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Toggle“O jornal Agora o Povo surge para enfrentar uma mídia multi especializada, neoliberal, que conta com grande aparato nacional e internacional para propagar mentiras contra o processo que a Bolívia está construindo”, afirmou Marco Santivañez, responsável pela publicação, em entrevista exclusiva.
Na avaliação de Santivañez, ao investir no jornal junto à rede Pátria Nova, à Bolívia TV, ao Sistema Nacional de Rádios dos Povos Originários (RPOs) e à Agência Boliviana de Informação (ABI), “oferecendo um material adequado e de qualidade, o presidente Luis Arce Catacora coloca em outro patamar a luta política contra os meios hegemônicos”.
“Afinal, este é o momento do povo, este é o momento da Pátria, da reivindicação social, econômica e política, de quem resistiu a um governo ditatorial sanguinário, terrorista, que em 11 meses estava destruindo tudo o que havia sido conquistado e construído em 14 anos de governo de Evo Morales”, denunciou.
Confira a entrevista
Diálogos do Sul: Leonardo Wexell Sever: De onde surgiu a ideia de Agora o Povo?
Marco Santivañez: O jornal do Estado já tem 12 anos. Nasceu em 2009 como Cambio (Mudança), que era o nome do jornal do Estado Plurinacional da Bolívia, e se manteve assim até 13 de novembro de 2019 quando o governo, após o golpe e a ocupação de todas as instituições, o renomeou para Bolívia.
Então, neste Primeiro de Maio, Luis Arce Catacora assume a presidência e voltamos à vida democrática, praticamente depois de um ano de um governo ditatorial. Assumo inicialmente o jornal Bolívia até que debatendo com o presidente, a vice-ministra de Comunicação, Gabriela Alcón, e outros atores pensamos em um nome adequado à realidade que vive o país.
Nosso companheiro Luis Arce nasceu nas fileiras do Partido Socialista Uno, que integra agora o Movimento Ao Socialismo (MAS), e estava determinado a realizar uma homenagem a Marcelo Quiroga Santa Cruz.
Ahora el Pueblo
Marco Santivañez, responsável pelo jornal Ahora el Pueblo (Agora o Povo) e o presidente da Bolívia, Luis Arce Catacora
O jornal oficial do Partido Socialista Uno se chamava Amanhã o Povo, porque se esperava o novo amanhecer para entrar numa vida adequada. Porém, hoje já não é amanhã, é agora. Por isso a decisão de se chamar Agora o Povo. Porque este é o momento do povo, este é o momento da Pátria, este é o momento da reivindicação social, econômica, política, de quem resistiu a um governo ditatorial sanguinário, terrorista, que em 11 meses estava destruindo tudo o havia sido conquistado e construído em 14 anos do governo de Evo Morales.
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Qual o papel que o jornal passa a ter na luta de ideias?
Hoje falar em industrialização, em vacinação e em integração é falar de comunicação, tudo converge para isso. Desde tempos imemoriais a comunicação sempre foi o elemento principal para o crescimento, em todos os aspectos.
Portanto, não só o jornal, mas o conjunto dos meios estatais cumprem um papel fundamental para, em primeiro lugar, desmantelar o famoso conto da fraude que nos impuseram de 25 a 29 de outubro de 2019 e que terminou no golpe de 10 de novembro. É importante dar este primeiro passo e seguir decifrando e desmantelando esse quebra-cabeças.
Por isso, temos avançado para demonstrar o que o foi golpe com distintas reportagens especiais publicadas no jornal, na rede Pátria Nova, na Bolívia TV, no Sistema Nacional de Rádios dos Povos Originários (RPOs) e na Agência Boliviana de Informação (ABI).
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Revelamos que naquele 4 de novembro o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho, hoje governador daquele Estado, convocou uma reunião com os cônsules da Argentina e da Espanha e lhes pediu asilo político, caso os seus planos fracassassem, caso fosse derrotado o seu golpe. Aí os dois cônsules disseram que esse trâmite teria que ser feito na embaixada, não no consulado.
Isso demonstra que desde muito antes já havia preparado o caminho para dar o golpe ou fugir. 41 anos depois daquele 17 de julho de 1980, tivemos o primeiro golpe de Estado do século 21 no nosso país.
Tens denunciado a existência de uma conexão entre neoliberalismo, manipulação de poderes e subserviência ao governo dos Estados Unidos.
A partir daí, dentro destas décadas do período neoliberal, estivemos entre a dedocracia e a democracia.
A dedocracia era manejada por algumas poucas famílias, divididas em partidos políticos que não chegavam nem a 30% de votação. Fatiavam os poderes no parlamento e o manipulavam sob a influência dos Estados Unidos, através do Departamento de Estado. Prova clara disso é que, em 2002, o senhor Manfred Reyes Villa, que era candidato, viaja para os EUA, volta e diz: tenho a permissão estadunidense.
Ou quando tinham que designar juízes e promotores — e isso está nos jornais da época — obedecendo aos Estados Unidos. Estávamos completamente escravizados por um governo que não era o nosso. Aí estava o dedaço: meu irmão entra, meu primo entra, meu tio é procurador-geral.
“A dedocracia era manejada por algumas poucas famílias, divididas em partidos que não chegavam nem a 30%, e fatiavam os poderes no parlamento e o manipulavam sob a influência dos Estados Unidos. Estávamos completamente escravizados por um governo que não era o nosso”
O que dizer se Gonzalo Sánchez de Lozada era o presidente da Bolívia e o controlador-geral da República, que o deveria fiscalizar, era o seu irmão? Como poderíamos viver assim?
De outubro de 1982, quando voltamos à vida democrática, até 2005, vivemos anos de dedocracia. Foi a partir de 2006, com a chegada de Evo Morales ao governo, e a decisão de chamar uma Assembleia Constituinte e refundar a Pátria como Estado Plurinacional, com uma nova Constituição Política, mais inclusiva, mais identificada com o povo, que nos permitiu ter 14 anos de democracia, interrompida pelo governo de Jeanine Áñez.
E a democracia só retornou devido à luta e à pressão, aos bloqueios e paralisações realizados. No dia 28 de julho completou um ano da luta pela recuperação da democracia. Sem luta, não iríamos conquistar isso e, seguramente, neste momento seguiríamos com a ditadura em nosso país. Iriam continuar atrasando a data das eleições e adiando com a grande desculpa da pandemia. Então tivemos que parar e ir às ruas e lembrá-los que tinham dito que ficariam por 90 dias e já estavam há quase um ano e necessitávamos de eleições.
Deves recordar que a primeira data seria em 90 dias depois que assumiu Jeanine Áñez. E nos disseram que não era possível e a postergaram para maio, depois falaram que este seria o pico mais alto da pandemia, e a suspenderam. A adiaram para agosto e quando estava chegando, voltaram a falar da pandemia.
Decidimos então, em Sucre, bloquear as rodovias. Porque se não fizéssemos isso, com os irmãos camponeses e com os irmãos indígenas, não conseguiríamos eleições em outubro. Seguiríamos com os adiamentos, com eles destruindo o país, roubando nosso patrimônio cotidianamente, com todos os desfalques que fizeram, como ficou demonstrado.
Qual o aspecto central da política desenvolvimentista que o jornal tem trazido à tona?
No tema do desenvolvimento, estamos demonstrando a reativação econômica que vem sendo feita por meio dos investimentos públicos, que nos permitem voltar a respirar. Um dado é que graças ao Bônus Contra a Fome, concedido pelo presidente, baixamos em 1,3% a extrema pobreza, sendo um elemento importante.
“A reativação econômica que vem sendo feita por meio de investimentos públicos nos permite voltar a respirar”
No âmbito da saúde, os meios hegemônicos que temos na Bolívia, que são uma mídia multiespecializada, neoliberal, capitalista em todo o âmbito da palavra, sempre saem com temas negativos diante da vacinação. Nós estamos apresentando tudo o que vem sendo feito, como a chegada das mais de sete milhões de vacinas. E até o final de agosto chegarão mais de oito. Então o que significa isso? Por meio da rede estatal estamos demonstrando às pessoas a realidade que estamos vivendo.
Não podemos dizer que superamos a crise, mas é visível para as pessoas, que te falam disso na rua —, que tiveram os olhos fechados nos bons tempos de Evo para logo abrirem os olhos e se verem com os bolsos vazios, sem um centavo, com os de sempre roubando e desfalcando as empresas. E isso teve um alto custo. Houve alguém que disse que Jeanine roubou em menos de um ano o que Macri roubou em cinco anos na Argentina. Se tivesse ficado mais um pouco no governo, nosso país teria começado a pedir esmolas, como fez Carlos Mesa, em 2003 ou 2004, para pagar salários, para décimo terceiro, para tudo.
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As pessoas reagiram e disseram que economicamente viviam muito melhor e a votação expressou isso dando 55% para Luis Arce. Agora novamente temos os instrumentos do Estado para mostrar a realidade ao povo boliviano.
Fale um pouco sobre a intensa guerra midiática destes últimos dias.
Há dois pontos: uma notícia falsa impacta mais forte que uma notícia correta e isso tem ocorrido através das fake news, no Facebook, no Instagram, no Twitter e mesmo nos grupos de Whatsapp em que colocam fotografias ou textos mentirosos.
Exemplo disso ocorreu com uma fotografia sobre o dia dos problemas em Cuba, provocados por personagens pagos pelos Estados Unidos. Saiu uma foto de uma praia com milhares de pessoas e o título de “Cuba se levanta”, e a foto era do Egito.
O mesmo aconteceu sobre a questão da Venezuela, com pessoas desnutridas, comendo no lixo, e eram fotos da Argentina de Macri, fotos da África, eram de todos os lados, menos da Venezuela.
Então vivemos essa luta tenaz, mas desigual, em que os meios dos países progressistas não têm muito espaço, estamos aprendendo a trabalhar em redes, aprendendo a crescer.
Criamos a rede de meios de comunicação da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América — Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP). Agora estamos necessitando fazer algo assim com os meios da América do Sul, integrá-la à rede da Alba, para avançar.
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No nosso país, durante estes dias, o jornal Los Tiempos, de Cochabamba, colocou na capa em que o representante russo na Bolívia disse haver um atraso na entrega da segunda dose das vacinas Sputnik. Algo que, aliás, não é um problema que afeta apenas a Bolívia, mas ao México, à Argentina e a muitos outros países.
O embaixador russo manifesta que a prioridade é trazer para a Bolívia as vacinas, mas que a segunda dose pode ser feita em até 180 dias. Esta é a frase do embaixador. Diz que chegarão logo as segundas doses, mas que não é preciso se preocupar se já passaram os 90 dias, porque há 180 dias para te vacinar.
Mas o que foi publicado pelo Los Tiempos? “Não chegam as segundas doses de Sputnik; governo pede pausa de 180 dias”. Jamais o governo pediu qualquer pausa, isso é uma grande mentira. E seguem divulgando informações erradas, como as difundidas pelo jornal Página Siete ou o El Deber. Então nós somos o filtro para demonstrar a realidade, para falar sobre o que realmente está acontecendo.
É a primeira vez nos meus 31 anos de vida jornalística que o governo nacional, por meio de dois ou três ministérios, têm que mandar várias cartas a jornais como Página Siete, Los Tiempos ou El Deber pedindo que corrijam suas manchetes, porque continuam insistindo na manipulação, na deformação, na mentira.
Tenho claro que no jornalismo não há imparcialidade, não há objetividade, porque todos somos subjetivos na vida. Eu não penso como tu pensas, vamos ter afinidades. Não sou imparcial, porque tenho minha linha e minha maneira de pensar; mas tenho que ser verdadeiro, tenho que ser honesto com meu público, com minha gente.
“Temos que lutar contra uma estrutura midiática que tem um grande aparato não só nacional, como internacional. Nós sabemos que essas redes têm apoio estrangeiro, o que demonstra que seguirão mentindo”
Isso é o que acredito. O último elo do jornalista é sua veracidade e sua honestidade, sem isso não há jornalismo. As informações ou as manchetes divulgadas nesta mídia são mentiras, sem nenhuma qualidade.
E temos que lutar contra tudo isso que tem um grande aparato nacional e internacional. Nós sabemos que essas redes de jornais têm apoio estrangeiro, o que demonstra que seguirão mentindo. Mas, infelizmente, nós também precisamos fazer um mea-culpa. Lamentavelmente os meios estatais são estigmatizados e alvos. Nos dizem “esta é uma informação oficialista”, “esta é uma informação masista [do MAS]”, porque tampouco, durante um bom tempo, lhes oferecemos um material adequado, de qualidade às pessoas, aos nossos leitores, aos nossos ouvintes e aos nossos espectadores.
Então qual é o objetivo de Agora o Povo? Dinamizar isso. Nós demos o primeiro passo com a mudança do nome, com uma diagramação completamente moderna, diferente, com uma informação via infográficos, e estamos abrindo a todos o espaço jornalístico. Trabalhando com a verdade, porém desde a linha editorial estatal. Este deve ser o parâmetro e esta formação. Não podemos mentir.
Leonardo Wexell Severo é jornalista e colaborador da Diálogos do Sul
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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