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A Rússia entre a Europa e a Asia: Ilusões ou Realidade?

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

(Algumas particularidades da ideologia euro-asiática)

?arianna G. Abrámova, Irina M. Vershínina

136863__russia-russian-flag-russia_pSinopse: No artigo se argumenta a possibilidade de plasmar na vida as ideias básicas da doutrina euro-asiática. O Eurasianismo afirmava que a administração pública puede ter sucesso apenas se for baseada nas tradições e particularidade próprias de cada povo. Desvelando sucessivamente a atitude dos eurasianistas (Alekséev N.N., Savitsky P.N., Trubetskoy N.S., Vernadsky G.V.) as categorias de “Estado”, “Direito”, “Personalidade”, as autoras destacam o conceito central de Eurasianismo – “O serviço ao bem comum.” Em relação a isso está sendo formulado o problema de articular uma nova gestão estratégica como a tarefa da União Econômica Euro-asiática emergente.

Palavras chave: Eurasianismo, União Econômica Euro-asiática, ideocracia, bem comum, coletivismo.

Durante sua primeira visita oficial á Rússia, em 29 de março de 1994, na Universidade Estatal de Moscou o presidente do Kazaquistão, Nursultán Nazarbáyev, lançou pela primeira vez a iniciativa de formar a União Euro-asiática dos Estados. Em junho do mesmo ano o projeto integracionista já preparado foi publicado na imprensa. Nele esta nova associação de integração foi chamada de União Euro-asiática.

No entanto, foram precisos uns vinte anos para que essa ideia fosse posta em prática. Em 29 de maio de 2014, em Astana, capital do Kajaquistão, foi assinado o Tratado da União Econômica Euro-asiática (de agora em diante a TUEE). Assim foi criada uma nova organização de integração econômica regional que é pessoa jurídica internacional. O Tratado fixa princípios básicos do projeto de integração euro-asiática, dos quais o principal diz que a atividade dessa organização deve corresponder aos interesses nacionais de cada membro – Rússia, Belarus e Kazaquistão. Em outubro de 2014, uniu-se à TUEE a Armênia, e em dezembro o Kirguistão. Outros objetivos dessa nova associação integracionista são modernização, cooperação e o aumento da competitividade das economias nacionais, criação das condições para o desenvolvimento sustentável e melhoria do nível de vida nos Estados membros. O Tratado da União Econômica euro-asiática entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2015. A TUEE garante a livre circulação de bens, serviços, capitais e trabalho, bem como a realização da política coordenada, acertada e unificada em setores econômicos. Os seguintes segmentos do mercado comum têm o maior potencial de cooperação industrial no marco da TUEE: veículos, equipamentos elétricos, ótica e eletrônica, produtos químicos, metalurgia e produtos metálicos.

Em agosto de 2015, no marco da TUEE, foi decidido promover a cooperação com o Estado de Israel, bem como desenvolver o comércio e as relações econômicas com a República da Coreia e a República Islâmica do Irã, incluindo a criação de um grupo de pesquisa para estudar a possibilidade de formar no futuro uma zona de livre comércio. Além disso, foi aprovado o plano de ações para realizar o Acordo sobre a zona de livre comercio entre a TUEE e o Vietnam.

Em setembro de 2015 foi aprovado um novo documento “As diretivas principais da atividade internacional da TUEE”, que define prioridades na cooperação entre os sócios-chaves da União, bem como suas formas. Nesse aspecto a União Econômica euro-asiática tem amplo leque de interesses, pois é uma associação aberta que trata de desenvolver as relações com todos os centros econômicos mundiais desde a América Latina até o Sudeste da Ásia.

Portanto, surgiu um amplo espaço econômico, político e jurídico geral, chamado Eurásia. Será um organismo que funcionará eficazmente ou este nome brilhante permanecerá só no papel? Isto depende de que sistema de valores e de normas se estabeleça nesse espaço, quais as ideias pelas quais se guiarão as elites dos estados membros ao tomar as decisões e ao determinar a estratégia de desenvolvimento.

Nesse sentido, nos parece que a União Econômica Euro-asiática, e em um sentido mais amplo os povos desses países têm uma oportunidade histórica de construir uma nova público-jurídica, e baseando-se nela, a elite nacionalmente orientada poderia levar a sociedade a uma nova etapa de desenvolvimento, superar a crise sistêmica que abarcou a todos os países pós-soviéticos [1]. Acredita-se que tal desenvolvimento, para maior sucesso, poderia inspirar-se no legado já existente, a ideologia euro-asiática.

O eurasianismo foi uma corrente muito mais geopolítica, mais prática do que filosófica e religiosa. Isso provavelmente se explica por ser uma reação à revolução de 1917 e uma tentativa de compreender não apenas o que havia acontecido, mas, sobre a base das mudanças revolucionárias traçar um caminho para o desenvolvimento futuro do país. Um dos fundadores do eurasianismo, P. Savitsky disse que o problema da revolução russa é um eixo em torno do qual se move seu pensamento e sua vontade (dos eurasianistas – nota das autoras), como o pensamento e a vontade das pessoas do mundo russo e de portadores da predestinação russa no universo… Os eurasianistas vivem em contraposições. Em seu sistema combinam a tradição e a revolução. E estão muito seguros de que no futuro não serão eles que combinarão esses princípios, mas a própria história o fará [2].

P. Savitsky escreveu que “desde o ponto de vista de pertencer aos conceitos historiófilos básicos, o “eurasianismo”… se encontra em um espaço comum com os eslavófilos. No entanto, o problema de inter-relações entre as duas correntes não pode ser reduzido a uma mera sucessão… O eslavofilismo, em certo sentido, foi uma corrente provincial ”de casa” (local). Agora, devido a que ante a Rússia se ab REM oportunidades reais de ser um núcleo de nova cultura Europeia-Asiática (Eurasiática) de grande importância histórica, a ideia e a aplicação da visão de mundo integral creativo-protetora (o que se considera o euroasianismo) devem encontrar para si mesmas imagens e dimensões correspondentes e sem parâmetro” [3].

Os eurasianistas consideravam os eslavófilos como seus predecessores, e como eles contraunham Rússia e Europa, insistindo em sua identidade e originalidade cultural-histórica. No entanto, não estiveram de acordo com os eslavófilos no fato de que esta originalidade cultural-histórica estivesse determinada por um princípio eslavo. Eles estavam além da Rússia sobre a qual haviam escrito os eslavófilos, e se referiam à Rússia que havia se formado historicamente no espaço do continente euro asiático.

A essência das diferenças entre os eurasianistas e os eslavófilos foi expressa pelo escritor russo V.N. Ivanov: “Eles corretamente fazem mudanças na causa dos eslavófilos, buscando no Oriente o que havia faltado a Aksákov, Khomiakov, Leóntiev, para argumentar nossa diferença da Europa. Só ao revisar completamente toda a história do Oriente é que encontramos a nós mesmos” [4].

Os eurasianistas foram os primeiros a falar sobre a Rússia como especial desde o ponto de vista geográfico, político, econômico e outro, do mundo – o continente médio – Eurásia, que deu o nome a sua corrente. Ao estudar a história russa eles combinaram o enfoque histórico com o geográfico. Seu enfoque geográfico consistiu em tratar a história da Russa como uma história de intersecção entre o povo do bosque e da estepe e acreditavam que “é a interação das formações históricas da zona da estepe, por um lado, e a do bosque, por outro, que determina muitas coisas nos destinos político, cultural, econômico da Rússia” [5].

A argumentação geográfica de unidade dos povos que habitavam o espaço euro asiático ocupou um lugar importante no conceito dos eusarianistas, segundo o qual a localização das zonas natural-climáticas, vastas planícies, haviam contribuído para uma intensa interação e mestiçagem dos elementos étnicos e culturais do espaço ocupado pela Rússia, haviam acostumado a viver juntos, determinados pela necessidade da união política cultural e econômica. Os eurasianistas puseram em circulação o termo – topo gênese (lugar de desenvolvimento) – que significava a influência qualitativa do fator geográfico (espaço, paisagem, meio ambiente, etc.) nos acontecimentos históricos, cultura, sistemas políticos e sociais das etnias.

Este enfoque deu a seus opositores argumento para acusá-los de determinismo geográfico. No entanto, em nossa opinião, atrás disso se ocultava o rechaço do elemento “asiático”, que os eurasianistas incluíram no tecido da historia russa e, por outro lado, o desacordo com um enfoque supostamente demasiado econômico e estadista em detrimento do religioso e cultural. Para os eurasianistas este elemento asiático foi o Estado mongol-tártaro dos tempos de Genghis Khan que havia exercido grande influência no desenvolvimento do sistema do Estado russo no período de dominação mongol-tártara. Reconhecendo, como muitos historiadores, que a base ideológica do estado russo foi constituída pela Ortodoxia e pelas tradições bizantinas, os eurasianistas, ao mesmo tempo, pensaram que um dos fundamentos do sistema estatal russo era o tártaro, e que “o milagre de transformação do Estado tártaro no Russo havia sido realizado graças ao auge religioso-ortodoxo, que acontecia na Rússia na época do domínio tártaro” [6]. Este ardor religioso havia permitido à antiga Rússia enobrecer o sistema de estado tártaro, dando-lhe um novo caráter religioso-ético e torná-lo seu.
Na concepção do eurasianismo via-se claramente a geopolítica, mas eles mesmos não o negavam, reconhecendo que haviam sido fundadores do enfoque geopolítico da história russa [7].

Os eurasianistas acreditaram que “a união política deste grande território é o resultado dos esforços não apenas do povo russo, mas também de muitos povos da de Eurásia” [8].

Com relação e isso no conceito euro asiático, eles puseram de manifesto dois fatos importantes; 1) insistiu-se em que já a partir do século XV a Rússia foi um estado multinacional. Os eurasianistas davam, no século XVI, uma importância particular ás pessoas tártaras que seriam na corte russa: “que, em sua opinião, foram fundadores autênticos da potência militar do Estado moscovita daquele tempo”… E mais, no regime político do Estado russo viram certos motivos segundo os quais “a uma parte da população russa foram garantidos seus direitos nacionais e religiosos”; 2) afirmou-se que “as relações com a Ásia não são menos importantes na história da Rússia que as relações com a Europa”. Expressando esta opinião, os eurasianistas acreditavam que era necessário revisar a história das relações exteriores da Rússia “destacando mais do que se havia feito até então o papel do Oriente” [9].

Os eurasianistas supuseram que a história da Rússia podia ser interpretada como um sistema “baseado na mudança de formas diferentes de interações entre as maiores comunidades ideológicas, estatais e econômicas que haviam surgido em cada uma das zonas da Eurásia” [11].

Em nossa opinião, este enfoque geopolítico dos eurasianistas pode e deve ser repensado no contexto atual da globalização e do mundo global. Eles falaram que a Rússia “percebendo esta tradição (euro-asiática – nota das autoras), deve rechaçar resolvida – e definitivamente os velhos métodos de união que pertenciam à época já sobrevivida e superada – métodos de violência e guerra”. Nos tempos modernos trata-se de vias de criatividade cultural, da inspiração, brilho, colaboração. Apesar de todos os meios modernos de comunicação, os habitantes da Europa e da Ásia continuam estando, em grande medido, cada um em seu próprio cubículo, vivendo com os interesses de seu campanário. O “topo gênese” euro-asiática em concordância com suas propriedades, leva a uma causa comum [12].

A continuação das construções historiosóficas e geopolíticas dos eurasianistas, o núcleo de seu conceito, que continua tendo sua importância na atualidade, foi a teoria de Estado, de cuja elaboração se encarregou N.N. Alexéev. Apesar de existirem na história diferentes correntes do pensamento político russo, cada uma das quais apresentou seu ideal do sistema de Estado, todas elas, segundo Alexéev, coincidiram em tentar formular um ideal social baseado na “Verdade” (Justiça).

Os eurasianistas consideravam uma sociedade organizada em Estado como uma “unidade orgânica viva”, o que implica nela a existência da “classe dominante especial – um conjunto de pessoas que definem e orientam a vida política, econômica, social e cultural de um Toto estatal-social” [13]. Na capa governante eles destacavam seu núcleo – ativo estatal. Para eles as mais importantes características do estado foram o princípio e o caráter de selecionar a classe dominante e esse ativo, e não formas de governança. Falando dos princípios de sistemas estatais europeus e não estando de acordo com eles, os eurasianistas apresentam a ideocracia como um novo tipo de seleção da classe dominante, e com ele um novo tipo de regime de Estado – sistema ideocrático – no qual reina uma “ideia-regra”, cujo portador é a referida capa governante. E ela deve ser tal que, primeiro, valha a pena dar sua vida por ela e, segundo, “que este sacrifício seja considerado por todos os cidadãos como um ato moralmente valioso” [14].

Na Declaração aceita no Primeiro Congresso da Organização Eurasiática, cujo autor era o teórico do Eurasianismo G.V. Vernadsky, dizia-se que os eurasianistas davam uma grande importância ao conceito e ao fenômeno da Personalidade, Mas a personalidade não é percebida por eles fora de um todo coletivo. Deve dedicar todas as suas forças ao serviço da causa comum. Assim, o conceito central eurasiático ideocrático é “causa comum”, o serviço ao bem comum, o coletivismo. Os ideólogos do Eurasianismo, de fato, estiveram à frente do seu tempo oferecendo um novo conceito de interesses coletivos, que somente agora começa a se formar na doutrina jurídica dos estados socialmente orientados (por exemplo, nas novas constituições da Bolívia, do Equador, da Venezuela).

Os eurasianistas (em primeiro lugar, N. Alexéev) afirmavam que “o direito da Rússia deve estar baseado nos princípios e requisitos alternativos às teorias jurídicas liberais ocidentais. Nenhum direito é importante, mais do que a Verdade, o Estado da Verdade. O estado de garantia, “cumpridor”, que trata as pessoas e não os indivíduos, não aos fundadores atômicos de uma empresa coletiva arbitrária” [15].

No desenvolvimento do Estado os eurasianistas partiram do sistema soviético que, ao mesmo tempo, consideravam como uma forma de transição ao estado de novo tipo. Considerando a possível evolução do estado soviético, Alexéev apontou lhe duas vias. Para nós, a mais interessante é a primeira via e podemos ver até que ponto resultou exato seu prognóstico. Ele escreveu que esta oportunidade “está baseada na hipótese de que a energia liberada pela revolução vá se extinguindo pouco a pouco”, se leva a cabo a primeira opção, “como desejam e pressupõem os democratas, o regime comunista uni partidário será substituído pelo multipartidário no sentido ocidental ou semi-ocidental da palavra. A entrada do Estado soviético nesse caminho significaria que a criação de novas formas políticas terminou, a revolução se desvaneceu, vem o reino de quintal da Europa…” [16].

O conceito eurasiático do Estado baseou-se em um novo conceito que difere tanto do sistema democrático como do comunista. “O estado eurasiático é uma entidade política, como dizemos, de natureza demótica”. Queremos dizer que nosso estado está construído sobre os alicerces profundos de povo e corresponde à “vontade do povo”. Construímos nosso estado sobre a soberania do povo, mas não sobre a soberania desorganizada, anárquica em que se baseiam as democracias ocidentais (onde “a soberania do povo” = agregado mecânico de opiniões dos cidadãos que alcançaram a maturidade política), mas sobre a soberania organizada e orgânica. Consideramos como “povo” ou “nação” não uma seleção aleatória de cidadãos que correspondem aos requisitos do sufrágio universal, mas “a totalidade de gerações históricas, passadas, presentes e futuras, que constituem a unicidade da cultura formalizada pelo Estado” [17].

Os eurasianistas advogavam pela abolição dos partidos políticos acreditando que eles só organizam um corpo de votantes e substituem por sua vontade a suposta vontade do corpo eleitoral. “O governo deve despertar da passividade silenciosa; deve determinar o princípio objetivo e real sobre o qual se pode construir uma “representação” autêntica nacional, ou seja, encontrar aos verdadeiros portadores de funções organizativas de estado, verdadeiros expoentes da vontade nacional. Em outras palavras, queremos substituir o regime artificial-anárquico de representação dos indivíduos e partidos isolados pelo regime orgânico de representação de necessidades, conhecimentos e ideias. Assim, não necessitamos um partido político, como o necessita a democracia ao estilo ocidental” [18].

Em cada estado, segundo seu julgamento, há certa constante política que garante a estabilidade do estado e a sua continuidade, mas que, no entanto, está escondida “por trás das decorações exuberantes do regime democrático e da fraseologia do parlamentarismo”. Os eurasianistas acreditavam que esta constante devia ser identificada e articulada claramente. Justamente nesse sentido entendiam um caráter deocrático do Estado, ou, em outras palavras, “o estado de opinião pública estabilizada” (ou seja, a opinião pública que não se parece a uma “corrida nervosa de sentimentos políticos”).

Não sendo partidários do sistema soviético puderam ver nele elementos “sadios” que poderiam se desenvolver no estado que esperavam ver no futuro (ou construir eles mesmos) na Rússia. Em geral, este sistema deve consistir na ditadura de um partido (não tiveram medo de utilizar esse termo) e nas instituições representativas o que “dá oportunidade de combinar com êxito a opinião pública estabilizada já existente com a sua dinâmica. A primeira plasma o princípio do constante com sua dinâmica. A primeira plasma o princípio do constante, as segundas – princípios móveis”. Um novo tipo de Estado euro asiático requereria que o estrato social, portador dessa opinião pública estabilizada não fosse um partido político no sentido europeu da palavra, mas fosse uma parte orgânica do Estado. E essas partes, em sua opinião, já existiam na União Soviética – elementos territoriais, profissionais e nacionais do estado. O partido no poder, junto com eles, deve ser o portador de uma ideia orgânica.

Mas os eurasianistas não advogavam pela erradicação forçosa dos partidos políticos, acreditando que a política bem estruturada que estava dirigida a construir um estado de novo tipo levaria por si mesma à morte natural do regime dos partidos.

Portanto, de acordo com Nikolai Alexéev, em 1917 na Rússia prevaleceram, por estranho que pareça à mentalidade ocidental, as ideias da democracia, ditadura e justiça social, o que correspondia aos princípios do povo russo. “Eles têm que ficar e se converter nos fundamentos do período futuro da história russa. Mas devem ser corrigidos e transformados. Devem ficar isentos de materialismo e transformados em um sentido religioso… O futuro pertence ao estado ortodoxo de direito que pode combinar um forte poder (o princípio da ditadura) com a democracia popular (o princípio de vólnitsa – uma noção puramente russa que mais ou menos é equivalente à “liberdade”) e o serviço à justiça social” [19].

Vemos, pois, que os eurasianistas no reduziram as questões do regime social apenas aos problemas de caráter político e econômico. Sendo pessoas crentes e professando princípios religiosos, eles corroboraram a “filosofia da política e da economia subordinadas a esses princípios” [20].

Sim, os eurasianistas prestavam muita atenção aos temas econômicos, aos problemas de organização da vida social, mas não aceitavam o materialismo que havia triunfado no Ocidente. Sua filosofia não é filosofia de materialismo, mas sim uma filosofia de ideias de organização. “Está marcada do materialismo clássico de forma muito acentuada, da mesma forma que qualquer idealismo abstrato. O idealismo não tem nada que ver com o materialismo. Os eurasianistas prestam uma atenção excepcional ao material, até têm uma intuição especial a ele. Não se deve estranhar que frequentemente são acusados de crer em um “materialismo geográfico”, materialismo histórico, etc. Mas o material que enfrentam é uma matéria cheia de ideia, matéria na qual vive o Espírito” [21].

Os representantes da corrente diziam que sua filosofia tinha coroamento religioso, que sentiam profundamente a natureza divina do mundo e que “o pensamento filosófico russo e o pensamento filosófico de outros povos da Eurásia só então se elevariam a altura nunca vista, digna deles, quando depois das cruzes se acendessem como luzes brilhantes nos espaços da Eurásia uma inspiração religiosa” [22]. Precisamente foi nesta área a principal divergência com o comunismo que não reconhecia a possibilidade de coexistência dos princípios religiosos e a nova ordem social. Os eurasianistas, ao contrario, acreditavam que “o novo sistema adquiriria a integridade e a estabilidade quando desde dentro o iluminasse a luz religiosa”.

No Estado dos eurasianistas um lugar especial corresponde à noção de personalidade na qual o papel principal pertence à tradição. E nisso se parecem aos eslavófilos que, como vimos, haviam dado à tradição um lugar importante no processo de busca de sua própria via de desenvolvimento. Segundo P. Savitski, os eurasianistas entendem “a cultura e os mundos histórico-culturais… como um tipo especial de “personalidade sinfônica”. A tradição é a base espiritual de tal personalidade. Os eurasianistas incorporam esta base na cultura à qual pertencem, mas o fazem não no sentido protetor, mas aplicando esforços criativos cujo objetivo é incluir na tradição o novo, no tradicional plasmar o nunca visto. Não se trata de uma tradição morta, mecânica, mas de uma tradição depurada e transformada”. O povo não deve desejar “ser como os demais”. Deve desejar ser ele mesmo. O preceito socrático “de conhecer-se a si mesmo” continua vigente aqui. Cada povo deve ter personalidade. E cada personalidade é única em seu gênero. E justamente em sua exclusividade e incomparabilidade é que está o valor que tem para outros. [23].

Pensamos que este legado euro asiático dos melhores representantes do pensamento filosófico, político e legal da Rússia, rico e diverso ideologicamente, pode ser a base de nova visão de mundo que seja capaz de dar um grande impulso ao desenvolvimento progressivo social de todos os membros da União Euro asiático. Este desenvolvimento deve se basear nas ideias tradicionais para nosso espaço político-econômico comum, e não ser a experiência alheia liberal que já levou a maioria do mundo a um beco sem saída.

Bibliografia
Ver mais detalhadamente:

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Ibidem.

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  • ?arianna G. Abrámova, Ph. D. (Historia), docente, Faculdade de Ciências Políticas, Universidade Estatal de Moscou (Lomónosov), Rússia,
    abramova-m@mail.ru
    Irina M. Vershínina, Ph.D. (Economia), colaboradora científica maior, Instituto de Latino-américa, Academia de Ciências da Rússia, versh-im@yandex.ru

As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
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