Um informe emitido na semana passada por Doutores por Direitos Humanos confirma que crianças e pais separados à força na fronteira México–Estados Unidos — mais de 5 mil menores, algumas de menos de um ano de idade enquanto 1.727 dessas crianças ainda não foram reunificadas com seus famílias — sob a política de “tolerância zero” de Trump estão mostrando sinais de trauma psicológico severo e transtornos mentais.
Alguém — o ex-presidente, o arquiteto de seu brutal programa, Stephen Miller, e os cúmplices no gabinete — terá que prestar contas diante dessa violação fundamental de direitos humanos?
Washington tem despachado suas forças armadas ao estrangeiro centenas de vezes, desde 1789 até o presente
Mas algum comandante em chefe, gabinete ou chefes militares foram obrigados a prestar contas destas ações e dos crimes de guerra que foram cometidos incluindo tortura, assassinato de civis, destruição de hospitais e escolas e ainda mais?
650 crianças separadas dos pais pelo governo Trump ainda não reencontraram suas famílias
Sem prestar contas pelos atos ilegais e até terroristas dos Estados Unidos contra Cuba ao longo de mais de meio século, o chanceler e a equipe da política exterior de Washington continuam pretendendo em público que sua obsessão com a troca de regime nessa ilha tem que ver com “princípios democráticos”, ou afirmando que lhe importa o processo eleitoral democrático em Honduras sem mencionar seu apoio ao golpe de Estado durante o governo de Barack Obama.
Não pensam que sua autoridade moral é nula sobre o assunto da democracia, justamente por não prestar contas sobre sua história de intervenções, apoio a golpes de estado e assassinatos políticos de líderes democráticos.
Talvez a maior fraude financeira da história fez explodir a economia nos Estados Unidos em 2007-2008, com a pior recessão desde a Grande Depressão e todas suas consequências sociais. Ninguém prestou contas; nenhum banqueiro foi enviado à prisão.
The White House
Sem prestação de contas não há democracia, afirma EUA cada vez que julga a política de outros países. Mas, aplica o mesmo para ele?
Especialistas calculam que quase meio milhão de pessoas nos Estados Unidos (entre elas muitos imigrantes) pereceram “desnecessariamente” durante o primeiro ano da pandemia pela irresponsabilidade dos políticos na resposta à pandemia. Quem prestará contas?
Uma ampla e crescente gama de políticos, intelectuais, militares e até empresários estiveram soando o alarme de que a democracia estadunidense está em xeque. Um relator especial do escritório de direitos humanos da ONU concluiu que nos Estados Unidos está sendo “minada a democracia” com medidas em vários estados buscando suprimir o voto das minorias.
Trump ll: “Biden prometeu melhorar relações com Cuba, mas traiu a todos”, denuncia cônsul
Outro informe, do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral concluiu que a democracia estadunidense está “em retrocesso” ao assinalar “uma deterioração visível dos ideais democráticos” com a disputa de resultados eleitorais legítimos, esforços para suprimir participação eleitoral e atos de repressão oficial contra os protestos, entre outros fatores. Quem prestará contas por sufocar a própria democracia em casa?
Sem prestação de contas não há democracia, afirma Estados Unidos cada vez que julga a política de outros países. Mas, aplica o mesmo para ele?
“…. Todas as pessoas equivocadas estão na prisão e todas as pessoas equivocadas estão fora da prisão, todas as pessoas equivocadas estão no poder e todas as pessoas equivocadas estão fora do poder”, escreveu o historiados Howard Zinn, afirmando que isso persiste porque “nosso problema é a obediência civil” ante tanta injustiça. Diante disso, argumentou, às vezes se requer a desobediência civil justamente para obrigar o poder a prestar contas e com isso defender essa essência da democracia.
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