amargo para muitos peruanos. Uma torrente de promessas que não serão cumpridas, um acúmulo de ofertas eleitorais que parecem uma feira de produtos exóticos e alguns ataques pontuais entre aspirantes que não chegaram ainda ao coração dos votantes.

Não obstante, foram registradas algumas intervenções coerentes, certas propostas interessantes, distintas iniciativas lógicas e até propostas que ajudam a refletir. No entanto, de modo geral, ficou flutuando uma ideia: muitas palavras e pouca essência.

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Salvo Verónika Mendoza, ninguém deixou uma marca que tenha semeado consciência na mente de nossos compatriotas. Por isso ela foi considerada a melhor

Os expoentes do pensamento mais reacionário – desde Keiko Fujimori até López Aliaga – não formularam nenhuma proposta inovadora. Ela ficou em sua vontade de voltar ao passado, carregada de máfia e corrupção

Os chamados “políticos tradicionais” – desde Hernando de Soto até Alberto Beingolea – encheram a boca elogiando “o modelo” de dominação capitalista que hoje começa a afundar em todas as esquinas. Ponderaram a iniciativa privada, o investimento privado e a propriedade privada. 

E o fizeram com tanto empenho que poderiam merecer ver-se privados do voto cidadão. Inclusive falaram de “Uber” para a Educação, e de “Sheriff” para a Segurança. Sentem-se ianques da cabeça aos pés.

Tema esquecido

O tema central, e esquecido, foi outro: o que é o mais importante no país? O Capital ou o Trabalho?  – Para os defensores do sistema, o importante é o dinheiro. “Há que buscar recursos”, disseram; “o que falta é investimento”“a reativação”. Seguramente estavam pensando no alforje dos poderosos.

Cesar Hildebrandt teve a virtude de recordar uma oportuna frase de Benjamin Franklin:

“Aquele que opina que o dinheiro pode fazer tudo, cabe suspeitar com fundamente que será capaz de fazer qualquer coisa por dinheiro”.

Nenhum deles compreendeu, no entanto, uma realidade maior que a gula insaciável dos ricos. Em um país, quando se fala das forças produtivas deve-se admitir que a principal força produtiva são os trabalhadores. Com os trabalhadores há obras de desenvolvimento, capital e ganhos, benefícios coletivos e progresso. Sem eles, não há nada.

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Obcecados por limitações ideológicas, não percebem isto. Por isso, em seus programas de governo e em suas exposições pontuais, simplesmente ignoram os trabalhadores. Eles não existem. Por isso não falam de jornada de trabalho, nem de salários, nem de sindicatos, nem de negociação coletiva. Esse universo não é o deles. Não sabem que gosto tem.

Universo trabalhista peruano

O universo trabalhista em nosso país é muito complexo. Historicamente, o Ministério do Trabalho foi um reduto dos patrões. No início dos anos 70 foi ditada uma Lei de Reorganização Integral dessa pasta e se avançou na tarefa de adequá-la aos desafios de então; mas logo a situação mudou. 

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Hoje, esse ministério voltou a ser a confraria dos poderosos. Sua situação agravou-se na Década Dantesca e agora vive como um cemitério onde se sepultam ladinamente as demandas dos trabalhadores.

Para os defensores do neoliberalismo, os trabalhadores não passam de “mão de obra barata”.

Não lhe interessa, tampouco, a produção, mas sim o dinheiro. E a ele se pode chegar pela especulação, pelo jogo ou pelo delito. Então, para que criar empresas produtivas?

Criá-las é ter folha de pagamento, conceder salário, outorgar benefícios sociais, reconhecer sindicatosBolchevismo puro!

É mais barato viver à sombra dos investimentos estrangeiros e estimular as marcas gringas. Para isso não se necessita trabalhar, basta pensar em inglês e curvar-se.

Oxalá esta seja a última oportunidade em que os trabalhadores sejam “convidados de pedra” em uma jornada eleitoral. Urge mudar o cenário nacional, e isso é possível.

Votar não é só cumprir com um dever cívico. É, sobretudo, abrir passagem para um futuro melhor. Nos trabalhadores está a solução.    

Gustavo Espinoza M*, Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru. 

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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