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Democratas implodem candidatura socialista em NY; eleições expõem disputa entre direita e esquerda no partido

O fracasso, na Virgínia, de Terry McAuiliffe alarmou democratas, mas a derrota da socialista India Walton, em Buffalo, foi revés difícil para progressistas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Vinte e quatro horas depois das eleições estaduais e locais em vários pontos do país, os democratas emergiram dos escombros de sua derrota para o governo da Virgínia e seu muito frágil triunfo em Nova Jersey para avaliar que tão más são as implicações de tudo isto para seu futuro político apenas um ano depois de seus triunfos presidenciais e legislativos nacionais. 

A derrota na Virgínia do veterano democrata Terry McAuiliffe – que havia sido governador desse estado há alguns anos e foi presidente do Partido Democrata nacional – foi um golpe que alarmou os líderes democratas já que Joe Biden ganhou nesse estado por 10 pontos na eleição presidencial há um ano.  

A cúpula selecionou McAuliffe justamente porque parecia invencível e “seguro” por ser veterano, mas para alguns críticos essa foi a falha – a cúpula do partido apostou no passado sem reconhecer que o país está mudando com mais mulheres, minorias e novas correntes jovens e progressistas. 

O fracasso, na Virgínia, de Terry McAuiliffe alarmou democratas, mas a derrota da socialista India Walton, em Buffalo, foi revés difícil para progressistas

Derek Gee / Buffalo News
India Walton é ativista comunitária de 39 anos, mãe solteira de quatro filhos, integrante do Black Lives Matter e enfermeira

O triunfo do financista Glenn Youngkin e a derrota de McAuliffe revelou mais que nada a debilidade dos centristas democratas. Embora, para variar, Donald Trump tenha se atribuído o triunfo republicano na Virgínia, o resultado foi ainda mais alarmante para os democratas poque mostrou um crescente potencial de republicanos em uma era pós-Trump. 

Em Nova Jersey, o governador democrata Phil Murphy foi reeleito contra o republicano Jack Ciattarellu em uma contenda tão cerrada que não definiu o triunfador até quase 24 horas depois de que fecharam os postos. Embora tenha sido a primeira vez em 44 anos em que um governador democrata em Nova Jersey é reeleito, a margem tão pequena do triunfo não foi motivo de celebração para os democratas. 

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Poucos esperavam que a contenda fosse tão disputada em um estado que Biden ganhou por 16 pontos na eleição presidencial de 2020. 

Segundo analistas e estrategistas políticos, a derrota na Virgínia e a margem de triunfo microscópico em Nova Jersey foi consequência de um Partido Democrata que apesar de ocupar a Casa Branca e controlar o poder legislativo, não conseguiu cumprir com suas promessas em Washington e, como parte disso, o deterioro da aprovação de Biden que baixou a 43% — entre as mais baixas de um presidente a esta altura do mandato (só Trump foi pior entre os mais recentes).

“A coalizão de Biden de repente parece frágil, sem a presença do temor de Trump. É vulnerável a ser desarticulada” entre suas diversas facções, incluindo progressistas e centristas, considerou Benjamin Wallace-Wells, do New Yorker.

As eleições de terça-feira (2) aprofundam o debate interno dentro do Partido Democrata entre sua ala progressista e os centristas que ocupam a cúpula. 

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O triunfo da progressista Michelle Wu em Boston — que será a primeira mulher no posto em dois séculos — talvez seja a conquista mais importante para as forças progressistas cada vez mais vitais dentro do partido. Ela construiu uma coalizão multirracial em torno a um programa social ambientalista.  Hoje ela proclamou que Boston será uma “cidade do New Deal Verde”.

Mas a derrota da socialista democrática India Walton em Buffalo foi um revés difícil para as forças progressistas nacionais, pois até há alguns meses supunham que estavam para fazer história ao chegar a ter a primeira prefeitura socialista em uma cidade principal em 60 anos. 

Não foram derrotados pelos republicanos, mas sim por elementos do establishment do seu próprio partido. O atual prefeito democrata Byron Brown, que foi derrotado por Walton nas primárias, se recusou a ceder e montar a campanha independente e manteve seu poder com o apoio da máquina estadual e local da elite do partido e até alguns republicanos assustados com a ameaça de uma “socialista” na prefeitura. Seus laços com a elite econômica da região, forjados durante seus quase 20 anos como prefeito, ajudaram a frear a insurgente que o havia surpreendido nas primárias. 

“Quando se enfrenta os corruptos e poderosos, não se pode esperar que joguem limpo”, declarou Walton ao criticar as manobras e trampas de seu opositor. “Mas creio hoje… que a hora chegará quando finalmente conseguiremos que o poder baixe as pessoas ordinárias desta cidade, e com isso construiremos um Buffalo seguro e saudável que todos necessitamos e merecemos”.

Enquanto isso, o chefe do Partido Republicano estadual de Nova York tuitou “O socialismo foi derrotado em Buffalo!” ao festejar o triunfo do democrata Brown.

Mas isso foi resultado das manobras de uma cúpula velha para tentar esmagar uma insurgência que promete outro tipo de futuro. Diversos líderes progressistas assinalaram múltiplos triunfos a mais em postos eleitorais por todo o país como evidência de que esta batalha está apenas começando, outra vez. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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