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"Partido dos Robôs sem voto": entenda como Bolsonaro ganhou a eleição de 2018

Parece um pato, grasna como um pato? No TSE está pautado o julgamento do pedido de anulação do pleito de 2018 por fraude e abuso do poder econômico
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Dia Mundial para erradicação do trabalho infantil – De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016, mesmo proibido, o trabalho infantil no Brasil atinge mais de 2 milhões de meninos e meninas entre 5 e 17 anos.

Cá estou eu, dia 11 de junho, dia de festa na Marinha Brasileira em rememoração à Batalha do Riachuelo. Que tristeza um país festejar a vitória numa guerra de três países contra um e que termina com um genocídio e saqueio depois de já rendida as forças paraguaias. Forças navais e terrestres formadas por oficiais mercenários, escravos com promessa de liberdade.

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Essa Marinha até meados do século passado praticava a Lei da Chibata e participara de todas as conspiração golpistas, algumas fracassadas e quando vitoriosas integrava a junta militar formada pelo comando das três armas.

Parece um pato, grasna como um pato? No TSE está pautado o julgamento do pedido de anulação do pleito de 2018 por fraude e abuso do poder econômico

Reprodução: WInkiemedia
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito – Fake News

Oficiais brancos de origem oligarca no comando de recrutas e efetivos negros e pardos, como somos a maioria do povo brasileiro. Contra a Lei da Chibata, rebelou-se, em 1910, João Cândido Felisberto, homenageado por nosso povo com estátua, no jardim do Palácio do Catete, e com o título de Almirante Negro.

O golpe de 1º de abril de 1964 expurgou a Marinha do que tinha de bom. Exemplo do oficial general contra-almirante fuzileiro naval Cândido da Costa Aragão, cuja tropa se negou a reprimir pela força os cabos e sargentos rebelados em março de 1964 e foi punido por apoiar o governo de Goulart. A revolta dos marinheiros é tida por alguns historiadores como sendo o detonador do golpe.

Interpretação simplista. Pode até ter servido de pretexto mas não se pode abstrair que desde havia muito tempo Estados Unidos promovia e financiava a articulação golpista.

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Bom, isso é outra história, que fica para uma outra vez.

Voltemos ao tema da Tempestade Perfeita, que é a conjuntura atual e a necessidade de aproveitar o momento. Não é hora de discutir, é hora de atuar, atuar em direção a uma Frente de Salvação Nacional para interromper o mandato desse governo ilegítimo, não deixar que ele se consolide.

Crescem, dia a dia, as manifestações de decepção de quem votou no minúsculo PSL, acreditando no discurso moralizador, ou simplesmente para votar contra o PT. Há também os que votaram, segundo pesquisa, porque o candidato falava a língua deles e não entendiam o que os outros candidatos falavam. Isso é muito sério e motivo pra muita reflexão.

No TSE está pautado o julgamento do pedido de anulação do pleito de 2018 por fraude e abuso do poder econômico. A esse processo se está juntando o apurado pelo Supremo no inquérito sobre as notícias falsas e ameaça e xingamentos aos supremos juízes. No Congresso há farto material comprobatório apurado pela CPI mista das Fake news. Diálogos do Sul publicou inúmeros artigos esmiuçando a fraude desde sua concepção.

A essas provas se pode juntar artigo escrito pelo empresário publicitário Marcos Aurélio Carvalho, um dos donos da AM4, que fez a campanha do PSL. Texto com o título: O Partido dos Robôs sem voto, ele explica direitinho como a robótica foi utilizada e foi essencial para a vitória da chapa. Ele simplifica com com o teste popular do pato:
o que é que é? parece com um pato, nada como um pato e grasna como um pato, então provavelmente é um pato, ou uma pata.

No caso do marketing eleitoral, ele escreve:  o usuário que se parece com eleitor, reclama como eleitor, apoia como eleitor, mas usa hashtags milagrosamente lançadas, em questão de minutos, aos assuntos mais comentados do momento? É robô. 

E esclarece… Tudo que acontece de mais relevante na política nacional vira uma hashtag, ou mais provavelmente duas: uma de apoiadores e outra de detratores. Inicia-se, então, a batalha digital do dia.

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É isso. É a ciber-guerra com os ciber-soldados e, por falta de Aparato de Inteligência no governo e nos partidos, não houve preparação para a guerra. Foram a campo pensando tratar-se de uma eleição de araque como sempre. Não era. E agora, a maioria das lideranças políticas continua pensando que estamos num processo político, que vamos derrotar o governo nas eleições de 2022. Como? Como vão ganhar se sequer se deram conta da realidade desse governo de ocupação?

O momento exige ruptura. Por isso falamos de uma Frente  de Salvação Nacional. Num momento como esse a gente se alia até ao Diabo, dizia o sábio engenheiro Leonel Brizola, o único com visão de estadista. Há que recordar que quando ficou clara a intenção dos golpistas de 1º de abril de 1964 de se eternizarem no poder e, para isso, botar os tanques contra o povo, João Goulart, Juscelino Kubistchek e Carlos Lacerda se uniram e propuseram uma Frente Ampla contra a Ditadura. Goulart tinha todas as razões do mundo para odiar Carlos Lacerda, feroz adversário do trabalhismo, queria a morte de Getúlio Vargas e conseguiu. Falou mais alto a voz da razão. Não deu certo más é uma grande lição de humanidade.

Primeiro vamos derrotar o inimigo, o que vem depois a gente resolve depois.
Esse é o sentido da Frente de Salvação Nacional. Unir todas as forças minimamente contrárias ao status quo, aproveitar a Tempestade Perfeita, o momento crucial, e derrubar o governo de ocupação, recuperar a soberania nacional.

Como diria o sociólogo estadunidense crítico da globalização, Immanuel Wallerstein, Numa crise estrutural, a esquerda precisa seguir uma política de buscar, em curto prazo, o poder do Estado para minimizar a dor dos 99% da população e, a médio prazo, buscar uma transformação cultural de todos.

Sem que se recupera a Soberania Nacional não há processo político nem eleitoral, nem democracia possíveis. Quem manda hoje aqui é o capital financeiro, são os Estados Unidos. Os militares, são quase três mil, estão simplesmente desfrutando das prebendas do poder, e servindo a um comando extranacional: Guedes e Washington. 

As revelações do especialista em marketing político nos faz refletir sobre outros aspectos da estratégia de comunicação do Sistema, que é esse da imagem criada em torno da administração do PT.

Se houve acertos e erros, é absolutamente normal. Contudo, a hora não é de enaltecer os acertos, sim de analisar em profundidade os erros, refletir e planejar para que no futuro não se repitam os mesmos erros. Há que ir fundo na busca não só do que se fez de errado mas também do que deixou de ser feito. Essa é a Autocrítica Necessária.

Lembro de um grupo de companheiros da ALN, a Ação de Libertação Nacional, comandada por Carlos Marighella, espalhados pelo Brasil, Chile, Peru, Cuba e alguns países da Europa, iniciaram uma reflexão sobre o que havia acontecido para uma derrota tão significativa e o que fazer dali pra frente. Saiu dessas reflexões um belo documento Autocrítica Necessária. Honestidade e sinceridade desses companheiros, alguns já falecidos, a quem presto homenagem.

Autocrítica Necessária, Crítica e Autocrítica… me refiro a isso como um processo. A democracia no Brasil está ainda para ser construída. A situação brasileira é muito complexa. O processo de descolonização sequer foi concluído para se fazer o processo de decolonização, aquele que realmente liberta e conduz a um  Estado livre.

Muito se discutiu sobre essas questões no processo constituinte de 1987 e 88. Muito se debateu nas conferências em que o povo discutiu e formulou políticas nas áreas de saúde, educação, segurança e, fundamentalmente na área de Comunicação. Eis ai o ponto fundamental. A Confecon desenhou um sistema público de comunicação que simplesmente não foi utilizado e está agora servindo aos propósitos dos terraplanistas e das grandes corporações.

Em todos esses debates faltou o olhar libertador, decolonial. Trabalhadores e Intelectuais não se descolonizaram. De uma maneira geral, com poucas exceções, as universidades foram captadas pelo pensamento colonial, perderam o olhar crítico e criativo sobre a realidade para formar continuadores do status quo. A partir dos anos 1980, a hegemonia do pensamento único neoliberal levou à ditadura do capital financeiro de que somos hoje vítimas.

O PT nunca teve proposta de ruptura. Setores da militância sim, mas, desembarcaram. Hoje formam a periferia do PT, e a mais aguerrida. Lula tampouco, nunca foi um revolucionário, e ele nunca negou isso. Se alguém se enganou foi por conta própria. 

Mas, consideremos, uma coisa é ganhar uma eleição, assumir o governo; outra coisa é ganhar a eleição e assumir o poder. Assumir o poder para executar um projeto próprio. Outra coisa é ganhar a eleição e assumir o governo para administrar um projeto pré existente, mesmo tratando de melhorá-lo, e isso o Lula tentou.

Veja um exemplo. Colocaram nas redes um trecho de vídeo com o discurso de despedida de Dilma Rousseff após ser deposta da Presidência em 2016. Interessante, ela diz que em seu governo todos os direitos foram respeitados, acusa a direita racista e apologista da violência de ter conspirado contra ela. Nenhuma palavra sobre os gestores do capital financeiro e, o que é mais grave, nenhuma palavra sobre a participação de forças nada ocultas dos Estados Unidos presentes na armação do golpe que a destituiu. 

Justo ela que teve a oportunidade de denunciar (protestando) na ONU a ação de espionagem do governo dos Estados Unidos em seu governo, visando a própria Presidência e principalmente e Petrobras. Ficou claro que aquilo foi uma simples rusga, passageira, porque não demorou muito para assinar com o presidente Barack Obama o acordo de cooperação militar e inteligência que fere a soberania nacional.

Essa ideia de projeto nacional e de decolonização estava na mente do Brizola desde que foi prefeito de Porto Alegre, e botou todas as crianças nas escolas; de quando foi governador e criou o movimento dos sem terra e com eles realizou uma reforma agrária, priorizou a educação e enfrentou os monopólios estadunidense da energia e da telefonia.
Voltemos à questão chave: O que é preciso para uma gestão autônoma, com um projeto próprio?

1º lugar ter um projeto e uma estratégia para o desenvolvimento do país.

2º conformar uma frente em torno desse projeto e dessa estratégia.

3º conquistado o poder formar um núcleo (think-tank) de especialistas em torno de um aparato de Inteligência e Comunicação, do poder.

4º criar um forte sistema de comunicação pública e regulamentar os meios de comunicação privados, proibindo os monopólios como prescrito na Constituição de 88.

5º preparar o país para um processo constituinte popular soberano para repensar o país, desenhar um novo modelo de democracia, de gestão da administração pública, o papel das empresas privadas, das empresas públicas, o uso da terra e das riquezas nacionais, o papel das forças armadas e das polícias e tudo isso e muito mais no marco da Soberania Nacional e dos direitos humanos e da natureza. 

Essa é uma luta que nos só a poderemos travar depois de livres do governo de ocupação. E só nos livraremos do governo de ocupação com o povo nas ruas e uma frente de Salvação Nacional. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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