As mobilizações durante novas dias consecutivos na França pela reforma da aposentadoria, muitas delas protagonizadas por estudantes e trabalhadores combativos, também teve uma resposta contundente por parte das autoridades francesas, que mobilizaram mais de 12 mil agente para reprimir a revolta popular, informou a imprensa francesa.
Este fato já provocou um mal-estar em diversos organismos internacionais, como o Conselho da Europa, que fala de um “uso excessivo da força”, a Organização das Nações Unidas (ONU), Anistia Internacional e Repórteres sem Fronteiras, entre outras.
Uma de suas preocupações é a altíssima cifra de detidos: só na jornada da passada quinta-feira foram reportadas 457, mas desde o início dos protestos à raiz da aprovação por decreto da reforma da previdência a cifra já supera os 1.500.
No greve geral de anteontem, a nona desde o início das mobilizações, foram registrado cenas de duríssimos enfrentamentos entre os manifestantes e a polícia, que se empenhou a fundo com gases lacrimogêneos, jatos de água, granadas de fumaça e de aturdimento e o uso contínuo de seus cassetetes. Os dados facilitados pelo ministério do Interior são eloquentes: 457 detidos, 4.411 policiais feridos, mais de 900 incêndios e abundantes danos materiais no mobiliário urbano.
Por isso há preocupação em diversos organismos internacionais, apesar da postura oficial do presidente Emmanuel Macron e de seu ministro do Interior, Gérald Darmanin, que não só não lamentam o uso excessivo da força nos dispositivos policiais, mas sim que além disso voltaram a atacar os manifestantes, ao chamá-los nos últimos dias de “facciosos”.
Foto: Florian Philippot/Twitter
Como consequência dos protestos, o governo anunciou a anulação da visita oficial do rei da Inglaterra, Charles III
Em um comparecimento em Bruxelas, Macron expressou seu apoio à polícia e ao seu ministro do Interior, ao firmar que “vi cenas nas quais os nossos gendarmes foram objeto de ataques completamente desproporcionais em mãos de militantes extremamente violentos e equipados para a luta. O uso da violência na democracia não é um direito”.
Mas desde o Conselho de Europa, a comissária de Direitos Humanos, Dunja Mijatovic, declarou em um comunicado que: “Produziram-se incidentes violentos, alguns dos quais tiveram como objetivo as forças da ordem, mas os atos esporádicos de violência por parte de alguns manifestantes ou outros atos reprováveis cometidos por outros durante uma manifestação não podem justificar o uso excessivo da força por agentes do Estado. Estes atos tampouco são suficientes para privar os manifestantes pacíficos de desfrutar o direito à liberdade de reunião”.
Desde a ONU, o relator para a liberdade de associação, Clement Voule, explicou que: “É importante recordar que as manifestações pacíficas são um direito fundamental que as autoridades devem garantir e proteger e os funcionários encarregados de fazer cumprir a lei devem facilitar seu desenvolvimento e evitar o uso excessivo da força”.
Neste clima de tensão, a jornada de ontem foi mais tranquila quanto a manifestações, mas seguem as paralizações e greves indefinidas em setores chaves para a economia.
De fato, o governo francês ordenou a intervenção nas refinarias para qie chegue o combustível aos postos e aos aeroportos, que advertiram que estavam em uma situação crítica de provisão de querosene. Três de cada dez postos de gasolina têm problemas de abastecimento, segundo informou o ministério de Transição Energética.
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Como consequência dos protestos, o governo anunciou a anulação da visita oficial do rei da Inglaterra, Carlos III, que estava prevista para este domingo. Os sindicalistas da CGT já advertiram que não fariam nada para o dito encontro; nem pôr o tapete vermelho nem o mobiliário de acordo com um encontro desse nível.
Macron sustentou que tomou uma decisão “de senso comum, já que não seríamos sérios e nos faltaria certo senso comum ao propor à sua majestade o Rei Carlos III e à rainha consorte vir em visita de Estado em meio das manifestações”.
Armando G. Tejeda | La Jornada
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