Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo de domingo (2), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com surpreendente lucidez, faz uma análise do processo eleitoral em que resume boa parte do que a revista Diálogos do Sul vem dizendo sobre a partidocracia brasileira.
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O que terá acontecido?
Precisou viver mais de 80 anos para adquirir consciência crítica e exteriorizá-la em benefício de si próprio?
Oxalá! Pois é a única explicação para essa mudança no mais pusilânime e desonesto dos intelectuais brasileiros. Aquele a quem o jurista e professor da USP Rodolfo Konder Comparato queria submeter a julgamento popular por seus crimes de lesa pátria.
Brasil 247
O governo FHC consolidou o projeto neoliberal entreguista que culminou na ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro.
Contudo, vale acompanhar seu pensamento, que parte da afirmação de que
É preciso um novo caminho!
“Um tsunami varreu o sistema político brasileiro. Terminou o ciclo eleitoral pós Constituição de 1988. Ruiu graças ao modo como se formaram os partidos, o sistema de voto e o financiamento das campanhas. A vitória da candidatura Bolsonaro funcionou como um braço cego da história: acabou de quebrar o que já estava decomposto. (…) O sistema político partidário não ruiu sozinho. As fraturas são muito maiores”.
Ele insiste em que é preciso a autocrítica dos partidos, principalmente do PT, PDT e do seu PSDB e reconhece que,
“Na sua maioria, os “partidos” são sopas de letras, e não agremiações baseadas em objetivos e valores. Atiraram-se na captura do erário, com maior ou menor gula. (…) Visto em retrospectiva, é compreensível que um sistema partidário sem atuação na base da sociedade se desmonte com aplausos populares. (…) Não foi uma direita ideológica que recebeu o voto. Venceu um sentimento de repulsa”.
Repulsa a quem, cara pálida?
Ele diz que ao PT. Caramba. O seu partido, o PSDB, em que todos apostavam que teria todo o dinheiro do mundo, só não desapareceu nessa eleição por milagre. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin e seu vice não tiveram nem 5% dos votos e o PT disputou com galhardia o segundo turno. Perdeu por razões não eleitorais. Eles disputaram pensando numa eleição, quando na realidade se tratava de uma guerra orientada por uma direita internacional.
FHC diz que se enganam tanto os que veem comunismo como os que veem fascismo por toda parte. E os erros levaram a direita ao governo. Para ele, quem ganhou o governo foi a direita.
Me engana que eu gosto! Se esse é o governo de direita; e o governo dele foi o quê?
Seu governo consolidou o projeto neoliberal entreguista que culminou na ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro. E isso tendo feito campanha como se fosse de um partido social democrata de centro esquerda. Caramba, nem de esquerda nem de centro: Direita pura e entreguista. Não entregou mais porque o Congresso, um pouco melhor que o atual, vetou.
Se a direita é FHC e seu PSDB, onde se situa o PSL e a equipe do futuro governo?
Boa pergunta.
A única certeza que a gente tem no meio de tanto palavrório e fanfarronadas é o que se ouve e lê da equipe econômica que está sendo comandada por Paulo Guedes. É uma equipe que fala inglês. Vai radicalizar o modelo neoliberal hegemonizado pelo capital financeiro. Significa desestatização, venda de ativos, arrocho salarial, privilégio aos produtos primários de exportação, desindustrialização, entrega do petróleo e demais riquezas do subsolo.
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Como se vê, nada diferente do que propunham os meninos de Chicago que trabalharam e conduziram a economia brasileira desde os anos 1990.
Igualmente, o PT subiu ao poder com um discurso de centro-esquerda (havia gente que achava que a proposta era socialista) e exerceu um mandato de centro e não rompeu com o capital financeiro. Ou seja, foram os brilhantes meninos da escola de Chicago que conduziram a política econômica.
Se direita e esquerda fazem a mesma coisa, veja a confusão criada. Venceu a mensagem moralista. Agora é tudo na direita e no Direito.
O novo governo, na realidade, é um governo de ocupação, conduzido por militares travestidos de civis e eleitos pelo voto popular nesse sistema que, como admitiu o próprio príncipe, está falido.
O que está na cabeça dos militares não é difícil identificar. Está nas ordens do dia, nos boletins informativos de cada uma das instituições armadas, manuais e nas ações que realizam. No terceiro artigo da nossa série Eleições 2018 (leia o primeiro e o segundo), vamos oferecer subsídios para melhor compreensão do pensamento e comportamento dos militares que estão voltando ao poder justo quando se completam 30 anos da Constituição de 1988, saudada como o fim do autoritarismo e início da democracia.
*jornalista e editor da Revista Diálogos do Sul