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Quem ganha e quem perde? 4 ofertas de Jair Bolsonaro e 7 promessas de Donald Trump

Donald Trump, contente, claro, agradeceu a submissão: “foi maravilhoso conhecê-lo, você está fazendo um trabalho fantástico!”
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Na visita de Jair Bolsonaro a Washington houve almoço e ceia. Na residência do embaixador do Brasil no país norte-americano, Sérgio Amaral, estavam: o presidente da União Conservadora Americana, Matt Schlapp; o investidor Gerard Brant, Walter Russell Mead, do Wall Street Journal; Steve Bannon, do Moviment e líderes religiosos pentecostais, além de empresarios.

Na visita, Jair Bolsonaro, Sérgio Moro e Paulo Guedes diziam, como papagaios, que o que é bom para os Estados Unidos é bom pro Brasil. Pode?

Donald Trump, contente, claro, agradeceu a submissão: “foi maravilhoso conhecê-lo, você está fazendo um trabalho fantástico!”, disse, afagando o ego do deslumbrado capitão. 

Donald Trump, contente, claro, agradeceu a submissão: “foi maravilhoso conhecê-lo, você está fazendo um trabalho fantástico!”

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Bolsonaro (e o Brasil) ganharam uma camiseta….

Mas o que foram fazer lá?

1) Isentar de visto para ingressar no país cidadãos dos Estados Unidos, Canadá e Japão, assim gratuitamente, sem exigência de reciprocidade. 

Por que Canadá e Japão? Será pra dizer que não estão privilegiando só os norte-americanos. No mundo inteiro, as relações entre países é decidida pelos governos como melhor lhes convém, porém, há o Direito Internacional, normas e tradições consolidadas. A reciprocidade é um princípio básico. E nesse caso foi ignorado. Imaginem se os Estados Unidos deixariam você entrar no país sem visto?

2) Convidar empresários para o Brasil, já que estamos vendendo tudo, como alardeou o superministro da Economia, Paulo Guedes, enquanto seus prepostos no Brasil, no comando do Banco do Brasil e da Petrobras alardeavam que com gosto venderiam também esses dois patrimônios. Temos gás, petróleo, urânio, terras, água, florestas…. temos tudo para ser vendido.

3) Dar apoio ao muro na fronteira com o México. Outra bobagem.

O muro é coisa de campanha de Trump, que não tem apoio de seus concidadãos, nem da mídia conservadora — com exceção da Fox News, a rede trumpista. Não conseguiu aprovação nas duas casas do Congresso e pretende utilizar dinheiro do Pentágono, sob o pretexto de que é questão de Segurança Nacional. 

É um tapa na cara do México, um pontapé na América Central e uma ofensa a todos os povos americanos, inclusive os milhões de estadunidense que vivem no México ou na Costa Rica, no Brasil ou na Argentina, como bem lembrou o presidente López Obrador.

4) A compra de 750 mil toneladas de trigo dos EUA com tarifa zero e também volta da compra de carne suína. 

Os maiores produtores de trigo no Brasil estão na região Sul, mas como a produção é pouca, o país tem comprado 80, 90 e até 100% do que consome da vizinha Argentina por acordos com o Mercosul. 

Em 2018, o Brasil importou 6,8 milhões de toneladas de trigo, das quais 5,9 milhões da Argentina, 330 mil do Paraguai e 270 mil dos Estados Unidos. Só nos primeiros dois meses de 2019, a Argentina já forneceu 1,1 mil toneladas.

Ocorre, no entanto, que graças a pesquisas tecnológicas, o Brasil está desenvolvendo culturas de trigo no cerrado do Centro-Oeste e na Bahia.

Para a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, não importa a possibilidade de arruinar com a Argentina nem com as economias dos estados do Sul. É incipiente, não chega a 150 mil toneladas, mas promete, pois é trigo de altíssima qualidade, comparável ao canadense.

O Brasil poderia facilmente atender o consumo interno, mas não consegue porque, de acordo com levantamento da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o agricultor brasileiro paga 86% a mais de impostos nos insumos do que os seus vizinhos do Mercosul.

Vê? tudo é uma questão de política. O país não tem uma política de segurança alimentar.

Será que precisamos do porco ianque?

Santa Catarina, é a maior produtora e exportadora de carnes de frango e suína, mas vamos comprar carne suína dos Estados Unidos só pra agradar os latifundiários que arrasaram com a agricultura no México, será que vale a pena?

Boa parte da carne suína estadunidense é produzida no México. É um duro golpe para a economia de Santa Catarina, ao qual se agrega a diminuição das compras de carne de frango pelos países árabes, em represália à política de aliança do governo Bolsonaro com a direita sionista mais radical.

Entregaram o galinheiro para as raposas

A Agroindústria e a Mineração são os dois únicos setores da economia que estão produzindo e mal sustentando o país. Entregaram o galinheiro para as raposas. 

A ministra, conhecida como deputada veneno, certamente por ter suas campanhas financiadas pelas indústrias de agrotóxicos que, mais acertadamente, deveriam se chamar veneno. 

O secretário para Assuntos Fundiários, Luis Antonio Nabhan Garcia, duas vezes grileiro — no Pontal do Paranapanema e no Sul do Pará — já foi condenado por posse ilegal de terra e matança de posseiros e indígenas. 

Para ambos, os indígenas são os maiores latifundiários do país, é preciso que essas terras sejam entregues a fazendeiros pra plantar soja ou criar boi e para as mineradoras, para acabar com a natureza.

O que Bolsonaro recebeu dos EUA

1) Abraços e uma camiseta;

2) Hospedagem de luxo; 

3) Entrevista na Fox News;

4) número do telefone de Trump: “ligue quando quiser”; 

5) Acordo de cooperação com a CIA e o FBI, que ajudarão a organizar a inteligência e, no caso do superministro da Justiça, no combate ao crime organizado.  Com o FBI, haverá troca de informações, inclusive biométricas. Na CIA, foram recebidos pela diretora nomeada por Trump, Gina Haskell, que ficou conhecida por ter praticado tortura a presos nas prisões da agência.

Visitar a CIA, é uma ofensa a todas as vítimas no mundo, principalmente em Nossa América, das ações encobertas e intervenções diretas perpetradas pela Agência. Elogiar a CIA é o mesmo que dar aval às mentiras fabricadas como pretexto para invasões que custaram milhões de vida, como no Iraque, Líbia, Afeganistão, Kosovo, Nicarágua, Guatemala e, mais recentemente, na Síria.

O Brasil na OCDE: mais notícias para enganar incautos

6) A promessa de elevar Bolsonaro à categoria de presidente de uma potência econômica. Com isso, Trump recomenda a entrada do Brasil na OCDE, o clube das potencias industriais e comerciais que regula o comércio entre os grandes e reúne 37 países. Outro palavreado só para a mídia. E a mídia entra nisso como um grande feito. Absurdo.

O Brasil tenta entrar desde os anos 1990, não está na OCDE porque não cumpre com os requisitos exigidos pela organização. Quer cumprir, cumpriu já alguns, mas não consegue todos. O arrocho é muito grande.

Para entrar, o Brasil terá que desistir dos privilégios que os países em desenvolvimento gozam no seio da Organização Mundial de Comércio, a OMC.

Será bom para o Brasil estar na OCDE, também conhecido como Clube dos ricos, onde as regras já estão definidas em favor dos grandes, que precisam explorar os pequenos para manterem-se ricos?

Não seria melhor o Brasil nos BRICS, onde as regras são definidas pelos protagonistas com objetivo de desenvolvimento com soberania, inclusive saindo da economia do dólar? 

O que é melhor: estar juntos a países com interesse comum e todos eles em processo intensivo de desenvolvimento ou estar submetido servilmente aos interesses dos grandes liderados por potência decadente?

Por que será que a China não quer sair da OMC?

Vale lembrar que entra na primeira divisão, ou na seleção, quem sabe jogar. Precisa ser grande pra não perder de 7 a 1. Vale registrar também que esse namoro com a OCDE tampouco é obra do atual governo, posto que começou no início dos anos 1990 e, em junho de 2015, foi assinado um acordo de cooperação, que “permitirá aprofundar e sistematizar o relacionamento bilateral”. 

O acordo institucionaliza a participação brasileira em diversos foros da OCDE e estabelece mecanismos para a definição de linhas de trabalho futuras segundo o site do Itamaraty. Em 2007, conseguiu o status de “parceiro chave”.

Estão na fila querendo ingresso, nossos vizinhos Argentina e Peru. Por que não conseguem?

Para entrar tem que cumprir regras 

Em 2017 a OCDE fez 13 exigências de ordem de político-econômica da qual o Brasil deixou de cumprir cinco. Uma das exigências não cumpridas foi a Reforma Tributária, que devia fundir os impostos estaduais e federal sobre consumo num único imposto sobre valor agregado.

O teto nos gastos públicos para domar a dívida pública foi uma das exigências cumpridas e é uma das que está travando a economia. 

A não exigência de equipamentos de fabricação nacional na extração de petróleo e gás foi também uma das exigência cumpridas. Ela ocasionou a quebra de empresas brasileiras, milhares de desemprego e está dando lucro a transnacionais com sede em Singapura. 

Henrique Meirelles, enquanto ministro de Fazenda de Temer, em entrevista à Agência Brasil, em 28 de fevereiro de 2018, vangloriou-se afirmando que “dos seis países que hoje estão dentro do processo de adesão, o Brasil é o melhor posicionado, segundo a avaliação técnica, no sentido de já estar mais familiarizado com todas as normas e com todos os comitês e grupos de trabalho”.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico em 28/2/2018, presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, deixou claro que a política econômica em execução por ele e por Meirelles,  “de acordo com as mensagens da OCDE estão em consonância com o que a autoridade monetária e o governo brasileiro tem buscado transmitir desde meados de 2016. Ele comentou ainda que os ajustes e reformas promovidas na atual gestão visam colocar o Brasil em um caminho que permita reduzir o distanciamento entre a renda per capita do país e aquela dos países membros da OCDE”.

Em junho de 2018, em entrevista à BBC Brasil, Youssef Erkouni, responsável do setor de assuntos públicos da missão dos Estados Unidos junto à OCDE, disse que “os Estados Unidos apoiam o fato de que esses países se alinhem às diretrizes e instrumentos da OCDE, mas temos preocupações com o crescimento rápido da OCDE. É por isso que apoiamos um processo de adesão ordenado que garanta que a organização permaneça responsável perante seus membros”.

Mais claro, só a água… Concorda?

Então para entrar na OCDE não depende nem de Trump nem de Netanyahu, depende unicamente do Brasil cumprir com as exigências do clube, exigências que agravarão ainda mais a dependência do país, e o abismo entre os mais ricos e o resto da população.

Cabe um país do Sul na organização militar do Norte?

7) Elevar o Brasil à categoria de Aliado Extra-OTAN. O que é isso? 

A Europa não deixa o Brasil entrar na OTAN , pois seria fator de desequilíbrio, como disse o presidente francês. Então, extra só pode significar fora e aliado, exclusivamente dos Estados Unidos. Uai! o Brasil não é aliado preferencial dos Estados Unidos nas Américas desde 1944? 

Acreditar que com o status de aliado preferencial teremos melhores condições para modernizar as Forças Armadas é como acreditar no gênio da lâmpada: “me solta que realizo todos os seus desejos”. 

Além do mais, o destino da OTAN é pulverizar-se na medida em que, de um lado, um Estados Unidos decadente se afunda em dívidas, não tem como recuperar o atraso tecnológico em relação à China e nem como manter o dólar como moeda de referência

De outro lado, tão pronto a Europa se dê conta de que é Eurásia e decida se livrar  da ocupação militar estadunidense, que já dura quase um século, ou oito décadas, ela estará feliz formando um bloco econômico com a Rússia, China, Índia e o que mais houver na Rota da Seda.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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