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Foto: Mike Mozart / Flickr

Condenada nos EUA, multinacional Chiquita bancou paramilitares autores de massacres na Colômbia

Chiquita Brands é uma multinacional reconhecida da indústria bananeira; sentença vai facilitar às famílias das vítimas acessarem mecanismos de reparação
Redação Prensa Rural
Prensa Rural
Bogotá

Tradução:

Ana Corbesier

Em uma decisão histórica, Chiquita Brands, uma das multinacionais mais reconhecidas na indústria bananeira, foi condenada por um tribunal nos EUA por sua participação no financiamento de grupos paramilitares na Colômbia. Esta sentença representa um marco na luta pela justiça e a reparação para as vítimas do conflito armado no país.

Durante as décadas dos 90 e princípio dos 2000, a Colômbia viveu um dos períodos mais obscuros de sua história recente. O conflito armado entre guerrilhas, paramilitares e forças do Estado deixou uma esteira de violência e desolação, afetando gravemente a população civil. Neste contexto, diversas empresas, tanto nacionais como internacionais, foram acusadas de financiar grupos armados ilegais para proteger seus interesses econômicos.

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Chiquita Brands, uma das maiores exportadoras de banana no mundo, foi indiciada por realizar pagamentos às Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), grupo paramilitar que em conivência com funcionários do Estado é responsável por inumeráveis violações de direitos humanos, incluindo massacres, deslocamentos forçados e assassinatos seletivos.

As investigações revelaram que, entre 1997 e 2004, Chiquita Brands realizou pagamentos em um total de 1,7 milhão de dólares às AUC. Estes pagamentos foram justificados pela empresa como “extorsões” necessárias para operar nas regiões controladas pelos paramilitares. No entanto, para as vítimas e suas famílias, estes pagamentos representavam a cumplicidade ativa da multinacional na perpetuação da violência.

Processo durou 17 anos

A sentença foi dada em um tribunal de West Palm Beach depois de 17 anos de processo judicial e da recopilação de nove das milhares de vítimas das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). A sentença contra Chiquita Brands não só é uma vitória legal, como também um importante reconhecimento da responsabilidade empresarial em contextos de conflito armado. Esta decisão estabelece um precedente crucial para outras empresas que operam em zonas de conflito, enviando uma mensagem clara sobre as consequências de financiar grupos armados ilegais.

Gerardo Vega, diretor da fundação Forjando Futuros, destacou a necessidade de que outras empresas que apoiaram o paramilitarismo na Colômbia também sejam julgadas. “Que condenem as empresas na Colômbia que também deram dinheiro aos grupos paramilitares, isso está plenamente demonstrado”, fazendo referência à tragédia da barbárie paramilitar no Urabá.

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Esta decisão judicial permite que mais vítimas do paramilitarismo possam acessar mecanismos de reparação. Por meio deste processo, encontrou-se a empresa culpada em oito dos nove casos apresentados. As famílias destas vítimas receberão uma indenização econômica, estimada em cerca de dois milhões de dólares. Este dinheiro será destinado a programas de reparação e reconstrução das comunidades afetadas, buscando mitigar o impacto de anos de violência e abandono estatal.

“Passo fundamental para justiça e reparação”

A condenação foi recebida com satisfação por organizações de direitos humanos e coletivos de vítimas. “Esta sentença é um passo fundamental para a justiça e a reparação pela qual tanto ansiamos,” declarou María González, representante de um coletivo de vítimas em Urabá. “É um recordatório de que as empresas devem agir com responsabilidade e ética, sem importar as circunstâncias.”

Por outro lado, Chiquita Brands expressou sua intenção de apelar da decisão, argumentando que os pagamentos foram realizados sob coação e que a empresa sempre atuou em defesa de seus empregados e operações. No entanto, a contundência das provas apresentadas durante o processo torna pouco provável que a sentença seja revertida.

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Para a Colômbia, este é mais um passo para a reconciliação e a justiça. Para o mundo, é um recordatório de que a ética e a responsabilidade devem estar no centro das operações empresariais, especialmente em zonas de conflito. A condenação da Chiquita Brands envia uma mensagem clara: nenhum benefício econômico justifica a cumplicidade com o terror e a violência.

Que esta sentença abra no país o debate sobre o papel da justiça em esclarecer as responsabilidades no conflito; de fato, apesar de haver casos observados pela comissão da verdade, estes mantêm-se impunes. É necessário, como disse o presidente Petro, um tribunal de encerramento, que está contemplado no acordo final de paz assinado com a extinta guerrilha das FARC e que continua sem ser implementado. A verdade é o único caminho para superar as feridas sociais do conflito.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação Prensa Rural

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