A pandemia do Covid-19 na Espanha avança sem trégua, cada dia com mais virulência: a cifra de infectados supera os onze mil, e as mortes somam 501, de acordo com a Agência Brasil. O pior do vaticínios se cumpriu em Madri, onde es esperava a confirmação de mais casos, sobretudo à raiz dos atos multitudinários de uma semana atrás, como o comício do partido de extrema-direita Vox e a marcha pela Dia da Mulher, que congregou mais de cem mil pessoas.
A polícia e o Exército vigiam as ruas de todo o país para garantir que os 46 milhões de habitantes respeitem a quarentena.
Madri ficou em silêncio. Quase não há carros pelas ruas. As pessoas que deambulam solitárias por suas avenidas vão sempre com passo rápido e com um propósito concreto; comprar comida ou medicamentos, sair com o cachorro, ou ir a um dos poucos trabalhos autorizados.
E os poucos que saíram às ruas -sobretudo turistas despistados, corredores ou ciclistas, ou pessoas que pensavam que a ordem entraria em vigor a partir de hoje -, foram detidos pela polícia que, em alguns casos impôs multas entre 600 e 30 mil euros.
A maior parte da cidadania acatou o confinamento ordenado pelo presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, que ao decretar o “estado de alarme” assumiu o controle de todo o país e o comando do conjunto das Forças e Corpos de Segurança do Estado e dos hospitais públicos e privados, civis e militares do país. O controle dos hospitais privados é outro fato inédito.
RFI
Ruas de Madri estão totalmente vazias.
O número de casos no país subiu para 11.209 na terça-feira, ante um total anterior de 9.161 na segunda-feira(16). A capital Madri tem o maior número de mortes com 213.
Era um cenário previsível, advertiram cientistas, conscientes de que a massiva assistência a partidas de futebol, os comícios da extrema-direita e sobretudo a multitudinária manifestação das mulheres no 8 de março se converteram em um foco de contágio.
Os governos de Espanha e de Portugal acordaram limitar os movimentos com fins turísticos ou de lazer entre ambos países, sem fechar as fronteiras.
No meio da crise também se mantém viva a controvérsia política. O governo teve que retirar uma das medidas adotadas anteontem em seu decreto do “estado de alarme” pelas exigências da Comunidade de Madri, que disse que não autorizava a abertura dos salões de cabeleireiro, já que supunha um grave foco de infecção. O governo central retificou e assim o fez.
Sánchez recebeu críticas do independentismo catalão, sobretudo do presidente Quim Torra, o qual rechaçou o decreto por “insuficiente” e pediu aos catalães que se submetam ao “auto confinamento” para não propagar o vírus.
O confinamento também mantém viva a chama da solidariedade e do apoio mútuo. Por segundo dia consecutivos milhões se congregaram nas janelas e terraços ao longo da Espanha para aplaudir de pé e durante cinco minutos em homenagem aos trabalhadores da saúde, da limpeza, farmacêuticos e àqueles que permitem que continue havendo comida e produtos básicos nos supermercados e lojas de primeira necessidade.
* Armando G. Tejeda, Correspondente de La Jornada desde Madrid
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Tradução: Beatriz Cannabrava
Atualizado com informações do El País e Agência Brasil
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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