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Presidente Lula reinicia diálogo com Cuba após nove anos de ausência diplomática

Relação tem suas raízes em eventos que remontam ao século 19, quando Brasil e Cuba compartilharam lutas pela independência do domínio colonial
George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

No último sábado (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reacendeu as relações diplomáticas com Cuba em uma visita histórica ao país caribenho. 

Este encontro marcou o primeiro contato oficial de um líder brasileiro com Cuba em nove anos, desde a gestão de Dilma Rousseff, em 2014.

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A reunião bilateral ocorreu no icônico Palácio da Revolução, sede da presidência cubana, e durou cerca de uma hora. É o terceiro encontro entre Lula e o presidente cubano Miguel Díaz-Canel apenas neste ano, com anteriores encontros durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) em janeiro, e em Paris, em junho, após uma visita conjunta ao Papa Francisco.

Durante o encontro, uma série de questões de interesse mútuo foram debatidas, abrangendo tanto a agenda bilateral quanto regional. Além disso, foram firmados acordos de cooperação que buscam intensificar a troca de tecnologia entre Brasil e Cuba, representando um renascimento das relações diplomáticas, que haviam perdido vigor nos últimos anos. 

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Uma parte crucial desse pacto inclui uma colaboração entre duas instituições estatais de destaque, a brasileira Fiocruz e a cubana Biofarma. Sob este acordo, dois medicamentos desenvolvidos em Cuba, NeuroEpo e Eritropoietina, serão produzidos no Brasil. 

Esses medicamentos têm aplicações que vão desde o tratamento do mal de Alzheimer até o combate à anemia causada por insuficiência renal e outras enfermidades.

Agroecologia: o plano em Cuba para garantir soberania e segurança alimentar à população

Nísia Trindade, ministra da Saúde brasileira, destacou a importância deste acordo ao enfatizar que o Brasil se beneficia da expertise cubana acumulada ao longo de anos de investimento em pesquisa médica. 

Ao mesmo tempo, o Brasil contribuirá com sua capacidade de pesquisa clínica e produção em larga escala, envolvendo laboratórios tanto públicos quanto privados.

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Além desses compromissos na área da saúde, outros acordos foram selados. Na esfera de Ciência e Tecnologia, foi estabelecida a retomada da colaboração que teve início em 2002, com foco em biotecnologia, energias renováveis, soberania e segurança alimentar, entre outros campos.

No campo agrícola, foram delineadas iniciativas de cooperação e intercâmbio tecnológico. Este último se revela particularmente vantajoso para Cuba, que enfrentou desafios em sua capacidade de produção de alimentos nos últimos anos.

Relação tem suas raízes em eventos que remontam ao século 19, quando Brasil e Cuba compartilharam lutas pela independência do domínio colonial

Ricardo Stuckert
A reunião bilateral ocorreu no icônico Palácio da Revolução, sede da presidência cubana

Brasil e Cuba não tinham relações diplomáticas desde a queda de Dilma 

A visita de Lula a Cuba marca uma nova era nas relações entre os dois países, um esforço para reverter uma deterioração na agenda diplomática ocorrida após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. 

Esta visita é o culminar de uma série de iniciativas destinadas a normalizar e fortalecer os laços entre Brasil e Cuba, com potencial para revitalizar oportunidades de negócios e colaboração em diversas áreas, incluindo saúde e biotecnologia.

Com Lula, Brasil e Cuba se reaproximam após relação “atípica e anormal” sob Bolsonaro

Desde a posse de Lula, em janeiro deste ano, o governo brasileiro vem trabalhando ativamente para restabelecer as relações com Cuba. A reabertura da embaixada em Havana e a organização de visitas mútuas demonstram o compromisso com a reconstrução dessas relações que estiveram em declínio nos últimos anos, sobretudo em meio aos ataques do regime de Bolsonaro à ilha caribenha.

Lula ressaltou a importância da retomada em suas redes sociais 

Em um tuíte recente, o presidente Lula destacou a importância do G77, uma coalizão que representa 79% da população mundial e 49% do PIB global em paridade do poder de compra

Ele ressaltou que esse grupo desempenha um papel fundamental na exposição das anomalias do comércio global e na defesa de uma Nova Ordem Econômica Internacional que considere as preocupações dos países de renda baixa e média, bem como grupos mais vulneráveis.

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Além disso, o presidente Lula enfatizou a relevância da Cúpula do G77 deste ano, que se concentra no tema da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele expressou sua disposição em promover avanços conjuntos nessa área.

A presença do presidente brasileiro na Cúpula do G77 em Cuba representa um esforço significativo para fortalecer as relações diplomáticas com países em desenvolvimento e para buscar soluções globais para desafios compartilhados. 

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A cooperação internacional e a busca por uma ordem econômica mais justa e inclusiva estão no centro dessa missão.

O Brasil continua a desempenhar um papel ativo no cenário internacional, buscando colaborações e parcerias que promovam o desenvolvimento sustentável e a equidade global. A Cúpula do G77 em Cuba oferece uma plataforma importante para esses esforços diplomáticos.

Em seu discurso no G77, Lula criticou a imposição de sanções econômicas pelos Estados Unidos contra Cuba.

“É notável o comprometimento de Cuba com a promoção de uma ordem global mais equitativa, enquanto, infelizmente, continua a enfrentar um embargo econômico considerado ilegal. Expressamos nossa objeção à inclusão de Cuba na lista de Estados que patrocinam o terrorismo.”

Veja o discurso completo: 

Após a reunião, e antes de seguir para Nova York, onde o presidente participará da Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula também aproveitou a oportunidade para visitar Raúl Castro, figura histórica da Revolução Cubana. Esse encontro ocorreu na residência do ex-presidente e teve uma duração aproximada de 30 minutos.

A relação histórica entre Brasil e Cuba 

A relação entre Brasil e Cuba possui uma importância histórica significativa que abrange uma variedade de áreas, desde a política até a cultural.

Essa relação tem suas raízes em eventos que remontam ao século 19, quando Brasil e Cuba compartilharam lutas pela independência do domínio colonial, embora em contextos diferentes.

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No entanto, foi a partir do século 20 que essa relação se desenvolveu de maneira mais profunda, nos seguintes aspectos:

Solidariedade política

Durante a Guerra Fria, Brasil e Cuba mantiveram posições políticas distintas. Enquanto Cuba se tornou uma nação socialista e aliada da União Soviética, o Brasil manteve-se uma democracia representativa. No entanto, apesar das divergências ideológicas, ambos os países mantiveram relações diplomáticas e comerciais.

Colaboração médica

Uma das áreas mais notáveis de cooperação entre Brasil e Cuba é na saúde. O programa “Mais Médicos“, lançado em 2013, trouxe médicos cubanos para áreas remotas e carentes do Brasil, fornecendo cuidados médicos essenciais para milhões de brasileiros. Isso demonstrou a capacidade de ambos os países de cooperar em questões humanitárias, independentemente de suas diferenças políticas.

Intercâmbio cultural

A troca cultural entre Brasil e Cuba também é notável. A música cubana influenciou a cena musical brasileira, e a dança cubana, como a salsa, ganhou popularidade no Brasil. Além disso, a literatura e o cinema cubanos têm sido apreciados pelos brasileiros, promovendo uma compreensão mútua das culturas.

Solidariedade em fóruns internacionais

Brasil e Cuba frequentemente se unem em fóruns internacionais para defender causas como a cooperação Sul-Sul, os direitos dos países em desenvolvimento e a reforma das Nações Unidas. Essa parceria fortalece a voz de ambos os países no cenário global.

Comércio e investimento

Embora o comércio entre Brasil e Cuba seja relativamente modesto, ambos os países têm oportunidades para expandir sua cooperação econômica. O intercâmbio de produtos agrícolas, tecnologia e serviços pode beneficiar ambas as nações.

Em resumo, a relação entre Brasil e Cuba é multifacetada e repleta de nuances históricas e políticas. Ela representa a capacidade de países com diferentes sistemas políticos e ideológicos encontrarem áreas comuns de cooperação e solidariedade, contribuindo para a riqueza da história diplomática e cultural de ambos os países.

George Ricardo Guariento | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

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