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ToggleComo ocorre todos os anos nesta época, chega o momento de observar quem foi bom e quem foi mau, de falar de presentes, carvão e sobre onde colocar as árvores… Natal? Não! É a conferência anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — COP29, em 2024 —, algo tão animado e surpreendente quanto o Natal para os milhares de participantes que se reúnem, este ano em Baku, para… bem, teoricamente, acompanhar as negociações das quais dependem o futuro da vida no planeta.
Mas, falando sério, o que fazem mais de 50 mil pessoas ali? Todas elas acompanham os textos de negociação? É simples coincidência, ou a COP virou o destino preferido para despedidas de solteiro? Vamos falar sobre isso.
Falando de forma séria, nos últimos anos, a participação nas cúpulas do clima disparou, ultrapassando as capacidades de qualquer país anfitrião. Comparemos a composição dos escassos 4 mil participantes da COP1 em 1995 com a da histórica cúpula de Paris em 2015 e também com os números atuais:
29 anos depois, os 50 mil participantes da COP29 têm uma composição muito distinta em relação ao que foi pensado inicialmente. Dos milhares de ativistas de todo o mundo que se movem para enfrentar o poder fóssil diretamente no coração da besta, até aqueles que utilizam o encontro sem nenhum pudor para fazer negócios e enriquecer, o perfil dos participantes está intimamente ligado a quem os credencia, ou seja, quem lhes dá autorização para acessar o espaço.
Sem dúvida, este tema tem sido um dos mais quentes nos meses que antecederam a conferência deste ano, especialmente desde que Simon Stiell, secretário da UNFCCC, adotou no verão passado uma postura muto firme para reduzir o número de credenciais para organizações da sociedade civil para, em suas palavras “garantir uma representação mais diversa das organizações observadoras nas COPs”. Contudo, isso está longe de ser a realidade. As declarações colocam foco em uma falsa tensão Norte-Sul global, enquanto o que realmente ocorre é um corte no espaço da sociedade civil nessas negociações, um espaço que temos obrigação moral e ética de reivindicar.
Não é fácil alcançar um equilíbrio justo quando muitos países, frente a políticas como esta, optam por usar seu privilégio como parte negociadora para convidar quem considerarem adequado, utilizando as chamadas “acreditações excedentes” (“party overflow”). Por exemplo, a Alemanha credencia organizações da sociedade civil, enquanto a Espanha não o faz, o que minimiza a presença do Sul da Europa, uma das regiões mais vulneráveis à crise climática no continente.
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Também é o caso, por exemplo, dos 138 executivos fósseis que o Azerbaijão introduziu utilizando seu privilégio como Estado, ou da delegação do Brasil, que ultrapassa mil pessoas. Embora esta última também inclua ativistas de organizações sociais, as limitações impostas (máximo de dois participantes por entidade) não demonstram exatamente “compromisso com o planeta”.
Nenhuma dessas manobras seria necessária se as Nações Unidas realmente garantissem um acesso justo, ético e equilibrado para observadores, aprovando um regime de incompatibilidades que eliminasse de forma definitiva aqueles que vêm defender a indústria fóssil, bem como os vendedores de soluções “sustentáveis” que apenas mercantilizam o futuro do planeta. Enquanto continuarmos convidando as “tabacarias” para a nossa “cúpula contra o câncer”, essas negociações permanecerão sendo um campo de batalha entre ativistas e representantes do pior que o sistema neoliberal e capitalista pode oferecer.
Em última análise, nesta cúpula ainda se destacam três setores distintos, que podemos chamar de o feio, o bom e o mau… mas comecemos pelos mais interessantes:
O mau: os lobistas e seus negócios fósseis e nucleares
Nesta semana, a campanha Kick Big Polluters Out divulgou um relatório contundente que identifica 1.773 lobistas da indústria fóssil nas negociações. Isso mesmo: dos 50 mil participantes, 3,5% têm vínculos diretos com grandes companhias de petróleo e gás que devastam o planeta. Essa cifra não inclui negociadores de países com interesses petrolíferos nem outros lobistas fósseis escondidos sob outras credenciais. Segundo o mesmo relatório, esse grupo supera numericamente todas as delegações dos dez países mais afetados pela crise climática.
Mas não vamos só considerar o negativo: sua presença terrível na cúpula deixa mais evidente do que nunca a preocupação dessas empresas com o possível resultado. Esse investimento em viagens, pessoal e, provavelmente, outros itens não dedutíveis deixa claro que, se as companhias petrolíferas sentem algo em relação à COP, é, sem dúvida, pânico absoluto.
O feio: os vendedores de fumaça
Por outro lado, além desse simpático contingente, encontramos outro grupo de “melhores amigos” da vida na Terra que aparece repetidamente: um grupo muito mais astuto e enganador. Eles podem se apresentar de várias formas diferentes, como observadores, disfarçados de ativistas, mas, no fundo, no fundo, não passam de um abjeto lobby nuclear. Desde a Nuclear for Climate (sim, isso existe) até a World Nuclear Association, várias organizações participam da COP em defesa dessa energia suja e perigosa, que coloca o planeta e as pessoas em risco.
Se compararmos o lobby fóssil às tabacarias, o lobby nuclear seria equivalente às falsas terapias que exploram um paciente gravemente doente. Chama atenção que, disfarçados de ativistas, as Nações Unidas lhes tenham autorizado, ao menos nesta COP29, realizar uma ação diária bem na entrada principal dos negociadores, um privilégio estranho que poucas outras organizações possuem. Contudo, a sociedade civil não se deixa enganar: nenhuma dessas organizações tem acesso às redes de apoio, reuniões ou à facilitação proporcionada pelas verdadeiras redes ativistas. Para nós, é claro: eles deveriam estar fora, assim como as falsas soluções, como captura e armazenamento de carbono, geoengenharia ou até mesmo os mercados de carbono.
O bom: ações, ativistas e networking
É inspirador observar como ativistas de diferentes partes do mundo lutam por um objetivo comum, apesar das diferenças culturais e sociais. Nesta cúpula, um dos grandes objetivos coletivos se resume na campanha #PayUp. Ela exige que os países do Norte assumam suas responsabilidades históricas e paguem sua dívida com o Sul Global, não oferecendo empréstimos, mas provendo diretamente os financiamentos necessários para medidas de mitigação, adaptação, perdas e danos diante das piores consequências da crise climática. A luta climática é internacionalista: não podemos avançar sozinhos, precisamos avançar juntos.
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Notamos que está cada vez mais difícil para os observadoros conseguirem credenciais. Apesar das dificuldades de acesso à cúpula e, consequentemente, aos espaços de tomada de decisão das Nações Unidas, os ativistas climáticos continuam insistindo em estar presentes. Os problemas de acesso vão além das credenciais: o aumento dos custos de hospedagem nos países anfitriões replica as dinâmicas do neoliberalismo, excluindo os mais vulneráveis e com menos recursos, enquanto facilita a entrada dos mais ricos e poderosos. As sedes escolhidas nos últimos anos (marcadas por desrespeito aos direitos humanos e alinhamento com combustíveis fósseis) tornam ainda mais difícil justificar nossa presença nessas negociações.
De fato, os dados mostram claramente que existe uma intenção deliberada de afastar e excluir, silenciosamente, aqueles que, na primeira cúpula, eram mais numerosos que os próprios governos representados. A pergunta que devemos fazer é: por quê? E a resposta é muito clara: somos a barreira que impede que façam ainda menos, somos a voz amplificada dos que mais sofrem, somos a ponta da lança do futuro que precisamos. Mas, acima de tudo, somos os anticorpos de um planeta doente. Nossa mensagem é clara: antes que seja tarde demais, precisamos mudar tudo e pôr fim ao sistema que nos levou à desigualdade e à crise socioambiental que vivemos.
* Texto traduzido com apoio de IA e conferido.