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Bolsonaro-Guedes quer acabar com descontos no Imposto de Renda e taxar o PIX

Plano de Guedes para garantir farra da reeleição de Bolsonaro prevê bomba contra classe média; Lula garante redução de IR para quem ganha até R$ 5 mil
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
Jundiaí (SP)

Tradução:

Como desgraça pouca é bobagem, o ministro da Economia Paulo Guedes, que deve continuar na pasta caso Jair Bolsonaro (PP) seja reeleito, quer acabar com os descontos de gastos com saúde e educação no Imposto de Renda. 

A tática atinge em cheio a classe média brasileira, um dos setores que mais tem sentido o impacto da perda de poder de compra nos últimos anos.

O plano de Guedes foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. O documento de dez páginas foi elaborado pela equipe do ministro logo após o primeiro turno e é parte da estratégia de taxar a classe média para garantir minimamente benefícios prometidos por Bolsonaro durante a campanha.

Sem as deduções, conforme aponta o relatório, o governo arrecadaria um montante de aproximadamente R$ 30 bilhões, sendo R$ 24,5 bilhões das despesas médicas e R$ 5 bilhões dos custos com educação, dinheiro que seria usado para pagar as promessas do governo para reeleição.

Bolsonaro tem prometido manter o Auxílio Brasil em R$ 600, pagar um 13º salário para as mulheres que recebem o benefício e ajustar a faixa de correção da tabela do IR. Tudo isso sairia pelo custo de R$ 86 bilhões, dinheiro indisponível na União se levadas em conta as regras do teto de gastos.

Questionado, Guedes negou conhecer o documento revelado pelo Estadão e classificou a medida como “descabida de fundamento”. Depois, ele disse que o documento vazou por ação de “petistas dentro do Ministério”.


Ideia antiga

Como as maldades são reveladas apenas após a eleição, em 2019, em evento do banco BTG Pactual, Guedes já dizia o seguinte:

“Fica todo mundo juntando em casa papelzinho de dentista, papelz    inho de médico. (…) Isso é ineficiente. Melhor tirar todas as deduções, abaixa um pouquinho a alíquota, é muito mais simples, não é?”, afirmou na época.

Posteriormente, acrescentou que o sistema atinge quem tem menos renda, já que “o pobre vai na assistência social [e] depois não recebe refunding (reembolso) nenhum”.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) reforça a posição do empresário Eduardo Moreira, qualificando o projeto como uma maldade que “atinge com força a classe média”, um artifício do governo já que “não sabem mais de onde tirar dinheiro para repor a farra da reeleição”.


Promessas vazias

Em 2018, Bolsonaro se elegeu prometendo Imposto de Renda zero para quem recebe até 5 salários mínimos, o que até agora não cumpriu. Atualmente, quem ganha menos de 2 salários mínimos (R$ 1903) já paga imposto devido desatualização da tabela do IR, que não é corrigida desde 2015, no governo  Dilma.

De acordo com levantamento da jornalista especialista em finanças Nathalia Arcuri, do canal Me Poupe, às custas da classe média, o governo arrecadou R$149 bilhões a mais. Isso porque a gestão Bolso-Guedes não corrigiu a tabela do Imposto de Renda, o que também não está previsto para 2023.

Guedes e Bolsonaro já adiantam que um possível próximo tiraria dinheiro de trabalhadores, aposentados e classe média, enquanto manteria as contas bancárias dos mais ricos intactas.

PIX e nova CPMF

Recentemente também veio à tona a intenção do ministro de taxar o PIX, sistema de pagamentos popular justamente por não cobrar transações financeiras.

Em 2020, o ministro disse que ia deixar o tema de lado para não afetar as eleições, como informou a CNN.

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“Não estamos falando porque as eleições estão chegando. As pessoas têm preocupação de o tema ser explorado nas eleições, de falarem ah, o ministro Paulo Guedes quer um imposto sobre transações financeiras [o que inclui o PIX], quer a CPMF…”, afirmou o ministro numa apresentação em fórum do Bradesco BBI. “Então, não vamos falar sobre isso. Após as eleições, falamos novamente”, complementou.

De acordo com a reportagem, de Eduardo Laguna e Idiana Tomazelli, “Guedes disse que não vai desistir da ideia porque, num país com 40 milhões de pessoas sem emprego, a proposta permitirá desonerar a folha salarial das empresas”.

Plano de Guedes para garantir farra da reeleição de Bolsonaro prevê bomba contra classe média; Lula garante redução de IR para quem ganha até R$ 5 mil

Alan Santos/PR
“Bolsonaro tenta se aproveitar do PIX, mas na realidade ele nem sabia como o sistema funcionava na semana do seu lançamento", observa Lula




Proposta de Lula

O modelo de proposta de corrigir a tabela de isenção do Imposto de Renda foi proposto por Lula já em 2018. 

Em 2022, o petista retorna com a questão em seu programa econômico, se comprometendo a liberar do imposto quem ganha até R$ 5 mil, além de dar descontos para a classe média. 

Para compensar a perda de arrecadação, o governo aplicaria tributações sobre lucros e dividendos, ou seja, aos mais ricos, além de apostar em estratégias de combate à sonegação.

Servidores públicos e classe média vão pagar caro — literalmente — se Bolsonaro for eleito

De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Bolsonaro agora terá como foco reduzir os danos feitos pelas propostas impopulares de sua equipe econômica. Para começar, está disparando uma mentira dizendo que Lula vai acabar com o PIX.

A campanha de Lula assegura que ele vai manter o sistema de pagamentos PIX. Já em agosto Lula desmentiu a informação em seu Twitter:

“Bolsonaro tenta se aproveitar do PIX, mas na realidade ele nem sabia como o sistema funcionava na semana do seu lançamento. E agora até funcionários do Banco Central afirmam que ele mais atrapalhou do que ajudou. Compartilhe!”, escreveu o ex-presidente. 

Vanessa Martina Silva | Jornalista, analista política e editora da Revista Diálogos do Sul.
Com a colaboração de Guilherme Ribeiro.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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